Criado em 25 de Junho de 2020 às 13:13
15/06/2020 -G1 Santarém-Pa - Positivo
25 de Junho de 2020 às 13:13
Potencial do jucá na cicatrização de ferimentos é destaque em publicação de estudos científicos
A pesquisa investigou o uso do extrato da planta no tratamento de ferimentos em 11 cães do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) em Santarém, no oeste do Pará.
Por G1 Santarém — PA
15/06/2020 15h47
Planta medicinal apresentou melhores resultados quando comparada a medicamento convencional — Foto: Arquiflora/Divulgação
Pesquisa da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) comprova a alta capacidade regenerativa do jucá no tratamento de lesões cutâneas. O estudo, realizado por professores e estudantes do Programa de Pós-Graduação em Biociências (PPGBIO), foi publicado recentemente na revista Frontiers in Veterinary Sciences, classificada como Qualis A1 pela Capes.
Conhecida popularmente conhecida como jucá ou pau-ferro, a Libidia ferrea é uma árvore amazônica usada tradicionalmente em chás, infusões e emplastos para o tratamento de feridas e contusões, além de doenças broncopulmonares, diabetes, reumatismo, câncer e distúrbios gastrointestinais.
A pesquisa investigou o uso do extrato da planta no tratamento de ferimentos em 11 cães do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) na cidade de Santarém, no Oeste do Pará, por meio de análises macroscópicas e microscópicas. Os resultados apontaram que formulações a base de jucá foram superiores a um medicamento comercial de alto custo. Isso se deve à presença de substâncias flavonoides, taninos e cumarinas, que têm potencial medicinal.
“A presença de flavonoides nos extratos de jucá confere características anti-inflamatórias; os taninos conferem ação antisséptica e cicatrizante; e as cumarinas são responsáveis pela ação antibacteriana e antifúngica do extrato”, explicou Ádria Américo, que desenvolveu o estudo durante o mestrado no PPGBIO.
De acordo com a Ufopa, os testes foram realizados durante 21 dias, com aplicações de três tipos de medicações: 1) em gel de carbopol, com extrato de jucá a base de álcool; 2) em gel líquido cristalino, com extrato de jucá e manteiga de murumuru; 3) pomada veterinária comercial. As formulações com jucá promoveram a recuperação mais rápida da pele e cicatrizes menores.
“As formulações a base de plantas resultaram em uma cicatrização melhor devido ao menor diâmetro e maior retração da ferida quando comparada com a pomada comercial a base de alantoína”, disse a pesquisadora.
Na fase da epitelização, que é o surgimento de uma camada rósea e fina sobre o ferimento, observou-se que os tratamentos com jucá apresentaram boa quantidade de novos tecidos e colágeno, além de melhor densidade da pele.
Os resultados sugerem o desenvolvimento de medicamentos com concentração de jucá a 5% para uso veterinário, com custo de produção inferior aos medicamentos comerciais a base de alantoína. O estudo também destaca que as formulações produzidas não causam dor durante a aplicação e que podem servir para a criação de medicamentos para uso veterinário e humano.
Produto patenteado pela Ufopa
A pesquisa foi conduzida em diversos laboratórios da Ufopa:
Sequência mostra produção de fórmulas com jucá — Foto: Ádria Américo
Segundo o professor responsável pelo estudo, Antonio Humberto Minervino, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef): “O jucá eu já imaginava, por conhecimento empírico, que era um bom cicatrizante. O avanço científico foi determinar a dose mais adequada e utilizar um novo sistema de liberação sustentado de fármacos para incorporar o extrato de jucá, com vantagens técnicas superiores às formulações convencionais encontradas no mercado, o qual apresentou melhor resultado”.
Para chegar à medicação adequada, foram necessárias várias pesquisas, com diferentes concentrações do extrato e formulações. “Destaca-se o emprego do novo sistema de liberação testado como base para o extrato, o gel líquido cristalino baseado em manteiga de murumuru, produto que gerou o primeiro pedido de patente da Ufopa, realizado pela professora Kariane Nunes e seu grupo de pesquisa, e que apresentou resultados excelentes”, ressaltou Minervino.
O gel com manteiga de murumuru permitiu adequada adesão tópica e, portanto, maior tempo de contato, o que promoveu uma ação prolongada do produto fitoterápico sobre as lesões.
Para a professora Kariane Nunes, vinculada ao Instituto de Saúde Coletiva (Isco): “O desenvolvimento do fitoterápico tópico baseado em manteiga de murumuru e extrato de jucá é uma estratégia tecnológica inovadora e em sinergia com as abordagens da economia circular, já que visa fomentar ambientes favoráveis a cadeias produtivas sustentáveis, com alto valor agregado, conduzindo a novos modelos de bionegócios e comércio justo (fair trade) na região do Baixo Amazonas”.
De acordo a publicação, a pesquisa permitiu aprimorar o conhecimento tradicional amazônico, com a descoberta de uma formulação mais eficiente. “Apesar de estarmos localizados dentro da maior reserva de biodiversidade do planeta, quando falamos em dados de pesquisa, desenvolvimento e inovação da região, ainda nos deparamos com uma realidade de contrastes. A ferramenta mais eficaz para mudar essa realidade é a soma das diversas expertises que temos na nossa Instituição", destacou Karine.
A parceria surgiu a convite do professor Humberto para professores, discentes e técnicos das áreas de veterinária, química, farmácia e microbiologia da Ufopa, a fim de transformar o conhecimento tradicional em plantas medicinais de uso na região amazônica em um produto fitoterápico inovador.