Ultima atualização em 10 de Novembro de 2021 às 18:46
Em 2021, a partir de pesquisas feitas no Centro de Documentação Histórica do Baixo Amazonas (CDHBA), o então aluno da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Joanderson Mesquita, defendeu seu trabalho de conclusão de curso (TCC) no curso de História. Intitulado Liebold & Cia.: os rastros da suástica na Amazônia, o estudo partiu do uso da suástica nazista como marca de ferrar gado em Santarém (PA) para investigar a imigração alemã para a região.
Através dos autos criminais de furto de gado pertencentes ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ-PA) e custodiados pela Ufopa em Santarém, Mesquita detectou que a firma Liebold & Cia. marcou o gado de sua propriedade com o sinal da suástica. Os documentos registram, com data de janeiro de 1938, um furto de gado pertencente à firma constituída por dois sócios: Artur Johannes Liebold, alemão, e Pedro da Silva Motta, brasileiro.
Segundo os documentos, Francisco Machado Freire mandou roubar uma cabeça de gado marcada com o emblema nazista e vendeu o animal para Antônio José Fernandes, proprietário da charqueada Cravo Roxo, pelo valor de 220$000 (duzentos e vinte mil réis). Ao término da negociação, foram surpreendidos pela notícia de que o boi tinha sido abatido no matadouro municipal de Santarém por Valeriano Motta da Silva, magarefe (espécie de açougueiro da época) de Freire. Depois de abatido o boi, a carne dele foi levada para ser vendida no mercado municipal de Santarém.
Nos autos, a acusação consegue incriminar Francisco Machado Freire através do exame de corpo de delito feito no couro do boi, já que a empresa Liebold & Cia. usou o símbolo da suástica para atestar o pertencimento do animal à companhia. Ou seja, o sinal nazista era mesmo a marca oficial da firma, que reconheceu publicamente sua utilização.
A pesquisa não conseguiu provas contundentes acerca do envolvimento pessoal de Arthur Johannes Liebold com a Alemanha nazista nem da companhia com o governo alemão de Adolf Hitler. “Não foi possível indicar que Liebold tinha vinculação com a seção do partido nazista estabelecida no Pará em 1938, mas sabemos que houve filiados à seção do Partido na cidade de Santarém”, esclarece Mesquita, que atualmente é mestrando na Universidade Federal do Pará (UFPA). Sobre a seção do Partido Nazista do Pará, foi constatado que existiam 27 filiados ao partido no estado. Os militantes estavam divididos entre as cidades de Belém, Santarém, Maracanã, Breves e Prata.
A professora Lorena Lopes, orientadora do trabalho de TCC de Mesquita, entende que “mais que dar uma resposta definitiva sobre o proprietário da Liebold & Cia., a pesquisa tem o mérito de descobrir um documento precioso da região”. Para a docente, descobertas como essta não se dão ao acaso, mas no trabalho de arquivo. “Neste caso, vemos por um lado a riqueza documental do Centro de Documentação Histórica do Baixo Amazonas, e, por outro, vemos como nascem as novas perguntas que fazemos para o passado, tido, muitas vezes erroneamente, como conhecido”, completa Lorena.
Comunicação/Ufopa, com informações e imagens de Joanderson Mesquita
10/11/2021