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Escolas quilombolas têm material didático diferenciado

28/06/2013O- ESTADO DO TAPAJÓS - Positiva

8 de Junho de 2020 às 13:29


Escolas quilombolas têm material didático diferenciado
Silvia Vieira
Professores de comunidades quilombolas da região oeste do Pará participaram nesta quinta-feira, 27, no campus Rondon da UFOPA, do curso "Educação Escolar Quilombola: construindo materiais didáticos", Profa. Dra. Georgina Helena Lima Nunes, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O curso foi promovido pelo Programa de Extensão "Africanidades em sala de aula", coordenado pelo professor Luiz Fernando de França.
O programa "Africanidades" desenvlvido pela UFOPA em 10 comunidades quilombolas de Santarém em parceria com a Coordenação de Educação e Diversidade Étnico-Racial da SEMED, tem como objetivos: Implementação da Lei 10.639/2003; Formação de professores da Educação Básica; e, elaboração de materiais didáticos.
De acordo com a professora Georgina, o material didático faz parte do processo de ensino-aprendizagem e historicamente tem contribuído para reforçar estereótipos da população negra. Porém, o material didático construído para as escolas quilombolas, tem a função social de romper com estereótipos e imaginários racistas e pode produzir uma população socialmente justa e relações sociais mais harmônicas
"A gente tem essa ideia do mito da democracia racial numa sociedade em que a questão da cor de pele, do fenótipo, tem produzido secularmente hierarquias em relação a quem pode, quem não pode, quem tem acesso, quem não tem acesso, quem merece ser respeitado e quem não merece ser respeitado. Ou seja, o material didático dialogado com a experiência viva, concreta e positiva das comunidades quilombolas e das populações negras em geral, vem ser um reforço para uma educação que se pretende, uma educação emancipatória e que colabore com a formação humana como um todo", avalia professora Georgina.
Segundo ela, existe um desvio em relação à função social da escola, que seria apenas formar para o mercado de trabalho. "O mercado de trabalho é formado por pessoas e pessoas que se relacionam cotidianamente e que têm que ter como produto da sociedade, não apenas boas cadeiras, televisão, casas, mas uma possibilidade de viver de forma mais respeitosa", pondera.
Georgina relata que os materiais produzidos também mexem um pouco com aquilo que a sociedade entende como material didático de uma escola, porque se tem a ideia que o material didático é um livro sequenciado, com textos e narrativas. No entanto, há várias possibilidades de pensar material didático, desde livros, cartilhas, folhetos, pastas e objetos concretos.
Especificidades x Integração
Construir uma educação voltada para a cultura das comunidades quilombolas tem sido o grande desafio do Programa de Extensão "Africanidades".
Segundo o professor Luiz Fernando de França, o programa tem buscado fazer a inserção da cultura da comunidade no material didático e não, necessariamente, tirar os conteúdos universais.
Luiz Fernando ressalta que o desafio da universidade é integrar aquilo que é universal, aquilo que é o conteúdo que todo estudante em uma educação básica tem que obter e ao mesmo tempo
alinhar esse conhecimento universal que é estudado em todas as escolas com a especificidade,
que no caso, é a cultura afro-amazônica, afro-brasileira, das comunidades quilombolas. "Isso é um
desafio, não está formatado, não está pronto. Ano passado, o governo lançou as diretrizes
nacionais para a educação quilombola. Então é um desafio da universidade contribuir nesse
processo. E a questão é essa mesma: Em que medida nós temos que construir um material didático
que integre o conhecimento universal com a cultura local? Em que medida nós não podemos
substituir uma narrativa tradicional da Europa, por exemplo, como Chapeuzinho vermelho, por uma
história construída e contada nas comunidades quilombolas e trabalhar com os mesmo
conteúdos?", questiona.
O coordenador do programa de extensão "Africanidades", afirma que ao trabalhar conteúdos
específicos, não está se privando o aluno do conhecimento universal, mas sim, inserindo numa
perspectiva de ação afirmativa e de reparação à cultura afro-amazônica dentro do currículo.

 

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