Ultima atualização em 22 de Julho de 2019 às 16:31
1/7/2019 - Folha Pa- Positivo
9 de Julho de 2019 às 18:26
Bastam alguns segundos para que os segredos comecem a ser revelados. Os trabalhos de professores arqueólogos e universitários da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém, têm avançado para as perguntas que giram em torno de urnas funerárias datadas do século XVI e pertencente a uma civilização antiga sejam respondidas.
Descobertas em uma comunidade no estado do Amazonas, das nove urnas que estão sendo estudadas em Santarém, cinco foram submetidas a exame de tomografia computadorizada para que se descobrisse o que há dentro de cada uma. Desta forma, os ministérios que rondam os artefatos começam a ser revelados.
Os exames de imagens foram uma parceira com uma clínica de diagnósticos, que disponibilizou o equipamento que mapeou cada uma das cinco peças. As demais já tinham sido abertas dentro da universidade e já estão sendo estudadas.
“Com esse procedimento vamos poder ver o que tem dentro das urnas funerárias, se tem material ósseo, material de acompanhamento, mas também vamos ver como foram feitas as urnas e tentar descobrir como foi feito o processo de manufatura”, explicou a responsável pelas peças em Santarém, a professora do curso de arqueologia da Ufopa, Anne Rapp Py-Daniel.
Essa é a primeira vez que peças desse tipo são encontradas e são feitos registros desde a descoberta e retirada de campo até os estudos dentro da universidade. “Queremos saber mais sobre as populações indígenas que fizeram para podermos situar isso culturalmente”, completou Anne.
O professor de arqueologia da Ufopa, Claide de Paula Moraes, também acompanhou o procedimento e enfatizou que o trabalho é bem detalhado. “Os ossos estão frágeis, então esse mapeamento é importante porque direciona para saber onde vamos ter que tomar mais cuidado na hora de analisar o material”.
Scanear as urnas possibilitará ainda que se descubra o que mais há dentro de cada urna além dos ossos, como oferendas, ferramentas, joias e outros materiais.
Instrumento de trabalho diferenciado
Acostumado a trabalhar com pessoas e orientá-las sobre como se comportar dentro do equipamento de tomografia, o técnico em radiografia Dirley Costa se sentiu surpreso e honrado em participar do processo.
“Ter participado dessa experiência arqueológica faz com que eu me sinta grato em poder colaborar com a ciência e ficar na história. Isso é muito importante para que saibamos sobre nossos ancestrais”, ressaltou o profissional responsável em fazer as tomografias.
A arqueóloga Karen Marinho acompanha os trabalhos com as peças desde a descoberta em campo. Para ela, a cada dia a animação para responder às inúmeras perguntas só aumentam.
“Estou gostando bastante de viver essa experiência, de estar trabalhando e estudando as urnas. É uma experiência muito boa. Essa é a minha primeira grande descoberta”, destacou.
Descoberta à exposição
As peças arqueológicas foram encontradas durante escavações feitas em julho do ano passado em uma comunidade rural no Amazonas. Depois de meses sob a guarda e análises do Instituto Mamirauá, na cidade de Tefé, o destino delas foi a Ufopa, em Santarém, onde as investigações em busca do passado e origem dessas urnas continuam.
As noves urnas funerárias pertencem à Tradição Polícroma da Amazônia, conjunto estilístico e cultural de cerâmicas arqueológicas cujos registros mais antigos datam de 1.400 anos e são encontradas das Cordilheiras dos Andes até a boca do rio Amazonas.
No Brasil, essa foi uma das primeiras vezes em que urnas foram desenterradas por especialistas in situ, ou seja, retiradas diretamente do solo, conservando seu contexto original de enterramento.
O transporte dos artefatos foi um desafio à parte para a equipe de arqueólogos do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
O primeiro passo foi conduzir as urnas do sítio arqueológico na comunidade Tauary, de onde foram retiradas, até à sede do instituto, no município amazonense de Tefé, onde permaneceram por alguns meses.
Com autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as urnas começaram a jornada até o estado do Pará no dia 19 de fevereiro.
O objetivo é que depois de estudadas as peças passem a ser expostas. Mas, até lá muito trabalho precisa ser feito.
“Limpeza para retirada dos ossos, do conteúdo das urnas, limpeza das urnas, restauro. Também há pinturas muito exuberantes na parede da cerâmica, e pode ser que ela precise de consolidação, restauração. Todo esse procedimento será feito antes, e depois essas urnas serão expostas”, contou professor Claide.
A ideia inicial é que as peças sejam expostas em Santarém e depois sigam em exposição itinerante até o Instituto Mamirauá.