Criado em 7 de Fevereiro de 2020 às 16:45
29/1/2015-G1 Santarém e Região-Positiva
7 de Fevereiro de 2020 às 16:45
g1.globo.com
Pesquisa detecta coliformes fecais no rio Tapajós em Alter do Chão
29/01/2015 12h37 - Atualizado em 29/01/2015 14h30
Análise foi feita no período de fevereiro a dezembro de 2014.
Três pontos foram pesquisados por uma acadêmica da Ufopa.
Kedma AraújoDo G1 Santarém
Orla da vila no período de cheia do rio Tapajós (Foto: Zé Rodrigues/TV Tapajós)Orla da vila no período de cheia do rio Tapajós (Foto: Zé Rodrigues/TV Tapajós)
Uma pesquisa acadêmica da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém, oeste do Pará, feita no período de fevereiro a dezembro de 2014, apontou a existência de coliformes fecais em três pontos do rio Tapajós, na vila balneária de Alter do Chão. Segundo o estudo, que está em fase de conclusão, o mês de março foi o que teve maior quantidade de bactérias encontradas. No ponto que fica em frente a orla da vila (veja infográfico abaixo), a cada 100 mililitros de água foram detectados 2 mil coliformes.
infográfico fezes alter do chão (Foto: Andressa Azevedo/G1)
O estudo de qualidade microbiológica para classificação da balneabilidade como própria ou imprópria foi realizado pela estudante do 7º semestre do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, Ana Queloene Corrêa, sob a orientação da professora Graciene Fernandes. A presença de coliformes significa que há condição de acontecer contaminação por doenças naquele ambiente.
Além da praia em frente a orla de Alter do Chão, a pesquisa analisou a água da praia do Cajueiro e da Ilha do Amor, que tiveram números inferiores. Na Praia do Cajueiro, o mês em que mais foram encontradas bactérias foi em abril, com 1.100 por 100 mililitros de água. Na Ilha do Amor, o mês de maio teve maior incidência, com 1.090 coliformes fecais/100 ml.
De acordo com o estudo, apesar do mês de março ter tido um pico que preocupa, a água ainda está propícia para a recreação. “Ainda não está naquele limite para se dizer que não pode mais entrar na água, mas já é bastante preocupante, porque está no nível de satisfatória, entre própria e imprópria”, destacou a acadêmica.
Número mais provável de coliformes fecais em 100 mililitros de água Mês Orla da vila Cajueiro Ilha do Amor
FEV 1.100 180 500
MAR 2.000 930 680
ABR 680 1.100 180
MAIO 545 650 1.090
JUN 190 190 190
JUL 680 190 190
AGO 1.050 800 290
SET 325 425 290
OUT 190 325 190
NOV 325 690 190
DEZ 700 190 540
O artigo 20 da Resolução 274/2000 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) , classifica as águas destinadas à recreação de contato primário nas categorias próprias e impróprias. As águas próprias são classificadas como excelente, muito boa e satisfatória. Um dos fatores que podem tornar a água imprópria para a recreação é quando no trecho avaliado, o valor obtido na última amostragem for superior a 2.500 coliformes fecais. “As coletas eram realizadas mensalmente, assim como manda a resolução. Sempre coletamos nos mesmos locais, só respeitando a margem, então íamos um pouquinho mais a frente dependendo do nível do rio. Como coletamos durante todo um ciclo hidrológico, obedecendo a flutuação do rio, obedecemos a questão de um metro da margem. Assim a gente diminui os fatores de interferência nesses resultados”, explicou a professora.
Graciene explica que as altas temperaturas, crescimento da população, período de festividades, enchente, desmatamento da mata ciliar, despejo de resíduos sólidos e líquidos no rio, além da questão geográfica da praia são alguns dos fatores que contribuem para que o ambiente se torne propício para a proliferação de bactérias.
Além de Alter do Chão, a pesquisa também foi realizada nas praias de Pajuçara e Maracanã. Nesses lugares foram encontrados coliformes fecais dentro dos limites considerados normais para a resolução da Conama e para a legislação ambiental brasileira. “Graças a Deus o poder de diluição do nosso rio é muito grande. Muitos resíduos que são despejados direto no rio, que acaba se transformando em uma fossa, mas que tem um poder de depuração e diluição muito grande. Em Alter do Chão, aconteceu de registrar esse número porque existe toda uma situação ambiental e geográfica que permite isso. No Maracanã, por exemplo, é uma área mais aberta, o rio corre mais, então leva muito mais rápido os resíduos, então é muito mais difícil haver o crescimento microbiano ali”, comentou Graciene.
Ainda não está naquele limite para se dizer que não pode mais entrar na água, mas já é bastante preocupante"
Acadêmica, Ana Queloene Corrêa,
O contato com coliformes fecais pode ocasionar doenças como a hepatite A, febre tifóide, distúrbios gastrointestinais, entre outras.
Casos de hepatite
Neste início de ano, muitas pessoas procuraram o posto de saúde da vila com sintomas de hepatite, o médico acredita que o problema está relacionado, dentre outros fatores, com a infraestrutura da vila e a atracação de algumas embarcações na praia.
De acordo com a Divisão de Vigilância em Saúde (Divisa), até o dia 20 de janeiro deste ano, foram confirmados 11 casos de hepatite A em Santarém, deste total seis são de Alter do Chão. Em 2014, 117 casos da doença foram registrados, mas somente 12 foram na vila balneária.
Nesta semana, a Divisa realizou coleta de amostra em quatro pontos de Alter do Chão para identificar a qualidade da água. O material será encaminhado para Belém e o resultado deve sair em dois dias.
Vista da vila para praia Ilha do Amor (Foto: Zé Rodrigues/TV Tapajós)Vista da vila para praia Ilha do Amor
(Foto: Zé Rodrigues/TV Tapajós)
Saúde
Em nota, a Prefeitura de Santarém informou ao G1 que após reunião na vila balneária de Alter do Chão, com a participação do Conselho Comunitário, Administração Distrital e representantes da Secretaria Municipal de Saúde (Divisa/Semsa), foi definida a execução de um plano com ações integradas por parte do Município, através de suas Secretarias, para sanar os casos de hepatite “A”, recentemente notificados.
Ainda segundo a prefeitura, a Divisão de Vigilância em Saúde (Divisa) e a Unidade de Saúde da Vila de Alter do Chão trabalharão em um plano de contigência, no qual serão executadas as seguintes medidas: imunização contra a hepatite A em crianças menores de 1 ano, palestras educativas à população e a comunidade escolar sobre as formas de transmissão da hepatite A, monitoramento da água para consumo humano em pontos estratégicos de Alter do Chão, coleta de material biológico em indivíduos pertencentes a grupos estratégicos para medição de IGG/HVA (anticorpos anti-HVA), curso de manipulação de alimentos para os profissionais do ramo e afins, distribuição de hipoclorito e orientação para o seu uso nas residências e estabelecimentos comerciais, vistoria em estabelecimentos sujeitos à fiscalização sanitária, captura de animais errantes e proibição dos mesmos no espaço da praia, além de parceria com outras Secretarias, órgãos e instituições públicas e privadas.
Saneamento básico
Ainda em nota, também foi informado ao G1, que através de projetos elaborados pela Prefeitura de Santarém, o Município aprovou via Cosanpa, junto ao Ministério das Cidades, dentro do PAC 2, R$ 148,5 milhões para ampliação do sistema de coleta e tratamento do esgoto sanitário que, somados aos investimentos em execução, deverá expandir significativamente a cobertura na zona urbana da cidade. Alter do Chão deverá ser contemplada com R$ 14,2 milhões para a implantação de sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitário e de mais R$ 13,6 milhões para melhorias no sistema de abastecimento de água.