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Criado em 3 de Setembro de 2021 às 12:46

Estudante borari tem TCC aprovado e se torna a 1ª indígena gestora ambiental pela Ufopa

02/09/2021 - G1 Santarém — PA - Positiva

3 de Setembro de 2021 às 12:46

Estudante borari tem TCC aprovado e se torna a 1ª indígena gestora ambiental pela Ufopa
Elaine Borari defendeu trabalho de conclusão de curso no dia 19 de agosto com o tema 'A Relação da Etnia Borari com o Igarapé do Jacundá em Alter do Chão, Pará – Brasil'.


A estudante Elaine Borari se tornou a primeira indígena formada no curso de Gestão Ambiental do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O TCC, com o tema "A Relação da Etnia Borari com o Igarapé do Jacundá em Alter do Chão, Pará – Brasil", foi apresentado no dia 19 de agosto

A defesa se tornou um marco, pois Elaine se tornou a primeira gestora ambiental indígena formada em uma universidade pública brasileira.

Em sua pesquisa, a autora destaca como principal objetivo a apresentação de um diagnóstico ambiental e cultural para a melhor forma de preservação da área do entorno da cabeceira do lago do Jacundá, no distrito de Alter do Chão, em Santarém.

Segundo ela, a escolha do tema se deu pela preocupação com o meio ambiente, devido ao crescente assoreamento que ocorre no entorno do lago, com o desmatamento da cabeceira do igarapé e perda excessiva de plantas nativas que o protegem.

“A relação com a comunidade está para além de um costume, é uma forma de mostrar o respeito pelo que é mais sagrado: à água, por ser vida, e aos encantados, que são sua história, isto é, pela comunidade indígena”, disse Elaine Borari.


Resultados
O percurso metodológico da pesquisa iniciou com um levantamento bibliográfico, seguido de busca por documentos relacionados à área, pesquisa de campo de caráter qualitativo-quantitativo, além de entrevistas e conversas com sujeitos envolvidos no tema.

“Como resultados, observamos que, diante dos relatos, compreende-se que os indígenas ainda precisam do igarapé para seu autossustento, buscam formas de preservar seu território para manutenção das suas atividades tradicionais e, principalmente, por ainda possuírem muitas plantas de uso medicinal, alimentação e de artesanato”, destacou Elaine.

Igarapé do Jacundá em Alter do Chão, Pará — Foto: Acervo da pesquisa
Igarapé do Jacundá em Alter do Chão, Pará — Foto: Acervo da pesquisa

A gestora ambiental esclareceu que a pesquisa foi motivada após observações como moradora do local. “Minha ideia foi essa, por eu morar aqui perto. Via muitas coisas erradas. Desde então fui pegando os materiais que estavam disponíveis, imagens e relatos que eu já tinha desde 2012. A minha pesquisa de campo, já como universitária, foi desde 2019. Juntei o que já tinha e fui novamente em campo, comparando os dois períodos de seca e de enchente, observando o que havia mudado ou vinha mudando entre 2019 a 2021”, explicou.

Dificuldades no acesso à área
Mesmo sendo moradora, Elaine contou que o acesso à área foi uma das maiores dificuldades para a realização do trabalho, segundo ela, com o passar do tempo, as áreas iam sendo vendidas, o que bloqueava pontos do lago e do igarapé.


"Os donos cercaram e impediam a passagem. Isso foi a maior dificuldade para eu conseguir chegar nas cabeceiras e nas nascentes do igarapé”, disse Elaine.
Elaine Borari, como gestora ambiental e moradora da comunidade, observa que está havendo uma mudança acelerada no local. “Eu, como gestora ambiental, tenho um papel de observar, verificar, fazer um diagnóstico na área, desenvolver uma maneira de reduzir os impactos ambientais, uma forma de evitar o desmatamento, onde causa erosão no igarapé, que aos poucos está perdendo suas características, tanto ambiental como de espaço sagrado para os Borari”.

Lago do Jacundá, em Alter do Chão/Santarém — Foto: Acervo da pesquisa
Lago do Jacundá, em Alter do Chão/Santarém — Foto: Acervo da pesquisa

De acordo com o professor Rafael Magalhães, coordenador do Bacharelado em Gestão Ambiental (ICTA/Ufopa) e orientador do trabalho, a pesquisa desenvolvida representa uma conquista de toda a sociedade do Oeste do Pará, em especial para enfatizar a integração de saberes para garantias dos direitos sociais, ambientais, territoriais e culturais.

"Como orientador, posso dizer, sem dúvida, que o aprendizado foi mútuo nestes últimos dois anos de parceria, em especial por lidar com o excelente protagonismo dela, desde a escolha do tema até a discussão da pesquisa", disse o professor.

Sobre as terras Borari
Mesmo a área de Alter do Chão sendo conhecida na região como espaço Borari, o processo de demarcação das terras indígenas está parado.

Um relatório antropológico divulgado em 2009, de observações feitas na região, aponta que as terras identificadas e delimitadas no documento “são de ocupação tradicional do grupo indígena Borari. A análise das referências bibliográficas históricas e antropológicas, associadas aos trabalhos de campo, mostra que a terra indígena identificada no relatório é ocupada pelos Borari, segundo seus usos, costumes e tradições próprios, há tempos que se perdem na memória dos índios e dos habitantes regionais”.

Ainda de acordo com o relatório, os borari “necessitam das áreas de mata e dos cursos de água que deságuam no Lago Verde para manterem seu padrão adaptativo, pois possuem uma estreita relação com os ambientes que se encontram no interior das florestas e nas margens e leito dos rios. Esta relação ultrapassa a dimensão econômica e utilitária representando também o substrato da vida cultural e simbólica da sociedade Borari. A vida nas margens do Lago Verde e nos seus igarapés contribui para moldar tanto sua economia e subsistência, como também os sistemas de classificação espacial e sua visão de mundo”.

As informações do relatório foram passadas pela professora Luciana Franca, antropóloga do Programa de Antropologia e Arqueologia do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS) da Ufopa.

 

Link: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2021/09/02/estudante-borari-tem-tcc-aprovado-e-se-torna-a-1a-indigena-gestora-ambiental-pela-ufopa.ghtml