Ultima atualização em 21 de Julho de 2020 às 23:23
24/06/2020- Amazônia Real - Ufopa sendo citada
2 de Julho de 2020 às 12:54
Belém (PA) – A Coordenação Nacional de Articulação Quilombola (Conaq) diz que o estado do Pará já registrou 33 mortes de pessoas quilombolas por Covid-19. É o maior número de vítimas quilombolas do Brasil, que tem um total de 80 óbitos. Em seguida vem o Amapá com nove mortes. O levantamento da Conaq, divulgado essa semana, tem como base as informações da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará (Malungu) em parceria com o “Núcleo Sacaca”, vinculado à Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). São 521 casos confirmados do novo coronavírus entre quilombolas do estado.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Barcarena, até nesta terça-feira (23), o total de casos confirmados da doença na população era de 1.986 e 93 mortes. O boletim, no entanto, não informa o número de quilombolas infectados pela Covid-19 no município.
Na contagem realizada pela Malungu e pela Ufopa, até o dia 16 de junho foram registrados em comunidades quilombolas do município de Barcarena 66 casos suspeitos de Covid-19, cinco casos confirmados e três óbitos.
“Ela era minha amiga e companheira de luta contra os crimes ambientais aqui em Barcarena”, relata, emocionada, Maria do Socorro Costa Silva, conhecida como Socorro do Burujuba, presidente da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama). Socorro do Burajuba se refere à morte de Maria Mercês de Barros, de 49 anos, vítima da Covid-19, ocorrida no dia 16 de maio.
Maria Mercês de Barros foi vice-presidente da Associação de Moradores da Comunidade Quilombola São Sebastião do Burajuba, localizada em Barcarena, e um dos grandes expoentes na luta pela mitigação dos desastres ambientais da mineração que afetam ainda hoje as comunidades quilombolas e ribeirinhas do município.
Ela e a filha, Alexandra Barros Freitas, de 31 anos, morreram no mesmo hospital, nos dias 16 e 19 de maio, respectivamente. Maria Mercês foi levada por volta das 15h do dia 15 de maio à UPA do bairro de Vila dos Cabanos, em Barcarena. Segundo a filha Francinete Barros Freitas, a mãe parecia estável durante o almoço, porém piorou à tarde. Chegou a fazer um raio-X, mas a equipe médica não informou do que se tratava. “Doutor, eu estou com esse vírus? ”, chegou a perguntar a líder quilombola, ouvindo em resposta que era “para não gemer” já que o que tinha “não dava dor”.
“Acho que ela ficou nervosa e a falta de ar aumentou. Ela já sofria de asma. Quando deu umas 18h levaram ela para sala de isolamento e entubaram. Daí em diante a gente não teve mais notícias até de madrugada (16), quando ligaram para avisar que ela tinha tido cinco paradas cardíacas e não tinha resistido”, disse Francinete, de 29 anos. O teste positivo para a Covid-19, só feito depois da morte da mãe, afirmou a filha. Segundo ela, a UPA de Vila dos Cabanos reteve o prontuário não só da sua mãe, como também da irmã. Alexandra Barros deu entrada no mesmo dia que a mãe, às 19h. Mãe e filha tiveram parada respiratória.
A família se queixa da falta de transparência e cuidados no atendimento de Maria Mercês e de Alexandra. As mortes das duas chamam a atenção para a ausência de um plano específico das autoridades para o combate ao novo coronavírus nas comunidades quilombolas.
A Malungu, em parceria com o “Núcleo Sacaca”, vinculado à Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), decidiu produzir um boletim independente com números atualizados sobre o avanço da Covid-19 nos territórios quilombolas. Todos os dias, às 19h, o boletim é atualizado e repassado pelo WhatsApp aos grupos de apoio constituídos durante a pandemia. O projeto funciona há pouco mais de um mês.
“Nosso monitoramento está voltado à orientação das pessoas. Em como se prevenir, como se tratar, como proceder para evitar a propagação da Covid-19 nessas comunidades, que já são historicamente mal atendidas ou, simplesmente, não atendidas por serviços públicos de qualidade, sobretudo os relacionados à saúde”, afirmou a professora Luciana Carvalho, professora do Programa de Antropologia e Arqueologia da Ufopa e membro do Núcleo Sacaca.
O último boletim, emitido pelo projeto no dia 23 de junho, aponta que há 881 casos suspeitos sem assistência médica, 341 casos suspeitos em tratamento médico e 07 hospitalizados, no Pará. Os números casos confirmados e óbitos são os mesmos publicados pela Conaq.
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