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Criado em 15 de Dezembro de 2022 às 17:56

Saúde indígena: povo Tupinambá realiza assembleia para debater a saúde no território

30/11/2022 -TAPAJÓS DE FATO - Ufopa citada

15 de Dezembro de 2022 às 17:56

Saúde indígena: povo Tupinambá realiza assembleia para debater a saúde no territórioOs moradores relatam a falta de compromisso e o descaso do poder público quanto à saúde dentro do território, especialmente com relação às dificuldades de deslocamento, que é necessário para garantir os atendimentos.
30/11/2022 às 17h00Por: Dalila BrandãoFonte: Tapajós de FatoCompartilhe:Foto: Tapajós de Fato    Foto: Tapajós de Fato
No último dia 25/11, na aldeia de Suruacá, situada na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (Resex), o Conselho Indígena Tupinambá (Citupi) realizou uma assembleia para tratar questões relacionadas à saúde indígena do território.

A assembleia contou com a participação de lideranças, conselheiros e moradores, além de representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), discentes da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e profissionais da saúde. 

 

Os moradores relatam a falta de compromisso e o descaso do poder público quanto à saúde dentro do território, especialmente com relação às dificuldades de deslocamento, que é necessário para garantir os atendimentos, tendo em vista que a maior parte deles não são realizados por vias terrestres, sendo as embarcações as mais utilizadas, o que causa muita demora.

 

Dentre as principais demandas, destaca-se a construção de Unidades Básicas de Saúde Indígena (UBSI), para melhor atender as demandas dos moradores, almejando melhorias na saúde, que se encontra em estado de vulnerabilidade nesse período pós pandemia. 

 

Gilson Tupinambá, cacique da aldeia Papagaio, espera que se não houver condições para a criação de novas UBSIs, que, pelo menos, sejam encontrados mecanismos para ampliar e equipar as unidades que já existem e dar condições mínimas de trabalho para que os profissionais da saúde possam trabalhar.

 

“Se no Parauá já tem uma Ubsi, eu acho que tem a possibilidade de fazer uma ampliação para que se possa também dar condições mínimas de atendimento. [...] O que falta para o médico ou enfermeiro para que ele tenha condições mínimas de estar ali? Então, eu acho que a gente precisa fortalecer isso, precisa partir para a discussão do que a gente pode fazer, pois já tem algum começo”.

 

Outro ponto de destaque nas discussões foi a questão da saúde das gestantes. As mulheres resistem ao parto hospitalar, preferindo o método tradicional e cultural de parto, realizado em casa e com o auxílio de parteiras, isso porque não confiam no sistema de saúde que, segundo eles, é precário e racista.  

 

Raquel Tupinambá, cacica geral da aldeia Surucuá, trouxe relatos das mulheres que realizaram o parto hospitalar e foram mal tratadas pelos profissionais da saúde.

 

“As mulheres que já tiveram filhos lá sabem o tratamento que as enfermeiras dão para elas. Então, como que a gente vai parir um filho num lugar em que a gente não se sente confortável? E eu estou acompanhando casos de parentes que estão lá há 3 ou 4 dias com um tratamento terrível, passando por momentos de dor e tendo que ouvir palavras de cunho racista e preconceituoso”.

 

Mercúrio no rio Tapajós: os impactos na saúde indígena

 

Durante a tarde, os presentes na assembleia aproveitaram para discutir a questão da mineração ilegal e os impactos na sáude das populações indígenas causados pela contaminação de mercúrio. 

 

Estudos recentes realizados pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em parceria com outras organizações, subiu um alerta sobre os níveis de contaminação no organismo dos moradores que vivem às margens do rio Tapajós. 

 

As operações de extração do ouro, por exemplo, acabam despejando grandes quantidades do metal nos rios, que comprometem a qualidade da água, além de causarem o seu assoreamento (mudanças na cor e no fluxo das águas pelo acúmulo de sedimentos) e a contaminação de peixes, principal fonte de alimentação das comunidades que vivem às margens dos rios. Diante disso, os aldeados se sentem desprotegidos e temem grandes desastres, caso medidas de combate a essa prática ilegal não sejam tomadas urgentemente.

 

Foto reprodução

 

“Ouvindo essa discussão sobre contaminação por mercúrio, para nós, é como uma questão de alerta já que a nossa alimentação principal é o peixe. E pra gente, pensar que as crianças, já desde de pequenas, podem estar tendo esse contato com o mercúrio é algo que a gente tem se preocupado. E o peixe é algo cultural nosso, apesar de que, é claro, a gente tem outras fontes de proteína como a carne de caça ou a galinha caipira. Então a gente precisa pensar quais alternativas podemos estar fazendo para diminuir o nosso consumo de peixe, não deixando de ter uma alimentação saudável e sempre pensando nesses impactos”, relata Mariane Chaves, moradora da aldeia de Surucuá.

 

Para Gilson Tupinambá, “é preciso um projeto de prevenção forte e comprometido na região do Baixo Tapajós, para encontrar maneiras eficazes de diminuição do metal no organismo das populações ribeirinhas”, que são as principais afetadas.

 

Diante do descaso e negligência do poder público, os moradores das regiões de rios precisam se reinventar, utilizando todas as ferramentas à sua disposição, alterando seu modo de viver tradicional em uma luta constante em defesa da vida e do meio ambiente.

 

Link: https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/993/saude-indigena-povo-tupinamba-realiza-assembleia-para-debater-a-saude-no-territorio