Ultima atualização em 1 de Janeiro de 2021 às 16:42
15/12/2020 - G1 Santarém — PA - Positiva
1 de Janeiro de 2021 às 16:41
Nova espécie de alga microscópica pode funcionar como bioindicador de qualidade das águas
Espécimes foram descobertas por pesquisadores da Ufopa, que analisaram áreas na APA Alter do Chão e um lago na UHE Curuá-Una.
Lago Itapari, em Alter do Chão, no PA — Foto: Luís Gustavo Canani/Arquivo pessoal
A nova espécie e gênero de alga microscópica que foi descoberta por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém, no oeste paraense, indica que a qualidade da água é “ótima”. Os estudos foram realizados na Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter do Chão e no Lago da Hidrelétrica de Curuá-Una.
A pesquisa, publicada no European Journal of Phycology, foi feita durante o pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Recursos Aquáticos Continentais Amazônicos (PPGRACAM), pelo Dr. Luís Gustavo Canani, com coautoria dos professores da Ufopa Dra. Dávia Talgatti e Dr. Sérgio Melo.
Para realizar o estudo, os espécimes de Torgania coronata foram coletados no lodo acumulado no fundo dos lagos, sendo que essas algas fazem parte da dieta de peixes, anfíbios e insetos aquáticos. As algas são organismos fotossintetizantes: assim como as plantas, realizam fotossíntese e produzem oxigênio em ambientes aquáticos.
Segundo o Dr. Canani, a nova espécie pertence ao grupo das diatomáceas, que abriga uma grande variedade de algas, de águas doce e salgada, que “em geral são ótimas indicadoras da qualidade da água, já que são abundantes na maioria dos ambientes aquáticos e são sensíveis a alterações, respondendo rapidamente às mudanças dos fatores físicos, químicos e biológicos, devido ao seu ciclo de vida rápido”.
Lago Jurucuí, em Alter do Chão, no PA — Foto: Luís Gustavo Canani/Arquivo Pessoal
Os locais em que a Torgania coronata foram encontradas têm águas ácidas e com baixa concentração de sais e nutrientes, o que indica boa qualidade das águas, com baixa poluição decorrente de esgotos e outras atividades humanas. O pesquisador ressalta que é necessário ter atenção a atividades que possam impactar os ambientes e prejudicar o ciclo de vida das espécies.
“Este gênero, junto com outras diatomáceas, pode ser utilizado no biomonitoramento de ambientes aquáticos da Amazônia”, afirma o pesquisador.
Às margens do Jurucuí e no lago da UHE há plantações no entorno e indicação de construção de tanques de piscicultura. “Estes empreendimentos, apesar de bastante importantes para a economia local, devem ser realizados com muito cuidado, sempre ouvindo pesquisadores e especialistas, a fim de manter as boas condições do lago, evitando que haja a extinção desta espécie recém-descoberta e de outros organismos aquáticos que vivem no local. Além disso, estima-se que nestes locais possam existir ainda espécies novas desconhecidas pela ciência”, explica.
Alga em microscópio eletrônico — Foto: Reprodução
O nome dado ao gênero, Torgania, é em homenagem à pesquisadora Dra. Lezilda Torgan, que foi orientadora dos autores durante suas trajetórias acadêmicas e é uma das cientistas mais influentes do Brasil e do mundo no estudo de algas do grupo das diatomáceas. O novo gênero se diferencia por um conjunto único de características anatômicas, como o formato da célula, que lembra uma agulha.
“A descoberta reforça também que, até o momento, a Amazônia é o principal centro de diversidade das Eunotiales, ordem à qual pertence o novo gênero. Outra questão importante é que as características morfológicas encontradas, que justificaram a criação de um novo gênero, permitem repensar as relações de parentesco entre os membros desta ordem, contribuindo para melhorar a compreensão da evolução e filogenia desse gênero e das diatomáceas como um todo”, explica Luís Gustavo.
Link - https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2020/12/15/nova-especie-de-alga-microscopica-pode-funcionar-como-bioindicador-de-qualidade-das-aguas.ghtml