Ultima atualização em 25 de Julho de 2020 às 23:26
05/09/2015-ICMBio - Ufopa sendo citada
22 de Junho de 2020 às 18:06
No Tapajós, comunidades tradicionais ajudam o ICMBio a proteger a natureza
João Freire
ascomchicomendes@icmbio.gov.br
Belterra, PA (05/09/2015) – Deoclídio Serrão tem setenta anos é agricultor aposentado e está no segundo casamento. Da união atual, ele tem dois filhos: Antônio, de 3 anos e Cledinaldo, de 1 ano. Deoclídio é um autêntico amazônida: nasceu e sempre viveu no Tauari, uma das vinte e cinco comunidades tradicionais situadas dentro da Floresta Nacional do Tapajós, distante cerca de 140 quilômetros de Santarém (PA).
"Meu pai me criou plantando mandioca, para fazer a farinha para a gente comer, vender e comprar algumas coisas para a casa. Meu pai também vivia da seringa, tirando o latéx para vender. Nós eramos oito irmãos", relembra Deoclídio.
Às margens do rio Tapajós, um dos afluentes do rio Amazonas, a Floresta Nacional do Tapajós é uma Unidade de Conservação (UC) de uso sustentável administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Nas comunidades tradicionais vivem cerca de quatro mil ribeirinhos que tiram o sustento da pesca tradicional, do manejo florestal comunitário e da agricultura familiar.
Além dos ribeirinhos, há cerca de quinhentos indígenas divididos em duas aldeias: Bragança-Marituba e Munduruku-Taquara. "Nossa relação é boa com os pareuás [brancos]", afirma o cacique da Aldeia Bragança, Domingos Correia. "Nossa vida depende da natureza e o ICMBio é nosso parceiro para cuidar da floresta", conclui o cacique.
Quando a UC foi criada, em 1974, Deoclídio tinha 28 anos e pensava em ir embora da região. "Na época [antes da criação], tinha muito desmatamento. Lá na frente, o que ia acontecer é que a gente ia ficar num deserto", avalia o agricultor. "Os fazendeiros entravam, tiravam a madeira e ninguém podia falar nada. Hoje nós estamos felizes na comunidade porque não tem mais invasão. Nossa vida melhorou e tem condições para meus filhos ficarem aqui. O ICMBio dá apoio para nós, também", destaca Deoclídio.
Conservação e desenvolvimento
No meio do caminho entre Belém e Manaus, com mais de 500 mil hectares de área, a Floresta Nacional do Tapajós é uma unidade de conservação com bom nível de implementação. As atividades socioeconômicas convivem em harmonia com a conservação da natureza. O manejo florestal sustentável – regulamentado e licenciado – utiliza menos de 5 por cento da área total da unidade e gera cerca de R$ 10 milhões por ano (receita bruta).
Toda a renda gerada pela extração de madeira é da cooperativa formada por moradores de comunidades que existem há mais de trezentos anos na região. "Os recursos são usados para a melhoria de vida deles. O lucro gerado pela atividade de manejo é utilizado para custear a próxima safra e o restante é dividido entre os cooperados e associações comunitárias", destaca o chefe da UC, José Risonei.
"Muitos acreditam, de maneira equivocada, que a floresta em pé é um obstáculo para o desenvolvimento. É justamente o contrário. Em grande parte dos locais intensamente desmatados na Amazônia não houve avanços socioeconômicos, sobretudo para a população local", pontua o presidente do ICMBio, Claudio Maretti.
"A Floresta Nacional do Tapajós é a mais utilizada do bioma amazônico. Ao mesmo tempo, tem um dos melhores índices de proteção de toda Amazônia. Há um cinturão de uso protegendo um núcleo preservado, intocável que representa cerca de trinta por cento da área total da unidade", explica Risonei.
"O bom nível de implentação da Floresta está associado à organização social, aos investimentos realizados e às parcerias que estão vigentes, avalia o diretor de Ações Socioambientais do ICMBio, Leonardo Messias. "A gestão da área é compartilhada com os moradores das comunidades e eles se tornam responsáveis por proteger a natureza. Eles sabem que o futuro das comunidades depende da conservação da floresta", destaca Messias.
Pesquisa orienta atividades
Até 2013, a cooperativa que realizava a extração legal das árvores vendia apenas as toras. Os galhos ficavam na floresta, representando um grande desperdício de matéria-prima e dificultando a regeneração natural.
Como resultado de uma pesquisa realizada em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), os galhos passaram a ser aproveitados para a fabricação de móveis. A atividade gera 40 empregos e, até o fim da safra atual, cerca de R$ 1 milhão, com a venda de cadeiras, mesas, portas e objetos de decoração. "O excedente desta madeira legal e certificada é vendido", explica o chefe da Floresta Nacional do Tapajós, José Risonei.
"Com mais atividade econômica regulamentada, a população tradicional movimenta mais recursos, melhora a qualidade de vida das famílias beneficiárias fazendo com que permaneçam na floresta. Isso tudo contribui para a conservação da natureza", conclui o diretor Messias.
O turismo de base comunitária é uma das atividades econômicas em desenvolvimento na UC. Os 160 quilômetros de praias de areias branquinhas e águas quentes e o fácil acesso – de carro ou de barco – fazem da Floresta Nacional do Tapajós uma das unidades de conservação mais visitadas na região norte do Brasil.
"A experiência da Floresta Nacional do Tapajós mostra que o desenvolvimento vem através da conservação e do uso sustentável, com a participação da sociedade", afirma o presidente Maretti.
Cultura local
Passados mais de quarenta anos, desde a criação da Unidade de Conservação, a conservação da natureza é defendida pelos que lá vivem e foi incorporada às manifestações culturais locais. "Sim, floresta amiga, Floresta do Tapajós. Queremos preservação, protegei para a nova geração", canta Erivane Laranjeira, compositora da música Floresta do Tapajós, que encerra dizendo: "Eu não aceito queimadas, e nem devastação".
A música foi feita para o Festival do Mapurá – tipo de piranha do rio Tapajós – evento cultural realizado desde o ano 2000, no Tauari. "Nossas composições falam da importância de preservar a floresta, relembram nossas histórias e valorizam as belezas da região", explica a compositora que também nasceu no Tauari e hoje mora em Santarém, onde estuda jornalismo. Outras comunidades tradicionais da região também realizam festivais, manifestações culturais ligadas à realidade de cada localidade.
Comunicação ICMBio
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