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Criado em 25 de Janeiro de 2021 às 13:41

Não se sabe quantos quilombolas morreram

21/01/ 2021 - Amazonia real - Ufopa citada

25 de Janeiro de 2021 às 13:41

“O Brasil é um país que quando não mata a população negra, deixa morrer. No caso da pandemia e dos quilombolas, o Estado ainda tem escondido os corpos, ocultado a prova do crime”, denuncia Givânia Silva, indicando o fato de que não existe nenhuma estatística ou banco de dados por parte do governo federal e dos governos estaduais, que quantifique o número de quilombolas infectados e mortos pela Covid-19. “Isso é uma ação de Estado, mas infelizmente o Estado não faz e nós estamos fazendo de maneira precária, porque sabemos que são subnotificados, mas é o que nós temos.”

A frase da líder Givânia é uma tradução quase literal da categoria “necropolítica”, criada pelo filosofo negro e camaronês Achille Mbembe. Para o teórico o Estado age, em determinadas situações, de modo a promover deliberadamente a morte de alguns grupos em detrimento de outros. 

Giivãnia falando no Congresso nacional (Foto Arquivo pessoal)

Uma base de dados autônoma foi montada pela Conaq, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), para o monitoramento do avanço da doença nos territórios quilombolas. Até o dia 18 de janeiro havia 4.753 casos confirmados e 179 óbitos, mas a própria entidade avisa que esses dados são subnotificados.

Os dados são compilados a partir das informações repassadas pelos núcleos estaduais da Conaq, que por sua vez recebem as estimativas via WhatsApp diretamente das comunidades. “Tu achas que a gente consegue dar conta da demanda que temos por aqui?”, pergunta Raimundo Magno, integrante da Malungu, que tem atuado no auxílio às comunidades quilombolas do Pará. A instituição não dispõe de estrutura logística para alcançar as 528 comunidades autodeclaradas e reconhecidas pela FCP, presentes no estado. “Não houve nenhuma iniciativa por parte do Estado, nenhuma campanha, medida de prevenção, ou registro dos casos ocorridos em comunidades quilombolas”, diz Magno.

No Pará, a Malungu em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), passou a elaborar boletins informativos com os quantitativos informados pelas comunidades do Pará. Além do número de casos confirmados e de óbitos, o boletim informa também a quantidade de pessoas sem assistência médica e de suspeitos em tratamento. Segundo o último boletim, lançado no dia 14 de janeiro, havia 2.149 casos confirmados, 46 óbitos, 1.225 casos suspeitos sem assistência médica e 1.228 suspeitos em tratamento no estado.

“Na nossa comunidade só foram diagnosticadas 3 pessoas com a doença, as outras 85 nós que diagnosticamos pelos sintomas, e nos resguardamos”, afirma Mário Santos. A Amazônia Real buscou as mesmas informações de registros estatísticos nos bancos de dados do governo do Pará. A Secretaria de Saúde informou que “esses dados não são inseridos no Sistema do Ministério da Saúde, pois não há campo para classificar o paciente como quilombola”, ainda que exista uma estatística feita pela própria Sespa que permitiria incluir os dados. Questionada sobre o estado concentrar o maior número de casos de óbitos entre os quilombolas, a Sespa atribui à maior testagem e pelo maior contingente populacional.

Dona Maria Divina no quilombo do Amapá
(Foto: Anderson Menezes/Amazônia Real)

 

Link: https://amazoniareal.com.br/caos-na-pandemia-quilombolas-tambem-ficarao-de-fora-da-vacinacao-prioritaria/