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Criado em 13 de Junho de 2022 às 13:07

Festival dos Rios realiza roda de conversa sobre os impactos das mudanças climáticas na cultura dos povos do Tapajós

1/06/2022 - Tapajós de Fato - Ufopa citada

13 de Junho de 2022 às 13:07

Festival dos Rios realiza roda de conversa sobre os impactos das mudanças climáticas na cultura dos povos do Tapajós
“Se você tem uma seca extrema, imagina que você não vai ter acarí naquele festival?”, as mudanças climáticas geram outras mudanças e muitas delas geram apenas impactos negativos para as pessoas.
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Foto: Tapajós de Fato    Foto: Tapajós de Fato
A programação do Festival dos Rios, desta sexta-feira (10), ocorreu na Toca do Tatu, em Alter do Chão, pela parte da manhã houve uma roda de conversa onde foi debatido como os costumes dos povos do Tapajós têm sido impactados pelo avanço das mudanças climáticas.

A conversa foi mediada pela surara, Marcela Acioli, também coordenadora das rodas de saberes do Festival. Para enriquecer os debates, foram convidados três jovens ativistas de Santarém, que trouxeram contextos das lutas que fazem em seus territórios. Jaciara Borari, estudante de antropologia e moradora do território indígena Borari de Alter do Chão, Walter Kumaruara, da Resex Tapajós Arapiuns e coordenador do Coletivo Jovens Tapajônicos e a quilombola do território Murumu, Adrielly Pantoja, coordenadora do Coletivo de Estudantes Quilombolas da Universidade Federal do Oeste do Pará (CEQ/UFOPA).

Abrindo as falas, Marcela Acioli exalta que os jovens ativistas da região do Tapajós estão ocupando diversos espaços de discussão, que ela denomina como advocacy. A mediadora fala ainda que todas essas articulações feitas pelos jovens são importante para  fazer a defesa dos territórios, visto que a região do Tapajós está “no olho do furacão”, fazendo relação com os projetos do chamado Arco Norte, que faz parte do Programa de Aceleração e Crescimento (PAC), que  pretende instalar uma gama de projetos para melhorar o escoamento da produção do agronegócio pela região do Tapajós.

As primeiras falas dos três convidados foram de apresentação e contextualização das situações enfrentadas em seus territórios. Jaciara Borari, que faz parte da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós e da organização Engajamundo, pautando principalmente os núcleos de discussão sobre clima, conta que fazer parte da associação, que também tem um grupo musical, possibilita que não apenas ela, mas juntamente com suas colegas consigam adentrar outros espaços que talvez sem a arte não fosse possível.

Já Walter Kumaruara fala que os territórios estão sendo visados pelos grandes projetos, ele conta que através do Coletivo Jovens Tapajônicos conseguem fazer a defesa dos territórios, falam também sobre política, a importância da participação da juventude nas eleições, buscando ainda engajar esses jovens através das mais diversas ferramentas, seja a internet, rádio ou até mesmo cartas. “Fazer a juventude ocupar espaços principalmente através da educação”, comentou.

Adrielly Pantoja conta que, no CEQ, há sempre uma movimentação para haver a garantia do acesso e permanência dos estudantes quilombolas na universidade. A jovem diz ainda que atua também como voluntária dentro da Federação das Associações Quilombolas de Santarém (FOQS).

A jovem quilombola fala dos problemas relacionados aos territórios, “não é respeitado, então se o povo não tem a sua terra, como ele vai expressar sua cultura?”. Adrielly traz como exemplo de impactos das mudanças climáticas na cultura, o Festival do Açaí, que é realizado anualmente no quilombo de Murumuru, ela conta “que todo ano tem açaí, mas a qualidade do açaí não é mais a mesma de anos atrás”.

 

Da esquerda para a direita, estão: Jaciara Borari, Walter Kumaruara, Adrielly e Marcela Acioli. Foto: Tapajós de Fato

Ela comenta também que a UFOPA tem realizado pesquisas para entender porque o açaí tem perdido qualidade, mas que no fundo os moradores sabem que essa queda na qualidade ocorre por conta do avanço do agronegócio na região, e isso tem influenciado diretamente nas produções familiares.

Marcela Acioli falou durante a roda de conversa que a crise climática altera o comportamento da fauna. Ela conta que essa alteração mexe com as culturas, e traz como exemplo o festival do acarí. “Se você tem uma seca extrema, imagina que você não vai ter acarí naquele festival”, mostrando como as mudanças climáticas geram outras mudanças e muitas delas geram apenas impactos negativos para as pessoas.

Acioli fala ainda das mudanças que estão ocorrendo no calendário agrícola. “A época de plantar está mudando e isso tem a ver com a nossa cultura e com nossos modos de vida, pois muitas populações fazem festivais para celebrar a colheita do que produzem... imagina os povos que fazem a festa da chuva e chega no período não tem chuva? A crise climática afeta a nós em todos os setores da nossa vida”.

Os jovens afirmam que para que as florestas sejam mantidas de pé, é fundamental que todos estejam envolvidos nesse processo de defesa. Walter acredita que “a cultura tem um papel fundamental, as nossas danças, o nosso jeito de viver é o que faz com que as nossas florestas continuem de pé”. O jovem ressalta ainda que preservar a Amazônia não é apenas preservar as florestas e os rios, mas também as pessoas que estão diariamente fazendo a defesa dos rios e das matas, “é necessário preservar a nossa cultura”.

Quando o tema das grandes empresas entrou na pauta, foi levantado a fala de que não se pode pensar em projetos para os povos tradicionais sem consultá-los, “nada sobre nós, sem nós”. O modelo de desenvolvimento está diretamente ligado à crise climática. Mesmo que alguns atores sejam impactados a curto prazo, a longo prazo todos serão impactados, finalizou Marcela Acioli.

Foto: Tapajós de Fato

 

Link: https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/844/festival-dos-rios-realiza-roda-de-conversa-sobre-os-impactos-das-mudancas-climaticas-na-cultura-dos-povos-do-tapajos