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Criado em 15 de Maio de 2023 às 15:12

El Niño pode promover temporada de incêndios intensa e devastadora na Amazônia

15/05/2023 - Pará Terra Boa - Ufopa citada

15 de Maio de 2023 às 15:12

El Niño pode promover temporada de incêndios intensa e devastadora na Amazônia
 

Foto: Doug Morton/ Nasa
 
Recentemente, a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) divulgou uma atualização das suas previsões para o clima, indicando uma alta probabilidade de que o fenômeno climático conhecido como El Niño ocorra com grande intensidade no segundo semestre de 2023.

Pesquisadores dizem que esse evento pode ter consequências graves para a região amazônica, pois pode promover uma temporada de incêndios intensa e devastadora, segundo informações do O Eco.


Como já publicamos aqui no Pará Terra Boa, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que entre agosto de 2022 e abril de 2023, aproximadamente 6 mil km² de floresta foram derrubados e outros 15 mil km² foram degradados. Esses dados estão diretamente ligados ao El Niño, que exerce uma influência significativa no desmatamento.

“No El Niño, a Amazônia se torna ainda mais quente e mais seca do que ela já está por causa das mudanças climáticas, ou seja, o fenômeno tem um efeito mais forte, porque está agindo em cima de uma floresta que já está modificada em termos de clima. Além disso, é um ano que a gente sabe que está com muito desmatamento, muita derrubada que não foi queimada, o que significa que vai ter muita fonte de ignição, muito fogo de desmatamento que pode escapar para dentro das florestas”, explicou Erika Berenguer, pesquisadora das Universidades de Oxford e Lancaster (Reino Unido) que estuda degradação florestal, fogo e desmatamento, ao O Eco.

De acordo com a fonte, as mudanças climáticas já fizeram a Amazônia ficar 1,5ºC mais quente e com períodos de seca que duram uma semana a mais do que  os registrados na década de 1970. Além disso, a combinação das mudanças climáticas, do El Niño e da grande quantidade de matéria orgânica no solo da floresta resulta em uma área altamente suscetível a incêndios.

“Como a Amazônia é muito úmida, em anos sem El Niño, quando o fogo entra no chão da floresta, na liteira, como é chamada essa camada de folhas e galhos caídos no chão, mesmo na estação seca, o fogo morre. Durante um El Niño isso não acontece, o fogo entra e se propaga e é muito difícil combater o fogo dentro da floresta amazônica”, diz Erika.

Série de secas
Entre 2015 e 2016, uma série de secas severas causadas pelo El Niño afetou a Amazônia, resultando na morte de cerca de 2,5 bilhões de árvores e cipós devido à falta de umidade e incêndios. Isso ocorreu em uma área que representa apenas 1,2% de toda a floresta tropical brasileira, mostrando a gravidade do problema.

Historicamente, o fogo tem sido utilizado como a última etapa do processo de desmatamento. Primeiro, é usado um trator de esteira para derrubar as árvores, retirando as toras de madeira valiosas. Depois disso, o restante da matéria orgânica é queimado para limpar a região. Além disso, as chamas também são usadas para limpar pastos e áreas de cultivo.

“Tivemos um final de ano com muito desmatamento. Só que não dá para queimar esse desmatamento no final do ano, quando ainda é muito úmido. Os desmatadores estão esperando o verão amazônico, a estação seca. Acredito que a gente vai ter muito, mas muito fogo escapando pra dentro da floresta, por isso eu que estou muito apreensiva. Para evitar uma verdadeira catástrofe, logo no primeiro ano do governo Lula a gente precisa de medidas imediatas de combate à degradação”, diz.

Árvores mais suscetíveis
Normalmente, cerca de 50% das árvores na Amazônia morrem após um incêndio. No entanto, um novo estudo publicado na revista Nature no final de abril revelou que as árvores na região Sul da floresta tropical são ainda mais suscetíveis a morrer devido às mudanças climáticas e aos padrões de chuva.

O estudo foi realizado por 80 pesquisadores de instituições brasileiras e internacionais, como a Universidade de Campinas, a Universidade do Estado de Mato Grosso, a Universidade Federal do Oeste do Pará e a Universidade de Leeds, no Reino Unido. Os resultados indicaram que as árvores nesta região da Amazônia já podem estar no limite fisiológico para sobreviver às condições atuais.

Os autores do estudo afirmam que identificar a vulnerabilidade das árvores em diferentes regiões da Amazônia pode ser útil para implementar políticas de conservação em áreas mais suscetíveis a eventos climáticos extremos, como os que podem ser causados pelo El Niño.