No rio Tapajós foram pesquisados 11 lagos, localizados em comunidades da Floresta Nacional do Tapajós, Reserva Extrativista, Alter do Chão e Ponta de Pedras, além do lago do Juá, próximo ao aeroporto de Santarém. No rio Amazonas, foram quatro lagos: Água Preta, Costa do Aritapera, Ilha Grande e Mamauru. Na região do Baixo Amazonas, a pesquisa envolveu os municípios de Santarém, Belterra, Óbidos e Monte Alegre.
O resultado da pesquisa foi divulgado em artigo científico publicado em revista internacional Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems, que publica estudos internacionais relacionados à conservação de ecossistemas aquáticos marinhos e de água doce.
As universidades brasileiras que participaram do estudo são, em sua grande maioria, públicas, sendo duas do estado do Pará, Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Universidade Federal do Pará (UFPA); duas do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); e uma de São Paulo, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A universidade estrangeira participante foi a Texas A&M University, instituição pública sediada na cidade de College Station, no estado do Texas, nos Estados Unidos.
Pela Ufopa, participou da pesquisa o professor Gustavo Hallwass, do campus de Oriximiná, que coordena o Laboratório de Ecologia Humana, Peixes, Pesca e Conservação (LEHPPEC). Ele foi um dos idealizadores do trabalho, junto com Friedrich W. Keppeler, professor da universidade norte-americana, e com o coordenador da pesquisa, o professor Renato A. M. Silvano, da UFRGS.
A pesquisa reuniu dados de projetos de pesquisa realizados entre os anos 2000 e 2013 e teve o objetivo de verificar os efeitos da pressão pesqueira, oriunda da demanda de peixes dos grandes centros populacionais da região amazônica.
Gustavo Hallwass, que trabalha há mais de 10 anos com a pesca na região amazônica, afirmou que para quem conhece a região amazônica e trabalha com peixes e pesca, é clara a pressão sobre estoques pesqueiros, principalmente próximo a grandes centros urbanos. Assim, a pesquisa investigou e descobriu a influência da proximidade e do tamanho populacional das cidades amazônicas sobre diversas características ecológicas analisadas nas comunidades de peixes.
Resultados da pesquisa
Os autores da pesquisa demonstraram que, quanto mais distante das cidades, maiores e mais pesados são os peixes, indicando forte pressão pesqueira e diminuição dos estoques próximos aos centros urbanos. Outro resultado importante relacionou a distância entre o lago e o canal principal do rio à captura por unidade de esforço (CPUE), isto é, quanto mais longe do canal do rio, maior é a CPUE das capturas, indicando a acessibilidade como um fator que influencia na pressão pesqueira e na redução dos estoques.
Os pesquisadores argumentam que os peixes fornecem diversos serviços ecossistêmicos, desde dispersão de sementes e ciclagem de nutrientes até provisão de alimento e renda para a população ribeirinha que depende desse recurso natural.
Alertam para a necessidade de medidas de manejo e conservação dos recursos pesqueiros, principalmente próximo a grandes centros urbanos, com o objetivo de garantir a segurança alimentar e econômica de populações humanas, bem como manter as populações de peixes e todo o ecossistema aquático e terrestre adjacente.
No artigo, os autores sugerem a possibilidade de estabelecimento de áreas protegidas próximo aos grandes centros, o apoio a programas de comanejo pesqueiro, onde as regras de gestão dos recursos são oriundas dos próprios pescadores, e uma combinação de medidas tradicionais de gestão pesqueira, visando garantir o respeito às regras e manter as necessidades financeiras dos pescadores.
Além disso, os autores argumentam que apenas com o apoio e entendimento dos pescadores e o respeito à atividade do pescador, aliados ao monitoramento e fiscalização, é possível garantir a manutenção e conservação dos estoques pesqueiros e os serviços ecossistêmicos associados.