Ultima atualização em 4 de Outubro de 2019 às 17:42
Um professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) está desenvolvendo um estudo pioneiro na região sobre a bioinvasão provocada pela água de lastro descarregada por navios mercantes na área do porto de Santarém, localizado no rio Tapajós. A bioinvasão ou invasão biológica é registrada quando uma espécie se estabelece fora de seu ambiente natural.
Segundo o docente Ezequias Procópio Brito, há pouca informação acerca da transferência e introdução de espécies exóticas nos rios da bacia Amazônica. “A maioria dos estudos sobre água de lastro e bioinvasão é conduzida em regiões costeiras, onde se tem muita movimentação de embarcação devido à grande quantidade de portos e terminais de uso privado”, esclarece. Em Santarém, o pesquisador desenvolve seu estudo na área de influência direta do porto do município.
A água de lastro de navios mercantes é o principal vetor de transferência de espécies exóticas entre diferentes ecossistemas no mundo. A introdução de organismos em hábitats fora de seus limites naturais pode causar danos à saúde humana, perda da biodiversidade e prejuízos às atividades econômicas.
Os navios engajados na navegação internacional bombeiam água de baías, estuários e rios onde estão fundeados para o interior dos tanques de lastro e descartam essa água no porto de destino. Juntamente com a água de lastro, levam consigo milhares de microrganismos, vegetais e animais. Se esses organismos forem capazes de sobreviver durante a viagem e se houver condições ambientais adequadas no ambiente receptor, essas espécies podem se estabelecer e se tornar pragas no novo ecossistema. Atualmente, as espécies exóticas invasoras são reconhecidas como uma das principais causas diretas de perda da biodiversidade global e das alterações no funcionamento de ecossistemas.
Em Santarém, o professor e sua equipe coletam, desde 2016, organismos de diferentes grupos taxonômicos, com o objetivo de identificar as espécies nativas, exóticas e criptogênicas (cujo registro biogeográfico é desconhecido) nessa área. A qualidade física e química da água na área de estudo também vem sendo monitorada, assim como o risco de introdução de espécies exóticas por meio da água de lastro. O trabalho faz parte da tese de doutorado do docente, que está sendo desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental da Universidade Federal do Pará (PPBA/UFPA).
Os resultados da pesquisa fornecerão subsídios para a elaboração de um plano de gerenciamento da água de lastro para portos amazônicos, com o objetivo de evitar ou minimizar o transporte e introdução de espécies invasoras e patogênicas, conforme recomenda a Convenção Internacional para Controle e Gerenciamento da Água de Lastro e Sedimentos de Navios (Convenção BWM).
“Já temos resultados surpreendentes, que mostram a necessidade de estabelecer um programa de monitoramento biótico e abiótico de longo prazo na área de estudo”, reforça Brito. De acordo com o docente, estudos anteriores já registraram a presença do bivalve asiático Corbicula fluminea na bacia do rio Tapajós. “Em outras regiões invadidas, essa espécie, que também é conhecida como berbigão-asiático, tem causado danos ecológicos e econômicos em grande escala. Para a nossa região, ainda não sabemos se ele tem causado algum tipo de problema. O que sabemos é que ele já se estabeleceu aqui”, ressalta o professor. Os resultados do estudo devem ser divulgados oficialmente em março de 2020, na conclusão da tese de doutorado do pesquisador.
Renata Dantas - Comunicação/Ufopa
4/10/2019