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Criado em 14 de Agosto de 2019 às 11:39

Estudo de plantas amazônicas propõe nova forma de analisar a biodiversidade

13/08/2019 - G1 Santarém - Positivo

14 de Agosto de 2019 às 11:39

Estudo realizado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) inova ao propor uma abordagem mais detalhada para se compreender a biodiversidade. A pesquisa é fruto da dissertação de mestrado da colombiana María Alejandra Buitrago Aristizábal, que ingressou na primeira turma do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBEES), sob orientação do professor Thiago André.

A pesquisadora estudou o gênero Ischnosiphon, mais conhecido como arumã. Típica da Amazônia, a planta tem importância cultural e econômica e é usada pelos indígenas e ribeirinhos para a confecção de cestos, peneiras e outros produtos artesanais.

Com uma abordagem multivariada, a pesquisa propõe um método inovador, que lança um olhar – ainda mais – minucioso sobre a biodiversidade. “Uma coisa muito importante do trabalho é que é baseado em indivíduos. Um botânico tradicional pega todas as exsicatas [amostras de plantas de coleções científicas], vê várias folhas e faz uma média. Mas acontece que aí está se ignorando a variabilidade do indivíduo”, explica María Alejandra.

No arumã, por exemplo, detectou-se que a literatura científica não consegue traduzir a grande variabilidade das plantas que são encontradas na natureza.

“Sempre temos essa mania de classificar as coisas, de dar nome às coisas. Mas quando fazemos isso, muitas vezes, não reconhecemos que as coisas que estamos categorizando talvez sejam diferentes. Para uma planta é mais complexo porque tem que levar em conta toda a variação morfológica, o habitat, a distribuição geográfica... antes de você dar nomes para os organismos, precisamos ter muitas evidências de como eles realmente são. E esses nomes não só representam um indivíduo, mas todo um contínuo que acontece na natureza”, comentou.

Como ocorre em uma ampla faixa territorial, que vai da Nicarágua até o sul da Bolívia e do Brasil, o gênero do arumã comporta uma série de espécies que podem ser muito diferentes entre si. Dentro de cada espécie, cada indivíduo também apresenta características próprias, que podem enganar até os especialistas à primeira vista. Por isso, segundo o estudo, o tamanho ou a forma da planta, representados por uma ou poucas medidas, não são considerados indicadores suficientes da variação encontrada na natureza.

Uma das hipóteses era de que a planta apresenta mudanças devido à localização geográfica e às condições climáticas, como nível de chuva e temperatura. Em seis espécies detectou-se essa relação, mas é possível que outros fatores sejam a chave para explicar porque as plantas mudam tanto.

Para chegar a essa conclusão, foi preciso um longo período de análise de dados. O teste foi feito com 244 indivíduos de 22 espécies de arumã, coletados em trabalhos de campo na Floresta Nacional do Tapajós, no Oeste do Pará; na Flona do Amapá; e na Reserva Uatumã, no estado do Amazonas. Primeiro, cada material coletado foi comparado ao acervo dos herbários do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Após as coletas, passaram por um espectrofotômetro, equipamento que permite capturar o espectro de absorção de luz de cada folha, algo como uma “impressão digital” de cada planta.

“As pessoas acham que diferentes formas são diferentes coisas. É por isso que é muito importante estudar os indivíduos, ter muitas evidências e fazer as análises corretas para fazer uma interpretação muito mais real da natureza”, reforçou a pesquisadora.

 

Qualificação

A dissertação foi apresentada dia 31 de julho, durante o seminário público dos concluintes do PPGBEES, em Santarém. María Alejandra irá continuar a pesquisa no doutorado em Biologia Vegetal, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde foi aprovada em 1º lugar na mais recente seleção do programa. Ela irá fazer a análise genética para identificar processos evolutivos dos arumãs.

 

 María Alejandra durante a apresentação da dissertação de mestrado — Foto: Comunicação Ufopa/Divulgação

María Alejandra durante a apresentação da dissertação de mestrado — Foto: Comunicação Ufopa/Divulgação

André, que também é coordenador do PPGBEES, ressalta que a aprovação da estudante em um dos programas de pós-graduação mais bem avaliados do país pela Capes demonstra o nível de qualidade dos discentes da Ufopa: “É muito legal uma egressa da primeira turma já ter revelado o sucesso da formação de mestres em Biodiversidade da Ufopa. Isso mostra que os nossos programas estão preparando alunos de excelente nível para seguirem suas carreiras acadêmicas e profissionais”.

 

Estrangeiros na pós-graduação

Alejandra afirma que no PPGBEES pôde ter uma formação ampla, que permitiu estreitar sua relação com a natureza: “A experiência foi melhor do que esperava. Aprendi muito, tenho outra visão do mundo. [...] Eu cheguei aqui e foi um choque cultural. Nunca vivi numa cidade na qual as pessoas tivessem uma relação tão próxima com os rios e as florestas e achei muito legal porque ficamos muito desconectados da natureza nas grandes cidades. Agora não imagino a minha vida longe das florestas, dos rios, desses ecossistemas tão diversos”.

A estudante, natural da cidade de Manizales, na região dos Andes, decidiu que irá se dedicar a estudar a Amazônia. “Não quero nunca mais ir embora. Eu acho que a Amazônia tem um valor muito importante no mundo inteiro e temos que estudá-la para que as pessoas valorizem e saibam porque é importante preservar”, declara.

Outros dois discentes estrangeiros integram o PPGBEES: o colombiano Juan David Tovar Durán, também da primeira turma do mestrado; e a equatoriana Francesca Angiolani, ingressante pelo Programa de Alianças para a Educação e a Capacitação (Bolsas Brasil - PAEC OEA-GCUB).