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Criado em 19 de Setembro de 2022 às 10:28

Professores da Ufes publicam dossiê sobre intervenções nas instituições federais

08/09/2022 - Século Diário - Ufopa citada

19 de Setembro de 2022 às 10:28

Professores da Ufes publicam dossiê sobre intervenções nas instituições federais


Livro denuncia medidas do Governo Bolsonaro, como a invenção do termo balbúrdia e a não nomeação de reitores eleitos

 ELAINE DAL GOBBO
 
A Invenção da Balbúrdia: Dossiê Sobre as Intervenções de Bolsonaro nas Instituições Federais de Ensino Superior é o tema do livro organizado pela Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes), lançado nesta semana, em Vitória, e já disponível para download, no site da entidade. 

"O título faz referência ao termo balbúrdia, utilizado pelo ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, como uma tentativa sistêmica de desqualificação das universidades e institutos federais. Foi produzida uma ideia de balbúrdia, de confusão, de falta de compromisso, vagabundagem, de forma a abrir espaço para intervenções de todos os tipos", explica a presidente da Adufes, Junia Zaidan, autora da obra junto com a professora do Centro de Educação, Ana Carolina Galvão; e do professor do Departamento de História, André Ricardo Pereira.

 
Sérgio Cardoso
O livro é um dossiê sobre as intervenções realizadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) nas universidades federais, em dois institutos federais, do Rio Grande do Norte e Santa Catarina; e no Centro Federal Tecnológico do Rio de Janeiro (Cefet/RJ), entre 2019 e março de 2022. 

Essas intervenções, ressalta Junia, são ações como os programas de privatização e intervenções políticas, como a não nomeação de reitores eleitos. "Inventaram o termo balbúrdia, algo que não existe, para indignar a população com base em uma mentira, critica. Ela ressalta que as intervenções feitas nas universidades, nomeando reitores que não foram escolhidos pela comunidade acadêmica, "não são circunstanciais".

"As razões das intervenções não são técnicas nem administrativas, são políticas. Vivemos um momento de autoritarismo, obscurantismo, perseguição política, imposição do pensamento único e supressão dos pensamentos plurais", denuncia.

Uma das universidades em que o governo federal interviu na nomeação da reitoria foi a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Em consulta realizada em 6 de novembro de 2019, a professora do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e vice-reitora da universidade, Ethel Maciel, foi eleita reitora pela comunidade acadêmica. Entretanto, Bolsonaro nomeou o atual reitor, Paulo Vargas, cujo nome estava na lista tríplice. Ethel fez parte da mesa de debate do lançamento do livro, nessa quinta-feira (15).
 
Sérgio Cardoso
Conforme consta no dossiê, o Brasil conta com 69 universidades federais. Destas, seis são recentes e não possuem estatutos aprovados pelo Ministério da Educação (MEC), o que faz com que a direção seja entregue a um reitor ou reitora pró-tempore: Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Universidade Federal de Catalão, Universidade Federal de Jataí, Universidade Federal de Rondonópolis e Universidade Federal do Norte do Tocantins.

O livro foi concluído em fevereiro deste ano, quando oito universidades ainda passariam por consultas e formação de listas tríplices: Universidade Federal do Oeste do Pará, Universidade Federal do Sul da Bahia, Universidade Federal do ABC, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal do Acre, Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal do Amapá e Universidade Federal Fluminense.

Ainda de acordo com os autores, durante o mandato de Bolsonaro, 55 universidades fizeram consultas às suas comunidades acadêmicas e formaram listas tríplices. Duas estão com suas listas no MEC, esperando pelo decreto de nomeação: a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal de Alfenas. "Não sabemos, portanto, o que vai acontecer com elas, nem com as oito citadas acima, num total de dez casos que ainda podem se encaixar na categoria aqui chamada de intervenção", afirmam.

Ao todo, 22 instituições de ensino sofreram intervenções. Uma delas, a Universidade Federal da Grande Dourados,  que passou por isso duas vezes, totalizando, portanto, 23 intervenções, dez na gestão de Weintraub e 13 na de Milton Ribeiro. "Na Universidade Federal de Sergipe, a Justiça determinou que alguém da lista fosse escolhido, com o primeiro nome sendo indicado em 18 de março de 2021, encerrando, portanto, a intervenção ali", relatam.

A intervenção de 2020 não foi a primeira na Ufes. Conforme consta no livro, o primeiro reitor eleito foi o professor Manoel Xavier Paes Barreto Filho, que esteve à frente da universidade entre 1963 e 1964, quando foi exonerado por intervenção do regime ditatorial. Em 1983, entidades representativas da comunidade acadêmica pressionaram pela realização de eleições diretas para a reitoria e vice-reitoria. Mas o processo não foi realizado, acontecendo somente em 1987, com a inscrição de cinco chapas, sendo eleito Rômulo Augusto Penina.

 

Link: https://www.seculodiario.com.br/educacao/intervencoes-de-bolsonaro-nas-instituicoes-federais-sao-reunidas-em-dossie