Criado em 5 de Junho de 2020 às 22:01
24/2/2015-Diário Online (Diário do Pará)-Positiva
5 de Junho de 2020 às 22:01
Velho conhecido do mundo dos cosméticos, estando presente em diversas fórmulas de produtos brasileiros e internacionais, o murumuru ganhou maior notoriedade depois que a grife americana Tom Ford, lançou um batom formulado com a semente da fruta.
Depois foi a vez do uso da semente e do óleo do fruto em tratamentos capilares,afinal, assim como Argan, o óleo de Murumuru é um poderoso hidratante que promete fazer maravilhas nos cabelos, graças ao seu alto poder de nutrição, e controle do frizz.
Agora o fruto é também aliado da saúde feminina, pois é a base alguns de géis ginecológicos, criados a partir da manteiga do murumuru (Astrocaryum murumuru), a qual funciona como um emoliente natural, que atua na retenção da umidade da pele e contribui na hidratação e recuperação de sua elasticidade natural.
Os géis foram criados a partir de uma pequisa que tem o objetivo de desenvolver um produto que permaneça mais tempo no local de ação com menos aplicações. Até então, não havia nenhum estudo voltado para a produção de medicamentos com o murumuru.
Segundo a professora Kariane Nunes, do Instituto de Saúde Coletiva (Isco) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), a tecnologia farmacêutica aliada à pesquisa pode corroborar com o desenvolvimento de um sistema de liberação novo, mais arrojado, que consiga permanecer no local de ação por mais tempo, diminuindo a frequência de utilização de cremes.
Os cremes tradicionais vendidos atualmente são rapidamente degradados pelo fluxo vaginal, que é bastante intenso. Por isso, a mulher precisa aplicá-los todos os dias, o que é incômodo e faz com que muitas desistam no meio do tratamento.
CLIMA CONTRIBUI PARA PROLIFERAÇÃO DE DOENÇAS
É comum entre as mulheres em idade reprodutiva a alta incidência de inflamações e infecções de cunho ginecológico. Na região Amazônica, esse índice é ainda maior por causa do clima quente e úmido, que favorece a proliferação de doenças, e foi a partir daí que a professora Kariane resolveu desenvolver um gel voltado para medicamentos, mais eficaz no tratamento de vaginites e vaginoses, utilizando um sistema de liberação controlada feito com a cera do murumuru, por permanecer mais tempo no organismo.
Ainda de acordo com Kariane, os fármacos nunca são consumidos em sua forma original porque são muito potentes e podem aumentar o risco de reações adversas. Por isso, é necessário desenvolver formas farmacêuticas que não sejam tão agressivas ao corpo.
COMO IRÁ FUNCIONAR O GEL GINECOLÓGICO
-Ao invés de ser usado de sete a dez dias seguidos, como ocorre com os cremes tradicionais, a ideia é que o gel seja aplicado apenas duas ou três vezes;
-Uma vez no canal vaginal, o gel entrará em contato com a água presente no fluido vaginal e se transformará em um cristal líquido biodegradável;
-O gel permanecerá mais tempo no canal vaginal, liberando aos poucos o fármaco que irá tratar a doença;
-A terapia será mais eficaz, com menor frequência de uso e reações adversas.
DIFERENCIAIS
Trata-se de uma matéria-prima barata, feita a partir do caroço da fruta, e atóxica, que não causa nenhum tipo de irritação nas mucosas.
No projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto (USP Ribeirão Preto), o objetivo é desenvolver géis líquidos cristalinos que consigam acomodar o fármaco e liberá-lo gradativamente no organismo.
Segundo a professora, no mercado, existem lipídeos autoemulsionantes que, na presença de água, se transformam em cristais líquidos. É possível adquirir essas gorduras por um preço um pouco alto. Ela destacou ainda que durante as pesquisas que realizou no pós-doutoramento, descobriu que temos uma matéria-prima na Amazônia, especificamente no Pará, que tem propriedades idênticas a esses lipídios.
PRODUÇÃO COMECIAL
No momento, o sistema de liberação controlada feito com o murumuru está sendo submetido a análises físico-químicas. Se for bem-sucedido, passará por outras avaliações para ser produzido comercialmente.
A fase seguinte será tentar estabelecer parcerias com as comunidades locais para a criação de uma cadeia produtiva que siga da planta aos medicamentos na região.
A professora destacou que não só a instituição será beneficiada, mas também aquela comunidade que está plantando a matéria-prima: "Isso nos torna, de fato, um país que um dia pode pensar em desenvolvimento tecnológico, que saia daquela escala de produtor de commodities. Vamos produzir a matéria-prima e também o produto acabado”, conclui Kariane.