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02/12/2021- O Liberal - Positiva
28 de Dezembro de 2021 às 10:58
No Pará, pesquisa revela uso de suástica como marca de ferrar gado
Boi furtado na data de janeiro de 1938 marcado com símbolo nazista foi abatido no matadouro municipal de Santarém no mesmo ano.
Andria Almeida
02.12.21 19h22
Ascom Ufopa
No Pará, pesquisa revela uso de suástica como marca de ferrar gado. (Ascom Ufopa)
Boi furtado na data de janeiro de 1938 marcado com símbolo nazista foi abatido no matadouro municipal de Santarém no mesmo ano. Esse fato chamou a atenção da comunidade acadêmica este ano, após evidências históricas descritas em um trabalho de conclusão de curso (TCC), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em Santarém.
Joanderson Mesquita, realizou a pesquisa em 2019 e buscou fundamentação verídicas do fato no Centro de Documentação Histórica do Baixo Amazonas (CDHBA). Ele era estudante do curso de história da UFOPA, agora graduado, e encontrou evidências da existência de nazistas em Santarém, fato que o levou a se aprofundar no assunto para escrever o TCC.
As evidências vieram por meio dos autos criminais do furto de um gado, que está homologado no Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ-PA) e custodiado pela Ufopa em Santarém. A partir disso, Joanderson intitulou o trabalho de conclusão com o nome Liebold & Cia: os rastros da suástica na Amazônia, que era o sobrenome de um alemão proprietário do gado marcado com símbolo suástico.
Os documentos registram em janeiro de 1938 um furto de gado pertencente à firma Liebold & Cia, à época constituída por dois sócios: Artur Johannes Liebold, alemão, e Pedro da Silva Motta, brasileiro.
Segundo os documentos, Francisco Machado Freire mandou roubar uma cabeça de gado marcada com o emblema nazista e vendeu o animal para Antônio José Fernandes, proprietário da charqueada “Cravo Roxo”, pelo valor de 220$000 (duzentos e vinte mil réis).
Ao término da negociação, foram surpreendidos pela notícia de que o boi tinha sido abatido no matadouro municipal de Santarém por Valeriano Motta da Silva, açougueiro da época.
Depois de abatido o boi, a carne dele foi levada para ser vendida no mercado municipal de Santarém.
Através do exame de corpo de delito feito no couro do boi, o sinal nazista era mesmo a marca oficial da firma, que reconheceu publicamente a utilização.
No entanto, incriminava Francisco Machado Freire. O imbróglio não teve um desfecho conclusivo, principalmente provas que incriminasse o alemão Arthur Johannes Liebold, mesmo que existissem sinais de fidelidade ao governo de Adolf Hitler.
“A suposição que eu levanto na minha pesquisa é que a Liebold & Cia foi perseguida durante o Estado Novo e por isso abrasileiraram como o nome do Augusto Vieira & Cia em 1944, sobre vigência do Estado Novo”, disse Mesquita.
Filiações nazista
Sobre a seção do Partido Nazista do Pará, foi constatado que existiam 27 filiados ao partido no estado. Os militantes estavam divididos entre as cidades de Belém, Santarém, Maracanã, Breves e Prata.
“Não foi possível indicar que Liebold tinha vinculação com a seção do partido nazista estabelecida no Pará em 1938, mas sabemos que houve filiados à seção do Partido na cidade de Santarém”, esclarece o estudante, que atualmente é mestrando na Universidade Federal do Pará (UFPA).
A professora Lorena Lopes, orientadora do trabalho de TCC de Mesquita, entende que a pesquisa tem o mérito de descobrir um documento precioso da região.
“Neste caso, vemos por um lado a riqueza documental do Centro de Documentação Histórica do Baixo Amazonas, e, por outro, vemos como nascem as novas perguntas que fazemos para o passado, tido, muitas vezes erroneamente, como conhecidas", completa Lorena.
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