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Criado em 5 de Junho de 2023 às 17:23

Desmatamento da Amazônia é responsável pela cheia mais fraca do rio Tapajós em 2023

29/05/2023 - TAPAJÓS DE FATO - Ufopa citada

5 de Junho de 2023 às 17:23

29/05/2023 às 16h32Por: João SerraFonte: Tapajós de FatoCompartilhe:Tapajós de Fato    Tapajós de Fato
Quem passa pela frente da cidade de Santarém deve ter percebido que, este ano não foram instaladas as bombas que devolvem para o rio as águas que avançam pelas ruas do centro da cidade, o motivo não é por conta da obra de ampliação realizada na orla da cidade, mas sim pelo fato de que o nível da cheia do rio Tapajós foi menor que em outro anos. 

Segundo informações da Defesa Civil do Pará, órgão que monitora a movimentação da cheia, em 2023, nem o decreto de emergência foi necessário devido a cheia ter sido menor. Ainda de acordo com a Defesa Civil, o rio costuma subir até o dia 25 do mês de maio, portanto, o que até então era comum, as principais ruas do centro estarem cobertas por água e cortadas por passarelas de madeira, este ano não ocorreu.

 

Todos os anos quando o rio atinge a cota de 7,10cm, a Defesa Civil emite o alerta, identificando o alto nível das águas, esse alerta, geralmente era feito ainda nos meses iniciais da cheia, mas em 2023 o alerta foi emitido apenas no mês de abril. O rio está cerca de 70 centímetros abaixo do nível de 2022.


O Tapajós de Fato entrevistou o Professor Doutor Roseilson do Vale, do curso de Ciências Atmosféricas da UFOPA, ele explica que, mesmo sendo uma seca menor, continua dentro da média. “Não houve nenhum fenômeno meteorológico determinante para que o nível desse ano fosse inferior ao do ano passado… está dentro da média, o rio tem variações”, explica. 

O professor ressalta que, por mais que tenham ocorrido muitas chuvas  em outras regiões, “isso não chegou a influenciar as águas da região do Baixo Amazonas”. 


O professor explica que as mudanças climáticas devem intensificar um padrão em que onde chove muito deve ter mais chuvas e onde chove pouco, a chuva deve diminuir ainda mais. Outro ponto destacado, é o nível do rio Tapajós que é ditado também pelas águas do rio Amazonas, “o regime de descida e subida no rio Tapajós é definido pelo Amazonas… por mais que a nascente do Tapajós seja no Mato Grosso", comenta.

Não necessariamente a seca do rio Tapajós será mais forte, “as secas fortes são definidas por conta do comportamento do fenômeno  El Niño, alterações significativas na distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico”, portanto, é preciso acompanhar como isso vai ocorrer nos próximos meses, segundo o professor, para poder afirmar.

Roseilson  explica que “apesar da crise climática já estar acontecendo”, o que a gente vivencia hoje é “resultado direto do desmatamento”. Esse efeito da mata retirada, que vai ocasionar no nível e da evasão do rio, vai ser um pouquinho lento porque é integrado, o que a gente está sentindo, hoje, são efeitos das ações do passado ", explica.

 

    O professor atua em hidroclimatologia / Foto: Acervo pessoal
 

No entanto, o  El Niño “vai ser o evento climático mais determinante, impacta diretamente na chuva e, consequentemente, vai refletir na vazão do rio e a outra coisa é a questão do desmatamento, a floresta ajuda na produção da chuva”. Segundo o professor da UFOPA: “esses eventos climáticos vão trazer consequências de eventos extremos que têm se tornado mais frequentes que nos anos anteriores e já é um reflexo das mudanças climáticas”, explicou. 


O Tapajós de Fato entrevistou  Jucimara Santos, do quilombo de Arapemã, localizado na frente da cidade de Santarém, região de várzea. Ela fala que “diante da comparação da enchente do ano passado, essa foi bem menor”. 

 


Quando as cheias são fortes, Jucimara explica que adaptações são necessárias para passar o período: “pequenas construções de moradias para os animais de pequeno porte como galinha, pato, cachorro e porco, os demais animais de grande porte são levados para as colônias como os cavalos, os bovinos e bubalinos”, e ela ainda completa que esse ano não foi necessário.

 

     Jucimara Santos / Foto: Arquivo pessoal
 

As populações das regiões de várzeas já estão acostumadas com a dinâmica das águas amazônicas. Jucimara comenta que essa alteração no nível das águas pode ser relacionada aos efeitos dos danos ambientais e climáticos. “É algo prazeroso conviver com o contato bem próximo das águas, porém têm as dificuldades, se não tivessem seria uma maravilha conviver com a mudança climática das chuvas e das águas”.

 

    Em outros anos o quintal estaria coberto por água / Foto reprodução de Jucimara Santos 
 

Com o nível menor das águas, o professor comenta que surgem doenças, pois, "observa-se que a cheia pequena contribui com essas doenças, onde a população é obrigada ter o contato direto com o solo úmido, ora quente, ora frio e encharcado, por conta do acesso dos meios de transporte não chegarem até às residências e nem todas as famílias têm condições de ter trapiche em sua casas e por isso, precisam na maiorias das vezes andar por água ou lama para chegar às suas casas”, finaliza.

 

    Para evitar pisar diretamente no barro mole, as pontes improvisadas são colocadas  pelo quintal / Foto reprodução de Jucimara Santos

 

Link: https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/1153/desmatamento-da-amazonia-e-responsavel-pela-cheia-mais-fraca-do-rio-tapajos-em-2023