Ultima atualização em 7 de Fevereiro de 2020 às 07:51
Microscópio e jaleco branco não são itens essenciais para produção de conhecimento científico. Um exemplo disso é o projeto de extensão Incubadora de Empreendimentos Solidários, do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Só para se ter uma ideia: entre novembro de 2018 e fevereiro de 2019, enquanto as atividades do projeto estavam sob a condução dos professores Luiz Feijão e Elen Pessoa, dois bolsistas defenderam suas monografias no curso de Ciências Econômicas, utilizando como objeto de pesquisa a feira de agricultura familiar, um dos principais resultados práticos do projeto. Mas também há artigos publicados em periódicos e premiados. É o caso da monografia “A Feira da Agricultura Familiar da Ufopa no contexto do comércio justo e solidário”, trabalho de conclusão de curso, no âmbito do curso de Ciências Econômicas, que recebeu prêmio do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá, em 2019.
O projeto – De acordo com o que que prevê o projeto, a Incubadora de Empreendimentos Solidários, implantada em 2013, “tem a função de intermediar a construção da autogestão dos empreendimentos econômicos solidários constituídos por agricultores familiares”. Para as atividades de extensão, objetiva fomentar a autogestão de empreendimentos econômicos solidários, em especial aqueles que fazem parte da incubadora, além de manter e expandir as atividades da feira da agricultura familiar, que é um dos principais resultados desta iniciativa.
Parceria Ensino e Extensão – Em 2019, professores da disciplina de Fundamentos da Administração elaboraram um programa de reestruturação da feira cujo objetivo foi propor “uma reorganização da feira, uma melhoria da apresentação visual, blusas para os feirantes, confecção de crachás e um pequeno cartaz para identificar a origem dos produtos. Melhoramos também a comunicação da feira, criando páginas nas redes sociais, e também com a propaganda volante, que no dia da feira fica rodando aqui na vizinhança, divulgando. Isso resultou em toda a estruturação da feira nessa parceria de ensino e extensão”, esclareceu a atual coordenadora do projeto, Profa. Dra. Giselle Alves Silva (ICS).
Entre os meses de setembro e outubro de 2019 foram realizadas reuniões com a equipe da Emater para fortalecer a parceria. O objetivo é uma colaboração mútua no levantamento e sistematização dos dados da feira do orgânico da Emater, parceria para publicações científicas e apoio em cursos sobre Economia Solidária. “Eles querem trabalhar a capacitação no campo da gestão para fortalecer os princípios da economia solidária, para que eles (produtores) entendam que são incorporados dentro de um processo de uma economia solidária a preço justo, orgânica, que valorize as ações cooperativas”, explicou a Profa. Giselle.
Feira da Agricultura Familiar (FAF) – Criada em 2017 e idealizada pelo então coordenador do projeto, Prof. Luiz Feijão, a FAF é realizada desde então, uma vez por semana, às quintas-feiras, em Santarém, na Unidade Amazônia da Ufopa, e atrai, além de pesquisadores da graduação e da pós-graduação, consumidores internos e externos.
Em setembro de 2019, alunos do curso de Ciências Econômicas (2018), sob a orientação da professora Giselle Alves Silva, iniciaram a implementação de uma série de atividades para reorganizar a FAF.
Diagnóstico realizado em setembro de 2019, por alunos do curso de Economia, mostrou que atualmente participam da feira 11 produtores, vinculados a seis organizações, entre associações, cooperativas e sindicatos; dois são produtores independentes. Entre os produtos comercializados, estão frutas, hortaliças, produtos processados, tais como bolos e tortas, galinha caipira, polpa de frutas, derivados da mandioca e peças de artesanato.
Para se ter uma ideia da importância econômica da FAF: esse mesmo levantamento concluiu que, num período de três meses (novembro a fevereiro de 2019), foram movimentados R$ 31.348,11 – o que pode parecer pouco, mas representa muito para os agricultores e agricultoras familiares.
Com a experiência de quem expõe desde o início do projeto, dona Maria Edileusa de Sousa Feitosa, que integra a Associação das Mulheres Trabalhadoras de Belterra (Amabela), diz que para ela a FAF é uma importante fonte de renda. “A feira me ajuda muito; eu trago meus produtos para vender aqui porque necessito de uma renda para quitar minhas despesas, e com o dinheiro daqui eu consigo pagar água, luz e outras despesas. Foi uma boa oportunidade, não só para mim, mas para todas as mulheres da Amabela que vendem seus produtos aqui”, comemora.
“A feira é muito significativa, tanto para os produtores quanto para nós servidores e alunos, porque podemos ter acesso a produtos sem agrotóxico, com qualidade”, afirmam Cris Nogueira e Claudiane Freitas, servidoras lotadas na Coordenação de Contratos e Convênios (CCC). A feira também recebe consumidores externos; é o caso das amigas Míriam de Sousa e Jorlene Guarany, que foram atraídas pela qualidade e pelo preço dos produtos. “São produtos fresquinhos, sem agrotóxicos e com preços bastantes acessíveis”, afirmam.
“O objetivo da feira é fornecer um espaço para comercialização dos produtores da região de Santarém. Temos aqui expositores que vêm da região de várzea, do Lago Grande, da reserva extrativista Tapajós Arapiuns, de Mojuí dos Campos, de Belterra, de todo o entorno”, esclarece a vice-coordenadora da incubadora, Profa. Dra. Zilda Santos. Ela ressalta ainda os resultados acadêmicos: “Como um projeto de extensão, tem um viés para a sociedade; mas também em um retorno interno para a academia, contribuindo para a formação de alunos. Nós tivemos vários alunos ao longo desses anos, trabalhando com a economia solidária, que produziram diversos artigos publicados e monografias, sendo uma premiada pelo Conselho Regional de Economia”. E ela finaliza: “É um projeto que caminha desde 2013 com muitos resultados, e ainda tem fôlego para muitos anos, pois os produtores necessitam dessa assessoria e desse suporte que a universidade pode fornecer. A gente espera bons resultados agora em 2020”.
Produção científica – A produção de monografias e a publicação de artigos em publicações científicas são indícios importantes da qualidade da produção de conhecimento. No âmbito deste projeto já foram defendidas duas monografias oriundas dos cursos de Ciências Econômicas (ICS). A aluna Deyse Cristina Coelho da Silva defendeu o trabalho “A Feira da Agricultura Familiar da Ufopa no contexto do comércio justo e solidário”. Entre os resultados do trabalho está o perfil dos frequentadores: internamente a feira atende ao público de servidores e discentes, além do público externo. A pesquisa apresentada no trabalho mostra que 53% dos consumidores são servidores da Ufopa, 4% são discentes e 43% são público externo. Romário de Jesus Galúcio defendeu a monografia “Autogestão nos empreendimentos econômicos solidários: estudo da prática contábil na Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra”. Os dois trabalhos foram orientados pelo professor Dr. Luiz Feijão (ICS).
Perspectivas para 2020 – Ainda neste ano a FAF deve ocupar um espaço na Unidade Tapajós da Ufopa, no bairro Salé. A organização e padronização dos produtores continuará. Está prevista ainda a retomada das ações de estímulo a autogestão e organização de empreendimentos econômicos solidários, uma pesquisa com os consumidores, a ampliação das ações de propaganda e divulgação da FAF e a publicação de um artigo sobre os resultados do processo de fortalecimento e organização da feira de agricultura familiar.
“No âmbito da promoção de vendas, está em andamento a elaboração de um curso de capacitação para o atendimento, orientações sobre o uso da máquina de cartão de débito e crédito, e a criação de um programa de fidelidade”, preconiza o projeto, que prevê também a implementação da divulgação junto aos públicos internos – o que está sendo feito em parceria com a Coordenação de Comunicação.
Lenne Santos – Comunicação Ufopa
5/2/2020