Ultima atualização em 12 de Agosto de 2020 às 18:21
09/08/2020 - G1 / FolhaPA - Ufopa Citada
12 de Agosto de 2020 às 18:21
Dificuldade no acesso à internet é desafio para organização e educação quilombola em Santarém
Atualmente as crianças e jovens não têm acesso à educação, já que as escolas estão fechadas e as aulas virtuais são irreais para o contexto dos quilombolas.
Em tempos de pandemia, moradores de comunidades quilombolas de Santarém, oeste do Pará, se ressentem da falta de políticas públicas emergenciais específicas para esses povos e de problemas tecnológicos, como baixo sinal de telefone e internet, que dificultam a articulação interna das populações para contenção da doença nos quilombos do município.
A secretária da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS) - que representa 12 quilombos da região -, Miriane Costa Coelho, da Comunidade Nova Vista do Ituqui, denuncia a falta de ação do estado na circulação de informações e ações práticas de combate à doença nas comunidades. Ela relata a dificuldade que tem sido levar informações mínimas para as diferentes realidades dos quilombos de Santarém.
“Infelizmente nós não tivemos tanto apoio em relação aos cuidados contra esse vírus, aqui poucos são os quilombos que possuem sinal de TV aberta. Nos comunicamos pelo rádio e em outros casos foram as lideranças dos quilombos que realizaram esse trabalho de levar as informações. Nós temos dificuldade de contato principalmente em quilombos muito distantes como de Surubiu-Açu e Patos do Ituqui, mas mesmo os mais próximos não temos conseguido contato imediato”, relatou Miriane.
A secretária da FOQS destaca também que existe uma grande dificuldade em executar ações contra o avanço da doença com o isolamento social. Além disso a Federação, seguindo seu estatuto, teve que fazer uma eleição para uma nova diretoria em meio ao desafio da pandemia. “Venho dizendo nos espaços que esse modelo de se organizar [à distância] não nos contempla. Nos quilombos não tem acesso à internet e muitas vezes nem à telefonia. A FOQS montou uma comissão executiva que opera principalmente com quilombolas que estão fora do risco, para preservando as nossas lideranças mais velhas”.
Segundo Miriane, o trabalho que tem sido realizado pelos coletivos das comunidades tem levado alimentos, kits de higiene e informação para minimizar os impactos da pandemia.
“A FOQS , conjuntamente com parceiros, está desenvolvendo o Projeto OMULU - Terra de Quilombo, que antes era um projeto de aquisição de kits de higiene básica e de informação, e que hoje ele ganhou uma outra dimensão. Nele fazemos um mapeamento da situação dos casos da Covid-19 nos quilombos - isso tudo uma parceria com as lideranças dos quilombos -, e assim nós podemos também monitorar a situação dos casos da Covid-19”, contou Miriane.
Violações de direitos e avanço de empreendimentos
Segundo relato de Miriane, a nova diretoria da FOQS já pensa nas dificuldades que se intensificam agora no segundo semestre do ano com a continuidade do isolamento social. Atualmente as crianças e jovens não têm acesso à educação, já que as escolas estão fechadas e as aulas virtuais são irreais para o contexto dos quilombolas.
“Nós estamos no momento de planejamento das atividades, mas confesso que está sendo muito difícil. Estamos trabalhando em contato principalmente com 6 pessoas, seguindo as orientações da Secretaria de Saúde do município. As aulas estão suspensas, mas a ameaça da volta sobre ensino à distância traz um risco alto, não é a nossa realidade uma aula à distância, tanto para alunos de rede de ensino fundamental e médio quanto para os alunos quilombolas que estão na universidade Pública a Universidade Federal do Oeste do Pará-Ufopa”, reforçou Miriane.
As comunidades do estado do Pará redobram a atenção contra empreendimentos que, diante da baixa fiscalização do estado, se aproveitam da conjuntura para avançar no desenvolvimento de projetos que degradam a natureza e os territórios.
As comunidades temem os impactos da construção de dois grandes portos na área do lago do Maicá. Um deles é idealizado por uma distribuidora de petróleo. Com obras já iniciadas que tiveram continuidade em meio à pandemia, a construção do porto de combustíveis foi paralisada pela Justiça Federal em maio deste ano, por irregularidades - entre elas a falta de Consulta Prévia, Livre e Informada entre as comunidades quilombolas, pescadoras e indígenas da região.
E o segundo é um projeto da Empresa Brasileira de Portos Santarém (Embraps) com o objetivo de escoar a produção na região do planalto santareno. A obra está suspensa pela Justiça Federal desde 2016 por denúncia Ministério Público Federal (MPF) também por ausência de consulta adequada às comunidades tradicionais atingidas pelas obras.