Pesquisadores da UFOPA encontram bactéria em mandioca e queijo coalho com potencial para inibir intoxicação alimentar
Lançar no mercado um produto que contenha bactérias probióticas oriundas de matérias-primas encontradas na Amazônia e que possam produzir melhoria na saúde do consumidor é a finalidade do grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Para ( Ufopa), que já está há mais de um ano realizando experimentos a partir da fermentação da mandioca e do queijo coalho produzidos artesanalmente na região.
Após a caracterização, dependendo do que for descoberto durante a fase de experimento, pode surgir um produto também na linha de cosméticos, como um creme para combater infecção vaginal, um sabonete que sirva para eliminar micro-organismos que causam doenças dermatológicas, etc. “Depois de todo o processo de estudos e experimentos, pretendemos desenvolver o produto. Já pensamos em alimentos como queijo, iogurte ou polpas de fruta, cuja comercialização será feita com valor agregado, pela garantia de que a pessoa vai consumir algo que trará benefícios à saúde, mas há os cosméticos, muito valiosos no mercado e com potencial elevado no combate a doenças", diz o professor doutor em biotecnologia Thalis Ferreira dos Santos, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef/Ufopa).
“Os próximos passos serão investigar a melhor forma de inserir essas bactérias nesse produto. O essencial já conseguimos, que foi detectar a existência de lactobacilos no processo de fermentação da mandioca e no queijo coalho”, afirma o professor Thalis, que desenvolve as pesquisas com a participação de quatro alunos de iniciação científica do Ibef: Thayná Moura, Lucas Alvarenga, André Lucas e Larissa Sampaio, e em parceria com professores que trabalham com biotecnologia microbiana na Ufopa, a exemplo da professora Katrine Escher, do Instituto de Saúde Coletiva (Isco).
Os primeiros resultados apontam para a existência da bactéria chamada Lactobacillus, capaz de inibir o crescimento de bactérias patogênicas, ou seja, as que causam doenças como infecção intestinal e intoxicação por alimentos, principalmente em crianças e idosos, os mais afetados por doenças gastrointestinais.
De acordo o professor Thalis as bactérias isoladas da mandioca e do queijo artesanal produzem substâncias que matam micro-organismos que causam uma variedade de doenças. “Estamos prosseguindo nesses estudos para identificar essa substância e os mecanismos pelos quais elas matam os patógenos Escherichia coli e Salmonella enterica, que causam determinadas doenças, como a infecção intestinal, podendo ser bastante grave em grupos vulneráveis, como recém-nascidos e idosos. Também, como atuo no curso de Biotecnologia, no final pretendemos desenvolver e lançar um produto probiótico no mercado.
A salmonela, por exemplo, é uma das bactérias patogênicas, e os seus principais sintomas são diarreia, dores abdominais, náuseas, vômito e febre. Ela é responsável por altas taxas de mortalidade principalmente em países em desenvolvimento. A ingestão de um alimento contendo probióticos a exemplo dos Lactobacillus pode inibir os graves sintomas da salmonelose.
Ainda de acordo com o professor Thalis a pesquisa envolve bactérias lácteas e são elas que serão usadas como probióticos (produtos alimentares que contém micro-organismos vivos, cuja ingestão traz benefícios à saúde). “Nosso foco foi pesquisar as bactérias benéficas em produtos da Amazônia. O primeiro momento foi propor o isolamento desses probióticos e a identificação. A partir daí, descobrir se elas podem inibir o crescimento de bactérias que causam doenças, se podem ser adicionadas em um alimento, como queijo, suco ou mesmo numa apresentação farmacêutica como uma cápsula, e se causaria um tipo de melhora na saúde das pessoas”.
Fases da pesquisa – Para alcançar o objetivo, a pesquisa foi dividida em três fases: a) isolamento das bactérias da mandioca e dos queijos artesanais; b) identificação dos potenciais dessas bactérias, no caso, se elas realmente inibem o crescimento de patógenos; e c) desenvolvimento e lançamento de um produto probiótico contendo as bactérias isoladas. As duas últimas fases envolvem pesquisas para assertividade do produto ideal, busca de parceiros e aceitação no mercado consumidor.
O professor Thalis explica que chegar à fase final deve levar aproximadamente mais um ano e meio. “Ainda precisamos estabelecer parcerias e realizar pesquisa no mercado para verificar a possibilidade de saída e qual de fato será esse produto. Sabemos que pessoas que se alimentam com produtos que contém probióticos melhoram sua saúde em vários aspectos, incluindo psicológicos, como depressão, já comprovado cientificamente. Pretendemos fazer estudos mais aprofundados a respeito e saber, inclusive, quais os outros potenciais que essas bactérias apresentam além da inibição de bactérias patogênicas".
Origem da pesquisa – A ideia de pesquisar sobre bactérias probióticas surgiu quando o professor Thalis Ferreira ainda estudava mestrado e doutorado, na Bahia. “Ao chegar na região amazônica, a curiosidade aumentou. Não conhecíamos nada relacionado a produtos daqui da região e nem que tipos de bactérias poderiam ser encontrados para este fim. Descobrir o que os micro-organismos isolados aqui têm de diferente dos já descobertos em outros lugares é nosso principal desafio, já que na região amazônica tem poucos trabalhos a respeito”.
Ele ressaltou que as pesquisas realizadas para descobrir bactérias probióticas a partir de produtos típicos da Amazônia são únicas na Ufopa, mas já há outros grupos de estudiosos na região utilizando o açaí, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
Com informações de Albanira Coelho – Comunicação/Ufopa