Ultima atualização em 14 de Janeiro de 2019 às 11:18
O trabalho é pioneiro na Amazônia por mostrar cientificamente a eficácia do produto na cura de inflamações.
Agora está comprovado cientificamente que o óleo de priprioca (óleo essencial da espécie Cyperus articulatus L., OECA) exerce atividade anti-inflamatória. O produto já vinha sendo usado há anos como medicina tradicional para curar doenças como malária, enxaqueca e outras, mas sem nenhum estudo sobre suas propriedades para a cura de inflamação de diversas naturezas. A pesquisa foi realizada ao longo de dois anos pela farmacêutica mestra Jorlana Catrine Corrêa e foi tema de sua dissertação de mestrado em Biociências, defendida na Ufopa.
Todo o trabalho foi feito de forma criteriosa na modalidade in vitro, no Laboratório de Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenado pela Profa. Dra. Leda Quércia, em parceria com a Ufopa.
Na pesquisa, Jorlana ressalta que não há nenhum trabalho científico sobre a atividade anti-inflamatória do óleo essencial da Cyperus articulatus L., “o que torna este estudo pioneiro no aspecto e cria base para futuros estudos dessa espécie que se mostrou uma potente fonte para o desenvolvimento de novos agentes anti-inflamatórios”, ressalta a farmacêutica.
A pesquisa - Jorlana explicou que a primeira etapa realizada antes do início dos ensaios in vitro foi o processo de extração para obter o óleo essencial, o qual foi realizado pelo método de hidrodestilação (processo de destilação a vapor), cujo valor de rendimento resultou em um percentual de 0,7%. Esse resultado mostra ser coerente ao descrito na literatura, uma vez que se aproxima à faixa de rendimento obtido por Zoghbi (pesquisadora e médica libanesa), cujos valores foram de 0,9 a 1,6%, utilizando a mesma metodologia de extração.
Os óleos essenciais são misturas complexas encontradas, principalmente, em plantas aromáticas, e são regidos pelo tipo e quantidade de seus constituintes químicos, que em geral são terpenos, compostos oxigenados e isoprenóides. Na análise da composição química do OECA, foi identificado um total de 40 compostos, tendo como constituintes majoritários monoterpenos, sesquiterpenos e cetonas sesquiterpênicas.
A inflamação é uma resposta de defesa a estímulos agressivos que envolvem uma série de alterações bioquímicas, fisiológicas e imunológicas, às quais o organismo recorre para localizar, inativar e destruir o agente agressor, além de promover a cicatrização e reparação do tecido danificado.
A coleta do material que serviu para os estudos científicos iniciou-se na comunidade de Tabocal, localizada a 24 quilômetros de Santarém através da BR-163 (Santarém-Cuiabá).
Conclusão - A partir dos ensaios realizados em laboratório, concluiu-se que o tratamento de macrófagos (células de grandes dimensões do tecido conjuntivo) com o OECA é capaz de reduzir de maneira significativa os parâmetros inflamatórios in vitro como a produção de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-1β), síntese do óxido nítrico e produção do eicosanoide PGE2, o que pode estar relacionado com a composição química do óleo essencial da espécie estudada.
Embora não se tenha conhecimento de outros trabalhos envolvendo a atividade anti-inflamatória do óleo essencial de Cyperus articulatus L., o resultado assemelha-se ao de outros autores que avaliaram espécies do gênero Cyperus e evidenciaram a supressão de PGE2 em modelo in vitro com macrófagos RAW 264.7 estimulados com LPS. Exemplo disso é o ácido fulgídico, composto isolado dos rizomas de Cyperus rotundus, o qual reduziu de maneira significativa a produção de PGE2, em células RAW 264.7, pela supressão da transcrição de COX-2 (SHIN et al., 2015).
Para a pesquisadora, o interesse pela pesquisa iniciou-se a partir de um contato com o professor do Instituto de Saúde Coletiva (Isco) da Ufopa, Dr. Waldiney Pires, que contribuiu com a indicação da linha de pesquisa. “O interesse pela planta causou curiosidade, por ela já ser utilizada para atividade anti-inflamatória pela população, como medicina tradicional, mas até o momento não havia comprovação científica de que existia essa propriedade”.
Para o orientador do trabalho, professor Waldiney Pires, os resultados foram surpreendentes: “Fiquei muito feliz com o desempenho da Jorlana. A forma como ela encarou o desafio, após um primeiro contato, e as buscas incessantes pelos estudos deram uma soma positiva a um trabalho que é feito em benefício de toda uma população”. A coorientadora do trabalho foi a professora Dra. Grazielle Ribeiro Góes, também da Ufopa.
A priprioca:
O cultivo, a comercialização e o uso da priprioca pelas empresas de perfumaria já são realizados há mais de 30 anos. A priprioca já existia como o principal ingrediente dos banhos de cheiro. Com o tempo, a utilização da raiz tornou-se importante fonte de renda para famílias de produtores rurais e feirantes do estado do Pará. Com o avanço da indústria de cosméticos e fármacos, a priprioca é muito importante para o sustento de inúmeras famílias em diversas localidades paraenses, como Ilha de Cotijuba, distrito de Belém, Santo Antônio do Tauá e Acará.
É embaixo da terra que se desenvolve a parte mais cobiçada da priprioca: os tubérculos, que apresentam estruturas subterrâneas com aroma agradável, que chama a atenção não só da população, mas também de cientistas e de grandes empresas de cosméticos, como a Natura.
Atualmente, a cobiça da indústria nacional de fragrâncias pela priprioca existe em função do óleo essencial desse vegetal, extraído, principalmente, do tubérculo.
Priprioca ou piripirioca (Cyperus articulatus) é uma erva da família ciperácea, natural da Amazônia. Parente do junco e do papiro, suas raízes liberam uma fragrância leve, amadeirada e picante com notas florais.
A raiz da priprioca é a parte que serve para a gastronomia. Dela, pode-se extrair um álcool ou um óleo. Combina com derivados do leite, carnes em geral, fígado e salame, mas ainda não é muito utilizada na indústria alimentícia.
Acesse aqui a pesquisa: Avaliação in vitro da atividade anti-inflamatória do óleo essencial de Cyperus articulatus L. em macrófagos.
Albanira Coelho – Comunicação/Ufopa
14/01/2019