Criado em 22 de Agosto de 2019 às 11:58
20/08/2019 - O Liberal - Positivo
22 de Agosto de 2019 às 11:58
A maioria dos 18 alunos são professores indígenas já formados pela Uepa
Dezoito indígenas de diversas etnias do Pará aprovados no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar Indígena (PPGEEI), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), participaram de aula inaugural do primeiro curso de pós-graduação realizado pela Uepa. O curso é realizado em rede com as Universidades Federais do Pará (UFPA), do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e do Oeste do Pará (Ufopa). O evento aconteceu na última terça-feira (20), no auditório Paulo Freire, do Centro de Ciências Sociais e Educação da Uepa, no Telégrafo, em Belém.
A professora Joelma Alencar, coordenadora do Núcleo de Formação Indígena da Uepa, explica que a maioria dos 18 alunos são professores indígenas já formados pela Uepa. E que, ao longo desses dois anos, para facilitar o acesso dos indígenas aos seus deslocamentos às suas aldeias, as aulas serão nos polos de Santarém e Marabá. Em alguns momentos, os grupos vão se encontrar em Belém.
"O foco é que eles se qualifiquem e possam atuar com o ensino nas escolas indígenas. Vamos tentar manter a qualidade na formação para que a gente consiga chegar no doutorado indígena. O curso é em rede, em parcerias, com professores das quatro instituições e também na condução do programa, apesar da preceptora ser a Uepa. Nossa expectativa é a melhor possível e queremos que a rede funcione de forma efetiva dado visibilidade também para o trabalho desenvolvido pelas outras instituições", afirmou a coordenadora.
Uma das estudantes aprovada no mestrado em Educação Escolar Indígena foi Hellen Regina Rocha, 32 anos, que é da etnia Arapiuns, no rio Arapiuns, na região do Tapajós, oeste do Pará. Ela contou um pouco sobre a difícil trajetória que teve até chegar na pós-graduação.
"Consegui me formar em Geografia, mas sentia necessidade de fazer algo voltado para os povos indígenas e fiz Licenciatura Intercultural Indígena pela Uepa. Mas tinha que me ausentar do meu trabalho, pagar substituto, enfim, enfrentei muitas adversidades para estudar. Aí fui em busca de mestrado, mas por morar longe e ser uma candidata de risco, eu sempre era excluída dos processos nas entrevistas. Quando abriu o mestrado em Santarém fiquei muito feliz e abracei a oportunidade", disse a estudante.
Hoje ela é professora horista da Uepa e orientadora de trabalhos de conclusão de curso de estudantes também indígenas. "Realizo um grande sonho como professora na única universidade que funciona na Aldeia de Caruci, no rio Arapiuns. Além disso, faço parte de um projeto de preceptora que apoia os alunos que cursam o Intercultural. Minha expectativa com o mestrado é de aprender mais e levar conhecimento ao meu povo, a todos os povos, ser um canal de orientação e de aprendizagem", diz Hellen Rocha.
Lili Chipaia, indígena da etnia Chipaia, da região do Médio Xingu, em Altamira, oeste do Pará, e secretária da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará destaca a importância da política afirmativa nas universidades públicas. "A Federação tem atuado junto às instituições parceiras na área da educação superior para preencher o maior número de vagas à educação indígenas. Além disso, buscamos sempre comunicar e incentivar as comunidades, apresentar a elaboração das propostas feitas às instituições. Mas o maior problema hoje ainda é a oferta da educação básica. Não tem como falar em educação superior, se não levarmos para dentro das aldeias uma educação qualificada respeitando os modos de fazer e aprender dos povos indígenas", frisa Lili Chipaia.
Joelma Alencar afirma ainda que, para ajudar a manter os indígenas nos estudos, a Uepa buscamos apoio de bolsas, principalmente com os cortes dos recursos na educação feitos pelo governo federal. "Mas temos apoio das secretarias de educação dos municípios e do estado, e dos movimentos indígenas municipais e estaduais, pois a maioria dos mestrandos são professores da rede pública na própria comunidade deles. Além disso, eles têm os mesmos direitos que os demais alunos da Uepa", esclarece.
A aula inaugural foi com o doutor em Antropologia, Gersem Baniwa, que é indígena e pertence à etnia Baniwa, e falou sobre o tema "Educação escolar indígena na Amazônia: percursos e desafios".
Há alguns anos a Uepa participa dos debates e do movimento indígena e, desde 2012, oferta o curso Licenciatura Intercultural Indígena, graduação voltada à formação de professores indígenas, que atuam na educação básica. Em 2016, três turmas foram formadas. Em 2017, ofertou a primeira turma de especialização em Docência em Educação Escolar Indígena. Em 2018, conseguiu aprovar o primeiro mestrado em Educação Escolar Indígena, voltado para atender essa demanda de professores indígenas já formados. Hoje a Uepa soma 290 estudantes indígenas na graduação no Pará.