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Ultima atualização em 9 de Julho de 2019 às 14:29

Santarém se consolida como polo universitário, mas não consegue absorver profissionais formados

18/6/2019-G1 Santarém - Positivo - UFOPA SENDO CITADA

9 de Julho de 2019 às 14:23

Anos dentro da sala de aula em busca de conhecimentos específicos em determinada área para depois concorrer às vagas de emprego no seleto mercado de trabalho. Uma das maiores cidades do Pará, Santarém se consolidou com o passar do tempo como polo universitário do oeste do estado.

A cada entrega do famigerado canudo há sempre uma história de lutas e conquistas de quem conseguiu se graduar. Ter o ensino superior nem sempre é sinônimo de seguir carreira ou de logo entrar no mercado, é um caminho árduo.

O polo universitário santareno é um dos maiores do estado, mas o índice de entrega de diplomas reflete que nem todos que entram na faculdade conseguem chegar até o fim.

G1 fez o levantamento com as cinco principais instituições públicas e privadas de formação superior em Santarém sobre o índice de egressos diplomados desde a fundação e também de janeiro a dezembro de 2018. Apenas uma das instituições não respondeu (Veja a lista)

Quantidade de egressos formados nas principais instituições de Santarém

Instituição Públicas e Privadas Diplomados desde a fundação Formados em 2018
Universidade Federal do Oeste do Pará - Ufopa 5.257 - até junho de 2019 461
Universidade do Estado do Pará - Uepa 1.371 - até 2018 115
Iespes 4.302 - até 2018 388
CEULS/Ulbra 4.746 - até 2018 273
Unama Assessoria informou que não tem autorização para divulgar dados da instituição -------------
Total 15.676 1.301

Atualmente, o município conta com 37 registros de instituições habilitadas pelo Ministério da Educação (MEC) para formação em ensino superior, independente da modalidade de ensino. Quem entra e consegue sair formado tem uma percepção diferente do mercado de trabalho.

Abertura de mercado na faculdade

Batalhadora e destemida são duas palavras de definem a publicitária Taissa Mara Leitão. A jovem conseguiu entrar no mercado de trabalho enquanto ainda era universitária – o que é difícil dependendo da especialidade durante a formação.

Atualmente, trabalhando no departamento de comunicação de uma multinacional graneleira com unidade em Santarém, Taissa foi persistente em conquistar o seu espaço. Não foi rápido e tampouco fácil o início dessa jornada, que contou com três entrevistas profissionais e testes.

 

 

 

“A lição maior é aproveitar as oportunidades e nunca pensar que não estamos preparados, é tudo uma construção. Quando sai da faculdade eu já trabalhava, mas não me sentia preparada. Eu busquei e fui atrás dessa experiência dando a cara à tapa”, disse Taissa.

 

O mercado de trabalho assusta porque muitas vezes o que se vê na faculdade não se aplica da mesma forma no cotidiano e o que se vê no dia a dia muitas vezes não foi mostrado na graduação.

“Na faculdade eu me identificava em uma área, hoje, penso que se eu trabalhasse em uma agência seguiria um caminho muito diferente e talvez fosse algo que eu não me identifico. Os planos mudam o curso com o tempo”, completou.

Em busca de oportunidades

Formada desde 2016, a enfermeira Luana da Costa, de 25 anos, corre atrás em ser absorvida pelo mercado de trabalho local. A busca pela oportunidade é diária, cansativa, mas isso não impede que a jovem deixe de sonhar em exercer sua função e ajudar a população santarena.

 

 

Foram cinco anos investindo recursos altos na faculdade com o desejo de sair da instituição com um emprego garantido, mas até o momento isso não aconteceu nem na esfera pública ou na privada.

 

“Não é que seja difícil, o mercado de trabalho que é escasso. São poucas vagas e as vagas que têm exigem muito, e quem sai da faculdade não tem tanta experiência e vai ficando de lado. Até quem tem experiência muitas vezes não consegue”, enfatizou.

 

Aproveitando a oportunidade de ter um pouco de “tempo livre” na busca por uma vaga no mercado de trabalho, Luana tem feito capacitações.

“Eu terminei uma pós e estou querendo começar outra. Quanto mais conhecimento, melhor. Estou fazendo especialização em áreas que são escassas de profissionais em Santarém para poder ter mais chances”, completou.

Empreendimento fora da área de formação

Poucas vagas e muitos profissionais. O que fazer? Essa pergunta pairou por anos na cabeça da empreendedora Elidete Farias, formada em técnico de enfermagem e Recursos Humanos (RH).

A empreendedora se formou em 2012 em RH e não conseguiu emprego na área, e chegou a trabalhar como gerente em um restaurante. Para ela, o inchaço de profissionais e empresas com núcleo familiar de gestão foram as principais causas para o desemprego.

“Geralmente as pessoas se formam e vão para outras cidades mais carentes de profissionais. Muitos empresários hoje em dia já formam familiares para fazer a gerência dos negócios, daí eles não contratam mais terceiros”, explicou.

 

 

Como é preciso se alimentar e vestir todos os dias, há sete anos Elidete não esperou abrir vagas no mercado e resolveu empreender junto com o marido: montou um negócio no ramo exportação de pescado. A alternativa se deu em meio à falta de oportunidades.

 

“Eu faço a parte administrativa e financeira da empresa, tem o trabalho braçal também. As coisas se somaram. Eu pretendo ficar onde já estou e levar a frente a empresa”.

 

Elidete e o marido, para economizar recursos, montaram uma fábrica de gelo. Desta forma fazem o dinheiro girar apenas no núcleo familiar e as empresas se complementam.

Formação e perspectivas

A Associação Comercial e Empresarial de Santarém (Aces) acompanha o crescimento do município e a formação de mão de obra qualificada. O cenário econômico ainda não é favorável à absorção total pois a cidade ainda não oferece vagas aos profissionais que se formam.

Com mais de 300 mil habitantes, Santarém tem o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado, mas se esse número for dividido pela população o município cai para 33ª posição.

“Temos que mudar o vetor principal da nossa atividade econômica, que ainda é como há 50 anos. O comércio é forte devido Santarém ser polo da região e corresponde a mais de 50% do nosso PIB. Esse setor não gera mão de obra ou absorve profissional qualificado, ele simplesmente quer alguém que saiba vender”, ponderou o presidente da Aces, Roberto Branco.

As perspectivas da associação para essa mudança de cenário é a implantação da área portuária 2 na Área Verde baseada no equilíbrio do tripé social, econômico e ambiental.

“Os portos vão atrair empresas e indústria que viabilizam nosso distrito industrial que tem 220 hectares. Seriam em média 150 empresas que ofertariam cerca de 20 mil empregos diretos. É dessa forma que a mão de obra qualificada formada na cidade fica no município”, completou Roberto.

Enquanto os profissionais não conseguem emprego em Santarém, essa mão de obra é exportada para outras regiões e estados.