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Ultima atualização em 7 de Janeiro de 2021 às 11:51

Salários na Ufopa: é preciso qualificar o debate

23/07/2013 - BLOG JESO - Neutra

8 de Junho de 2020 às 16:35


Salários na Ufopa: é preciso qualificar o debate


A divulgação dos salários - como parte integrante do princípio da transparência - pode gerar comparações equivocadas, despertar "desejos" em sequestradores e assaltantes, e em toda espécie de interesseiros.
Mas, ainda assim, pode ser compreendida em sua essência como válida e importante em uma sociedade tão desigual quanto a nossa e em um Estado que mantém privilégios para muitos que pouco realizam em prol do coletivo mas que sabem muito bem "absorver" para usufruto pessoal, todas as vantagens e benefícios que muitas vezes são obtidos pela luta dos que efetivamente trabalham.
Essa discussão sobre os ganhos da "cúpula" da UFOPA, se ficar centrada no plano pessoal, é inócua. Para que se possa formular um juízo de valor é sempre importante termos parâmetros comparativos e informações com maiores riquezas de detalhes.
Por exemplo: comparados com outros professores, eles estão "bamburrando" (como se dizia para garimpeiros no auge da fartura do ouro em nossa região!). Mas se comparados com algumas outras categorias profissionais cuja exigência de qualificação é bem menor, daria até para achar que são de "baixa renda".
Parece piada, mas é a dura realidade deste Brasil injusto e desigual.
A imprensa vez por outra nos possibilita o conhecimento destas situações, de salários discrepantes, especialmente no âmbito das casas legislativas. E estou me referindo apenas ao serviço público. Mesmo no campo da educação, os ganhos dos dirigentes da UFOPA são bem menores do que recebem dirigentes proprietários das "empresas" escolares privadas. Saindo do campo da educação, então, fica ainda mais difícil prosseguir com esta análise sem cair no ridículo ou ser injusto.
Algumas observações pontuais:
1) O salário do reitor.
Hoje, sendo o Prof. Dr. José Seixas Lourenço, chega a este valor por conta da soma de muitas vantagens que já acumulou ao longo da carreira, quando ainda estava na ativa. Se assumir a reitoria outro com salário já alto, acrescido da gratificação do cargo, terá um valor sempre muito acima de alguém que esteja em início de carreira e que é fruto dos tempos de achatamento salarial dos servidores públicos federais e de desmanche das universidades públicas.
2) O salário dos pró-reitores, diretores de institutos e outros cargos do "segundo ou terceiro escalão" da "cúpula".
Se aplica a mesma regra do item anterior, modificada apenas pelos valores das gratificações que passam a ser menores, em função do grau hierárquico (prefiro usar esta expressão do que dizer responsabilidade ou importância, e muito menos ainda, considerar que seja em função do serviço que presta à sociedade).
O ganho deve ser compatível com a função, mas em contrapartida o compromisso e a
responsabilidade devem justificá-lo. A divulgação, dentro do princípio da transparência, como escrevi no início, não constitui problema, e acredito que para quem analisar comparativamente e com parâmetros mais abrangentes não vai dizer que sejam salários tão absurdos.
Mas eles nos provocam a pensar se poderiam ser melhor aplicados, afinal, se são pagos pelo orçamento da UFOPA ou não, pouca importa, pois são pagos com recursos públicos, oriundos dos impostos que afetam a todos, especialmente aos mais pobres.
Não vou ser hipócrita em dizer que recusaria ou devolveria receber o que eles recebem, até porque, pela trajetória que construí, sei muito bem o que é ir escalando esta montanha íngreme até poder ganhar um pouco melhor, sendo professor. Também não faço coro com as vozes e as palavras que partem para desdém, inveja ou ofensas pessoais.
Felizmente são comentários isolados. Tenho percebido que a maioria concorda com o blog ao divulgar os valores que os dirigentes recebem, com o intuito de informar e quem sabe gerar uma reflexão qualificada. Mas muitos ficam impactados ao compararem aqueles salários com o de outras pessoas que, inclusive na própria UFOPA, também fizeram, fazem e continuarão a fazer, às vezes silenciosamente, muito mais. E recebem muito menos.
Agora, daí a dizer que todos os que questionam a gestão da UFOPA estão de olho nestes ganhos, dizer que as "brigas" internas são explicadas pelos salários que estes dirigentes recebem, é simplesmente querer desqualificar o debate, e colocar tanto os problemas como as pessoas na mesma condição.
Considero isso inadmissível. A UFOPA não é seus dirigentes. E seus dirigentes não expressam a totalidade dos professores, técnicos e estudantes. Como escreveu Celso Viáfora e cantou Nilson Chaves em um outro contexto (talvez similar em alguns aspectos) ". os velhos de Brasília, não podem ser eternos" (Título da música: Não Vou Sair).
E também como escreveu e cantou Chico Buarque "Vai passar nesta avenida um samba popular. [até que possamos dizer tapajonicamente] Meu Deus, vem olhar. Vem ver de perto uma cidade a cantar. A evolução da liberdade. Até o dia clarear".
Em suma, não questionar se os colegas cujos nomes figuram na lista merecem ou não os ganhos apresentados, pois são fruto de suas trajetórias. Mas posso e devo questionar os rumos que estão dando a esta Universidade que foi tão sonhada e tão aguardada. E como não estão fazendo um trabalho por caridade ou filantropia, podem sim ser questionados nos resultados.
E, caso quem os paga em última instância (os contribuintes, personificados na comunidade universitária da UFOPA) entendam que outros podem produzir, com estes ganhos, melhores resultados sociais, é legítimo que se proponha alternância no poder. Até porque, como nos ensina Marx: "O critério de verdade é a prática". Só será possível saber se outro grupo, se outro projeto, será diferente, será melhor, se outro grupo, se outro projeto, tiver a oportunidade de ser colocado à prova.
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* Santareno, é professor doutor da UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará).

 

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