Criado em 11 de Julho de 2019 às 16:55
30/5/2019- O Estado Net- Positiva
11 de Julho de 2019 às 16:55
O gênero Dipteryx (cumaru) abriga nove espécies, das quais quatro podem ser encontradas na Amazônia. No estado do Pará foram relatadas três espécies:Dipteryx odorata, Dipteryx magnifica e Dipteryx punctata. Os cumaruzeiros podem ser utilizados para exploração de madeira, recuperação de áreas degradadas, obtenção de cumarina das sementes para a indústria de perfumaria, como fixadora de essências, e atualmente, na culinária. As sementes têm aroma e sabor fortes que lembram a baunilha.
Chegar ao final de quatro anos de muitos estudos e identificar substâncias que apresentem potencialidades para uso no controle alternativo de doenças em plantas é o objetivo da bióloga e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) da Ufopa, Bruna Cristine Martins de Sousa.
O tema da pesquisa é: “Caracterização química e atividades biológicas de extratos e óleo de Cumaru-amarelo”. A pesquisa além de trabalhar com extratos de folhas, galhos e sementes e óleo de sementes, tem como diferencial, também, avaliar os resíduos dos frutos (epicarpo, mesocarpo e endocarpo) que são descartados após a coleta das sementes.
A doutoranda Bruna Martins explica que “o estudo visa analisar a composição química dos extratos e óleo de cumaru-amarelo, fracionar e purificar as substâncias presentes nesses produtos, bem como realizar testes biológicos direcionados, principalmente, à atividade antifúngica”.
A bióloga iniciou o doutorado em 2017 e a partir de fevereiro de 2018, começou a pesquisa para sua tese, em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), escritórios de Santarém e de Mojuí dos Campos, região produtora de sementes de cumaru. “Durante este primeiro período dos estudos, foram realizadas visitas, entrevistas e coleta de material vegetal para identificação das espécies nas áreas e extrações. A espécie identificada nas amostras coletadas foi a Dipteryx punctata, ainda pouco pesquisada e conhecida na Amazônia”.
Em Mojuí, estão sendo acompanhadas cinco propriedades, em plantios com um a dois hectares de cumaru consorciado com frutíferas. A frutificação do cumaru ocorre a partir de oito anos de idade, quando em condições adequadas para o seu desenvolvimento. Cada árvore produz em média cinco quilos de sementes, anualmente. Portando, do plantio de 120, em cada propriedade, a produção média é de aproximadamente 600 quilos de sementes por safra.
De acordo com a doutoranda, o quilo da semente está sendo comercializado a R$ 30,00. “Essas sementes são selecionadas e vendidas tanto para o mercado nacional, como internacional por terceiros e, é na fase de retirada das sementes dos frutos que é gerada a matéria prima utilizada na pesquisa que estamos desenvolvendo, material que seria descartado. Para cada cinco quilos de sementes são gerados aproximadamente 50 quilos de resíduos”.
Bruna Martins diz ainda, que a atividade antifúngica será avaliada com fitopatógenos presentes nas propriedades estudadas, afim de se encontrar alternativas para o controle das doenças das plantas cultivadas por esses agricultores, especialmente. “Atividades antibacteriana, antioxidante, antiproliferativa, anti-inflamatória, antiviral, larvicida e a toxicidade dos extratos e óleo poderão ser avaliados até a conclusão da tese”.
Para o orientador, professor Thiago Almeida Vieira, doutor em Ciências Agrárias, “este trabalho pode dar um grande retorno à agricultura, apresentando uma alternativa sustentável para o controle de doenças em plantas cultivadas na Amazônia, possibilitando ainda, que o agricultor aproveite o material que seria descartado. Isto pode ser uma alternativa limpa que proporcione diminuição de custos para o agricultor”.
Para a co-orientadora da tese, a professora Denise Castro Lustosa, doutora em Fitopatologia, “não temos dúvidas que seria muito importante e interessante encontrarmos substâncias com atividade antifúngica a partir de um resíduo. O avanço nessa pesquisa aumenta a possibilidade da obtenção futura de um produto alternativo para o controle de doenças em plantas, principalmente para uso pelo pequeno produtor. No entanto, antes de chegar a um produto, muitos testes precisam ser realizados. Os resultados promissores em condições de laboratório servem como indícios da potencialidade das substâncias encontradas até o momento. Mas, esse efeito precisa ser comprovado em campo, uma vez que as condições podem diferir do ambiente controlado, como ocorre em laboratório”.
Processo histórico - O estudo do gênero Dipteryx teve início no mestrado, desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA/Ufopa), em 2015 e 2016. Foram realizadas a comparação química e as atividades antimicrobianas dos extratos das folhas, galhos e frutos e, dos óleos das sementes de duas espécies, identificadas botanicamente como Dipteryx odorata e Dipteryx magnifica.
Este estudo teve a orientação do Dr. Lauro Euclides Soares Barata e co-orientação da Profa. Dra. Denise Castro Lustosa e contou com a parceria do Herbário e laboratórios da Ufopa como P&DBio, Sementes Florestais e Fitopatologia; Divisão de Microbiologia e Química Orgânica e Farmacêutica do CPQBA da Unicamp e, do Prof. Dr. Domingos Benício Oliveira Silva Cardoso da UFBA.
O projeto de doutorado iniciou em 2017 sob orientação do professor Dr. Lauro Euclides Soares Barata e atualmente encontra-se vinculado aos professores, Dr. Thiago Almeida Vieira (orientador) e Dra. Denise Castro Lustosa (co-orientadora).
Parcerias – Neste trabalho, foram firmadas parcerias envolvendo a Emater, órgão que destina o servidor Daniel do Amaral Gomes para fazer o acompanhamento da doutoranda nas áreas em Mojuí; Dr. Domingos Cardoso (UFBA), responsável pela identificação da espécie alvo do estudo; Herbário da Ufopa, sob responsabilidade da Dra. Thais Elias Almeida (Iced) e Dr. Leandro Lacerda Giacomin (ICTA), que orientaram no processo de deposição e envio de amostras para identificação botânica; viveiro da Ufopa, coordenado pelo servidor Antônio de Sousa Pereira (Ibef), onde foi realizada a triagem dos frutos; Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Naturais Bioativos (P&DBio), coordenado pela Profa. Dra. Kelly Christina Ferreira Castro (Ibef), onde foram realizadas as extrações e análises químicas preliminares e Laboratório de Farmacognosia e Fitoquímica, coordenado pelo Prof. Dr. Bruno Alexandre da Silva (Isco), onde foram realizadas a atividade antioxidante dos extratos e óleo.
Próxima fase – Após a análise química e testes biológicos com os extratos e óleo do cumaru-amarelo, serão realizados os fracionamentos e purificações das substâncias para novos testes. “O trabalho é árduo e demorado. Mas, os resultados preliminares promissores nos motivam a continuar as pesquisas com as espécies de cumaru”.
Assim que concluir o doutorado, Bruna Martins realizará uma roda de conversa com os produtores e projeta o lançamento de uma cartilha didática contendo informações técnicas sobre as espécies e alguns resultados encontrados na pesquisa, considerados úteis aos agricultores e público em geral. O prazo para a conclusão do doutorado é fevereiro de 2021.