Ultima atualização em 19 de Julho de 2019 às 11:35
8/4/2019- Folha do Progresso- Positivo
19 de Julho de 2019 às 11:35
Castanheira de 10 anos de idade com moradores de Tapagem que auxiliaram no manejo do plantio experimental — (Foto: Ricardo Scoles/Arquivo pessoal).
Desde 2007, Ricardo Scoles, professor da Ufopa, pesquisa o plantio, a ecologia e o manejo de castanhais nas unidades de conservação da região.
Pesquisas desenvolvidas pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em unidades de conservação da região, revelaram que castanheira é uma planta que pode ser usada para a restauração de áreas degradadas, porque responde bem a uma situação de alta luminosidade, apresentando bom desempenho.
As pesquisas começaram em 2017, com Ricardo Scoles, professor do Centro de Formação Interdisciplinar (CFI) da Ufopa, que pesquisa o plantio, a ecologia e o manejo de castanhais. O trabalho envolve tanto o estudo e o monitoramento de plantios experimentais de castanheira em diferentes condições ambientais na FLONAST, quanto a investigação da dinâmica populacional e da regeneração da castanheira nativa nos castanhais da REBIO e seu entorno.
Segundo a Ufopa, a pesquisa começou durante o doutorado de Scoles no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, que teve como objetivo avaliar o impacto do extrativismo na regeneração da castanheira. “Durante o doutorado, planejamos uma plantação experimental para ver o desempenho da castanheira jovem em três ambientes diferentes: roçado, capoeira e floresta”, lembra.
Com o consentimento da comunidade, foram plantadas 48 mudas de castanheiras, com mais de 80 centímetros de altura, em cada ambiente. “Plantamos em roçados abandonados, em uma área de capoeira e em um castanhal próximo, de acesso por igarapé. Com a ajuda da comunidade, também acompanhamos, ano após ano, a plantação nesses três ambientes”, explicou Scoles.
No plantio, foram utilizadas 144 mudas doadas pelo projeto do Banco de Germoplasma (INPA/MRN), coordenado pelo pesquisador Rogério Gríbel, do INPA, e financiado pela Mineração Rio do Norte (MRN). Situada em Porto Trombetas, a empresa possui um viveiro próprio, com matrizes oriundas de diferentes regiões da Amazônia. As mudas são utilizadas para o reflorestamento de áreas desmatadas pela extração da bauxita. “Utilizamos mudas selecionadas, que vieram de Trombetas, Amapá e Rondônia. As de Trombetas foram as que tiveram um desempenho melhor, seguramente porque estavam mais adaptadas ao clima local”.
A experiência foi realizada na Floresta Nacional de Saracá-Taquera (FLONAST) que possui 441.152 hectares de área. Localizada entre os municípios de Terra Santa, Oriximiná e Faro, na fronteira com o estado do Amazonas, a FLONAST é adjacente à Reserva Biológica do Rio Trombetas. O acesso principal é feito pelo distrito de Porto Trombetas, na margem esquerda do rio Trombetas, e pelos municípios de Faro e Terra Santa, pelo rio Nhamundá.
Resultados
Após uma década de monitoramento das mudas plantadas, o pesquisador observou que a mortalidade foi maior nos ambientes de floresta e de capoeira, respectivamente. Segundo Scoles, na floresta apenas oito mudas sobreviveram em dez anos. “Por ser mais sombreada, é onde tivemos a maior taxa de mortalidade e baixíssimo desempenho. As árvores são muito baixas e ainda não chegaram na parte alta da floresta”, explica.
Na capoeira, o desempenho das mudas vem aumentando nos últimos anos, devido ao manejo e limpeza das plantas, reduzindo assim a concorrência com outras espécies.
Já no ambiente de roçado, em virtude da alta luminosidade da área, as mudas apresentaram baixa taxa de mortalidade e um excelente desempenho, com crescimento de 1,50 metros de altura por ano. “A castanheira é uma espécie que, quando jovem, apresenta comportamento heliófito, ou seja, que responde bem à luz do sol, com alto desempenho. Por isso, após dez anos, já observamos, nas áreas de roçado, florações em algumas mudas, que já são árvores, e frutificação”, comemora Scoles.
Ouriços na copa de castanheira plantada na Floresta Nacional do de Saracá-Taquera — Foto: Nicolas Zaslavsky/Acervo da pesquisa
“Esse plantio experimental dá algumas leituras interessantes. Primeiramente, que as mudas apresentam um desempenho maior quando tem luz. Por isso, a castanheira é uma planta que pode ser usada para a restauração de áreas degradadas, porque responde bem a uma situação de alta luminosidade, apresentando bom desempenho”, explicou o pesquisador.
Segundo Scoles, outras pesquisas também apontam que a castanheira é uma espécie com estreita relação com humanos, porque é uma planta que se beneficia de pequenas perturbações, como clareiras e aberturas, que os humanos, historicamente, sempre fizeram para plantar ou manejar a floresta. “O ser humano também pode dispersar as sementes que coleta. São dispersores involuntários, que podem promover a proliferação de castanheiras em áreas abertas e longe da planta-mãe”, explica.
Esses fatores, aliados ao caráter heliófito da castanheira, pode ajudar a entender por que, em áreas próximas das comunidades tradicionais, os castanhais são mais jovens ou mais adensados do que em áreas mais afastadas, pois haveria uma influência humana na distribuição e na ocorrência das castanheiras. “Isso poderia explicar o surgimento de florestas com predomínio de castanheiras em áreas com histórico de uso por parte de comunidades tradicionais ou povos da floresta. Em alguns casos, pode haver uma correlação espacial entre áreas com histórico de uso por parte de comunidades tradicionais e indígenas em castanhais”.
Atualmente a pesquisa em Oriximiná conta com a participação dos cientistas Rogério Gríbel Neto, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Susan Aragón, pós-doutora do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA) da Ufopa, que está estudando a relação de espaçamento e plantio de castanheiras em áreas de terra-preta.
O projeto tem a parceria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e financiamento do Programa de Áreas Protegidas (ARPA) da Fundação Brasileira da Biodiversidade (FUNBIO), da Fundação Amazônica Defesa da Biosfera (FDB) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Plantio
Segundo o pesquisador, nas áreas abertas de roçado, cerca de 90% das mudas sobreviveram. “Dos quatro roçados onde realizamos o plantio experimental, dois já produziram frutos. Os outros ainda não apresentaram frutos porque foram queimados, mais de uma vez, por imprudência de um morador que tinha um roçado próximo. Mesmo assim, essas plantas tiveram um bom desempenho, melhor do que as plantadas em áreas da capoeira e da floresta”, afirma.
Ainda de acordo com Scoles, as mudas que queimaram rebrotaram com força e sobreviveram. Estariam com um desempenho muito alto se não tivessem sido queimadas. Mesmo assim, estão altas, com mais de dez metros de altura, mas como foram queimadas várias vezes ainda não produziram frutos.
Scoles disse que, quando a castanheira é cortada ou queimada, ela rebrota com diferentes caules, formando uma touceira. “Há um rebrotamento, mas não com um único caule, e nós associamos isso ao fogo”, explica. “Quando a gente vê castanhais próximos a comunidades, com três ou quatro caules, ou bifurcações, supomos que provavelmente são castanheiras que sofreram algum episódio de fogo”.
Outro resultado apontado pelo estudo indica que a sobrevivência das mudas é maior quando elas são plantadas com mais de 80 centímetros de altura, quando ainda não possuem altura maior do que essa, a semente é atrativa aos roedores e outros mamíferos.
Por: G1 Santarém — PA