Desculpe, o seu navegador não suporta JavaScript!

Criado em 14 de Dezembro de 2020 às 16:28

Pesquisa da Ufopa com armadilhas fotográficas revela mamíferos de médio e grande porte da Flona Tapajós

01/12/2020 - G1 Santarém - PA - Positiva

14 de Dezembro de 2020 às 16:28

Pesquisa da Ufopa com armadilhas fotográficas revela mamíferos de médio e grande porte da Flona Tapajós

O projeto de monitoramento tem uma estrutura de pesquisa padronizada, que permite comparações com outros sítios de pesquisa situados na Amazônia e fora dela.

Espécie ameaçada de extinção, a anta é um dos mamíferos de grande porte fotografados na Flona — Foto: Divulgação

Espécie ameaçada de extinção, a anta é um dos mamíferos de grande porte fotografados na Flona — Foto: Divulgação

 

Para responder a questões sobre a ecologia das espécies em um curto período de tempo, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) espalhou armadilhas fotográficas para o registro de mamíferos em 40 pontos da Floresta Nacional do Tapajós (Flona Tapajós). Em cada ponto, variáveis ambientais também foram coletadas para avaliar o papel do ambiente na relação com as espécies fotografadas.

O projeto de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBEES) da Ufopa, tem parceria com outras instituições, e avalia mudanças de longo prazo sobre a biodiversidade de mamíferos terrestres de médio e grande porte na região da Flona Tapajós.

O projeto de monitoramento tem uma estrutura de pesquisa padronizada, que permite comparações com outros sítios de pesquisa situados na Amazônia e fora dela. A ideia de padronização foi inicialmente proposta pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em 2004. O método utilizado pela equipe de pesquisa é o “Rapeld”, que combina o componente RAP, para levantamentos rápidos da biodiversidade, e o componente PELD, para estudos de longa duração.

“Diversos grupos de pesquisadores podem se beneficiar da utilização de métodos padronizados em diferentes regiões geográficas. Nós utilizamos o Rapeld porque, com ele, é possível responder não apenas questões locais, mas também regionais, integrando esses dados”, explicou Fadini.

 

Segundo o pesquisador, o legal desses estudos em rede é que se percebe que não está só na Amazônia. Eu consigo responder questões relacionadas ao meu estudo, enquanto ajudo a contribuir com outras questões numa escala maior”, explicou Dian Carlos, que está finalizando seu mestrado pelo PPGBEES na Ufopa.

O mestrando Dian Carlos (PPGBEES/Ufopa) monta uma das armadilhas para fotografar mamíferos na Flona — Foto: Divulgação

O mestrando Dian Carlos (PPGBEES/Ufopa) monta uma das armadilhas para fotografar mamíferos na Flona — Foto: Divulgação

O pesquisador Carlos Brocardo explica que as armadilhas fotográficas possuem sensores de calor e movimento. “Quando o animal passa, elas fotografam ou fazem filmes curtos. Depois nós recolhemos esses equipamentos e ficamos durante muitas horas para identificar as espécies através dos registros. É como se as câmeras fossem os olhos do pesquisador em campo”, detalhou.

Até agora, os pesquisadores fotografaram mais de 25 espécies de mamíferos. As mais comuns foram: cutia, paca, gambá e veado-roxo, este conhecido na região como fuboca. Também foram registradas espécies de maior porte e ameaçadas de extinção como a anta, o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas, o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, a onça-parda e a onça-pintada.

No perfil do projeto no Instagram (@peld_popa) é possível ver fotos e assistir a vídeos que mostram os animais na Flona, inclusive exemplares de onça-pintada e onça-parda. “Esses resultados mostram o quanto a Flona Tapajós é importante para a conservação da diversidade de espécies de mamíferos ameaçadas na região metropolitana de Santarém. São poucas regiões do Brasil que possuem o privilégio de ter espécies tão icônicas quanto as que ocorrem aqui, praticamente no quintal das nossas casas”, enfatizou Clarissa Rosa, do Inpa.

 

 

Regime de caça

 

Mas nem tudo são flores. O mesmo estudo mostra que diferentes regiões da Flona Tapajós possuem faunas bastante diferenciadas, o que pode ser resultado de um regime de caça histórico e frequente, especialmente na parte norte da Flona, próxima aos municípios vizinhos de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos. Além disso, quando comparada com outras unidades de conservação de tamanho semelhante, a Flona Tapajós parece estar muito depauperada em termos de biomassa, especialmente dos grandes mamíferos.

"A ocupação humana nessa região é muito antiga e não são apenas comunitários, mas também moradores do entorno e dos municípios vizinhos que praticam caça na Flona. O problema é quando essa prática deixa de ser uma atividade de subsistência e passa ser uma atividade comercial, que é proibida por lei”, ressaltou Carlos Brocardo.

O projeto teve início em 2018 e o monitoramento deve ocorrer pelo menos até 2022. “O monitoramento de longo prazo é importante porque queremos determinar até que ponto as mudanças no registro das espécies podem ser resultado de alterações locais, regionais ou globais, do ambiente. Também podemos fazer previsões sobre o futuro dessas florestas, já que muitas das espécies estudadas têm papel importante na estruturação do ambiente, como dispersores e predadores de sementes, além de predadores de topo de cadeia”, complementou Fadini.

Para outro integrante da pesquisa, Arlison Castro, ao longo de dois anos de monitoramento, não registrada nenhuma queixada (espécie de porco selvagem nativo), o que traz um sinal amarelo para os pesquisadores e para aqueles que dependem da floresta para sobreviver. "Sem bichos como o queixada, a previsão é de que boa parte dos processos de regeneração dessas florestas possam ser extintos junto com ele”, avaliou.

 

Sobre o projeto

 

Coordenado pelo Prof. Dr. Rodrigo Fadini, da Ufopa, o projeto é financiado pelo Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (Procad – Amazônia), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e pelo Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq), através do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD – Oeste do Pará).

 

A ONG Instituto Neotropical, Pesquisa e Conservação também apoia o projeto. Também participam do estudo, pela Ufopa, o Dr. Carlos Brocardo, o mestrando Dian Carlos Pinheiro Rosa e o técnico Arlison Bezerra Castro, além da Dra. Clarissa Rosa, pelo Inpa.

 

Link: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2020/12/01/pesquisa-da-ufopa-com-armadilhas-fotograficas-revela-mamiferos-de-medio-e-grande-porte-da-flona-tapajos.ghtml