Ultima atualização em 7 de Maio de 2021 às 15:17
Criado a partir de pesquisas do LAE, equipamento dará segurança às atividades presenciais da Universidade
“O coronavírus está mais presente no ar do que nas superfícies”. A afirmação consta no boletim nº 373, produzido diariamente por alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a orientação de professores da instituição, publicado no dia 4 de maio.
Em menos de um ano, os pesquisadores do Instituto de Engenharia e Geociências (IEG) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) desenvolveram um equipamento que desinfecta ambientes com até 60 metros quadrados, o que equivale ao tamanho de uma sala de aula localizada na Unidade Tapajós da Ufopa. Com uma vida útil de pelo menos 11 mil horas, a lâmpada UV-C-TUV é a base deste equipamento, chamado carinhosamente de “LAE”, que está sendo produzido com recursos do Programa de Ações Emergenciais da Ufopa (PAEM), que apoia ações de combate à Covid-19 no âmbito da instituição.
Um dos responsáveis pela fabricação é o físico e professor Dr. Manoel Maria Bezerra Neto (IEG). Ele explica o funcionamento do equipamento, que, depois da elaboração do protótipo em junho de 2020, e de passar por testes biológicos, entrou na fase de produção: “O sistema utiliza a propriedade da lâmpada germicida. É uma lâmpada com um comprimento de onda em torno de 254 nm [nm = nanômetro, que é uma unidade de medida que equivale a 1 bilionésimo de 1 metro]. Essa lâmpada possui a propriedade de matar, ou mesmo inativar micro-organismos como vírus, bactérias, fungos. Nós adaptamos essa tecnologia para fazer a desinfecção de ar em ambientes fechados”.
Prof. Dr. Manoel Neto (IEG) explica o funcionamento do equipamento.
Foto: Lenne Santos, 23/04/2021.
O equipamento funciona a partir do sistema de exaustor de ar. “O exaustor vai forçar o ar a passar por dentro desse sistema e a lâmpada germicida vai fazer o trabalho de matar e inativar o vírus do coronavírus ou qualquer outro micro-organismo como bactéria, fungos. Então ele vai ser útil mesmo para uma época pós-covid".
Com isso, o equipamento garante uma probabilidade menor de infecção, afirma o Prof. Neto: “Não garantimos que a pessoa que estiver lá dentro, com um sistema desse, não vá ser infectada, mas garantimos que o vírus irá ficar circulando por um tempo menor, o que diminui a carga viral do ambiente.” Ele alerta para as regras de ouro dos cuidados para evitar a Covid-19: lavagem das mãos, uso de máscara, limpeza de superfícies, etc.
Testes biológicos – A Prof. Dra. Katrine Rabelo da Silva (Isco) foi responsável pelos testes biológicos do aparelho. Ela explica que os primeiros experimentos foram feitos ainda no ano passado, quando a equipe elaborou dois protótipos. “Depois de submeter o ar a esse tratamento com o equipamento, eu avaliei a qualidade microbiológica do ar, expondo placas de Petri abertas nesse ambiente; o que tinha de particulado no ar ia naturalmente se depositando no chão. Como as placas estavam no chão, também na mesma altura, o que era particulado ia sendo coletado e ficava sob a superfície do meio de cultura que estava dentro das plaquinhas. Essas placas eu levei para o laboratório, deixei em condições de incubação. Assim como, antes do tratamento do ar, eu fiz o mesmo procedimento. Coloquei essas placas para coletar o que tinha de suspensão no ar e eu esperava que crescessem bactérias e fungos, sim. Esse foi o meu controle; e depois de incubação eu observei e fiz a contagem de micro-organismos totais (fungos e bactérias). O que eu observei foi que: o tratamento do ar dentro dessa câmara com a irradiação ultravioleta reduzia significativamente o número de micro-organismos, especialmente fungos, que estavam circulando ali no ambiente”.
Apesar de não ter passado por testes com vírus, de acordo com o professor Manoel Neto, é possível afirmar que o equipamento é eficiente no combate a esses micro-organismos, pois a dosagem para inocular vírus é bem menor que para fungos e bactérias. "Vários artigos e pesquisas mostram que a dosagem [de UV] para vírus é menor, então nós acreditamos que estamos matando vírus também".
Aparelho sendo testado em sala de aula na Unidade Tapajós.
Foto: Katrine Rabelo.
Conclusão do experimento – “Como conclusão a gente obteve que o equipamento era muito interessante para reduzir a quantidade de fungos anemófilos (que ficam circulando no ar); são esses que causam infecções hospitalares em ambientes de terapia intensiva, por exemplo”. A partir dos parâmetros e dos dados estatísticos avaliados, a pesquisadora constatou: “Sim, o equipamento promovia a desinfecção do ar”.
Aluna Amanda (Isco) auxiliando na coleta do
material biológico. Foto: divulgação.
A locutora Sabrina Tainá conheceu o equipamento durante uma gravação em estúdio recentemente e diz que “se apaixonou pelo equipamento”, fez questão de tirar uma foto junto dele. “Me encantei e me emocionei de ver o LAE, pois enquanto estamos diante de um governo que não investe em pesquisa, não investe na ciência, a Ufopa mostra que vale a pena sim investir em pesquisa, e o LAE é a prova disso. É o resultado do empenho, do estudo [dos pesquisadores] materializado. Isso é extremamente gratificante e até emocionante”, diz ela.
Sabrina Tainá ficou "apaixonada" pelo LAE.
Foto: Lenne Santos, 30/04/2021.
Campi fora de sede – Já foram produzidos e distribuídos para os campi fora de sede 12 equipamentos. O diretor do Campus Itaituba e presidente do Fórum de Diretores de Campi Fora de Sede da Ufopa, Prof. Dr. Luamim Tapajós, veio a Santarém ajudar na logística de distribuição: “Sabemos que é bem complicado, nossa região é bem grande e as distâncias são grandes, o transporte é feito por terra, por água, então vim pessoalmente para agilizar e fazer com que esse material chegue logo nos campi da Ufopa”.
Prof. Luamim Tapajós recebe equipamento
para envio a unidades multicampi. Foto: Lenne Santos, 23/04/2021.
Tapajós ressalta também os benefícios do equipamento na pandemia e na pós-pandemia: “É importante neste momento de pandemia para eliminar os vírus; porém, quando passar a pandemia, vai continuar sendo importante para a gente manter o ambiente saudável, porque aqui na região amazônica [a umidade] favorece o aparecimento de bactérias e fungos”.
Manual de instruções – Junto com os equipamentos segue um manual de instruções para o uso adequado e cuidados que devem ser adotados pelos usuários. A Profa. Dra. Paula Renata (IEG) explica como foi a ideia de criação deste manual: “Partiu dos alunos a ideia de mandar, a exemplo dos produtos que você compra no mercado, manual de instrução, utilização. O manual é autoexplicativo, bem fácil de utilizar. Porque não é uma energia para manipular sem [cuidados]. A gente não pode abrir o equipamento enquanto ele estiver funcionando, por exemplo, porque essa luz pode causar prejuízo à pele e à visão”.
Participação dos Bolsistas – Os alunos também sugeriram incluir adesivos ilustrativos na parte externa do desinfectador, entre outras melhorias. O LAE conta com três bolsistas, entre eles a universitária do 3º semestre do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BI/IEG) Gabriele do Santos Bezerra. “São conteúdos novos para mim”, disse ela, e fez questão de ressaltar o quanto teve de estudar, mesmo sem estar frequentando uma sala de aula: “Foi como uma aula, tínhamos a atenção dos professores, podíamos perguntar, tínhamos nossas reuniões, recebemos todo o material para estudo: livros, artigos. Interessante fazer essa junção da teoria com a prática. Estou aprendendo e gostando muito”.
Kelvin Klein Lopes, 7º do semestre do curso de Engenharia Física (IEG), está no projeto desde o início, durante a criação do protótipo: “No começo era tudo muito amador, por exemplo, o suporte da lâmpada era de madeira, bem rústico, e a gente foi trabalhando para fazer melhorias no projeto e sugerindo a alteração no uso de alguns materiais”.
No 9º semestre do curso de Engenharia Física (IEG), Luiz Henrique Dias Braga sugeriu melhorias no equipamento: “Algumas melhorias que pensamos foram na questão da automação. Queremos deixar ele cada vez mais automático para as pessoas não terem tanto trabalho ao manusear, mudanças nos fios que vão deixar o equipamento mais funcional e mais prático”. Ele disse ainda que pôde aplicar, no laboratório, todo o conhecimento adquirido ao longo dos semestres.
Aerossóis – O Prof. Dr. Unaí Tupinambás (UFMG), um dos coordenadores do boletim citado no início deste texto, alerta: “É consenso que a principal via de transmissão do coronavírus é pela via dos aerossóis, ou gotículas de saliva desprendidas durante a fala, o que favorece a disseminação do vírus em ambientes fechados. Essa disseminação pode ser até 20 vezes maior em ambientes fechados, quando comparados a ambientes abertos”. Isso reafirma a importância do equipamento de desinfecção do ar desenvolvido no âmbito do LAE do IEG.
Lenne Santos – Comunicação/Ufopa
06/05/2021