Ultima atualização em 23 de Agosto de 2024 às 18:49
17 de Agosto de 2024 às 13:40
Docentes e técnicos do Instituto de Ciências da Educação (ICED) participaram de uma ação de formação na Aldeia Indígena Açaizal, organizada pela direção do Instituto. O evento incluiu uma visita a uma das escolas públicas da aldeia e uma mesa-redonda com o tema: “Impactos dos cursos da UFOPA nos discentes de comunidades indígenas - Avanços e perspectivas.”
Os servidores tiveram a oportunidade de visitar as instalações da Escola Indígena Municipal Wapurum Tip, onde foram calorosamente recebidos por alunos e professores. A recepção incluiu apresentações de dança, músicas no idioma Munduruku e uma oferta de diversas frutas.
O diretor da Escola, Elias Morais da Silva, que também é ex-aluno do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Iced, conduziu a recepção agradecendo a visita e compartilhando parte da história da Wapurum Tip. Ele destacou as lutas e conquistas que marcaram o desenvolvimento da escola, desde a escolha do nome até a concepção das salas de aula, cuja arquitetura reflete o contexto cultural indígena. As salas têm um formato octogonal, com os alunos sentados em círculo, em vez de fileiras, como é comum na maioria das escolas. Essa disposição visa fortalecer a percepção de igualdade e colaboração, entre outras abordagens pedagógicas. Elias Silva também mencionou as diversas intercorrências enfrentadas desde a fundação da escola e explicou como a política pedagógica é desenvolvida para oferecer conhecimento formal, enquanto sustenta a preservação e valorização da cultura indígena.
Em seguida deu-se a composição da mesa redonda que foi composta pelo professor, Enéias Guedes, Professor do curso de Licenciatura em Geografia (Iced); Daniele Munduruku - Estudante indígena do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas/ ICED/ UFOPA; Maria Munduruku - Coordenadora da Associação Indígena Açaizal Sagrada Família (AIASF); Josenildo Munduruku, Cacique e docente da Escola Wapurum Tip e Isadora Pereira Andrade - aluna egressa do Curso de Licenciatura em Pedagogia (Iced).
Para início, tivemos a fala do Cacique Josenildo Munduruku, que enfatizou a importância da educação para o fortalecimento da identidade cultural. Ele discutiu os esforços da sua aldeia para preservar suas tradições e abordou a luta por melhores condições, respeito e reconhecimento das diversas realidades culturais no contexto educacional.
Em seguida, Isadora Pereira Andrade compartilhou sua experiência e os desafios que enfrentou durante a graduação. Embora superasse diariamente a distância entre a universidade e sua aldeia, o preconceito e a falta de compreensão sobre sua cultura criaram obstáculos significativos. Ela descreveu momentos de isolamento e desvalorização, mas destacou que seu desejo de aprender e de voltar à aldeia com o conhecimento adquirido foi mais forte. Daniele Munduruku, também presente na mesa, reforçou o relato de Isadora, mencionando que enfrenta os mesmos desafios, mas ressaltou que, em algumas situações, conseguiu encontrar apoio dentro da universidade.
Durante sua fala, Maria Munduruku mencionou essas dificuldades e destacou como a luta por uma educação digna tem sido constante para os membros da aldeia. Ela lamentou que, além dos desafios enfrentados para ingressar na universidade, o ambiente interno nem sempre é acolhedor. Por conta disso, muitos dos poucos que conseguem entrar acabam desistindo da formação, devido à falta de apoio e à hostilidade enfrentada no espaço acadêmico.
Enéas Guedes falou sobre os trabalhos de campo que tem realizado nas aldeias indígenas do planalto, destacando especialmente o projeto de mapeamento do território da Aldeia Açaizal, considerado uma importante contribuição para o processo de demarcação da área. Durante sua fala, o cacique Miguel interveio para relatar os grandes enfrentamentos que a aldeia tem sofrido em relação à demarcação de terras. Ele destacou que a aldeia está atualmente cercada por plantações de grãos e que a comunidade já foi alvo de graves intimidações. Um dos episódios mais emblemáticos ocorreu durante a visita de uma equipe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Durante uma reunião com a equipe, proprietários de terras que cultivam grãos como milho e soja tentaram intimidar os presentes, gerando grande transtorno. Esse relato ilustra as difíceis situações a que os membros da aldeia têm sido submetidos na luta pela demarcação de seu território.
Após essas falas, alguns docentes ofereceram contribuições ao debate, apresentando reflexões e propondo estratégias para melhorar tanto o acesso quanto a permanência dos alunos de origem indígena no ambiente universitário, principalmente dentro do Iced.
Durante a visita, os servidores tiveram a oportunidade de conhecer uma exposição de itens da Farmácia de produtos naturais. Nesse momento, a senhora Maria Munduruku explicou o processo de elaboração e as recomendações de uso dos produtos, que são fabricados por ela e outras mulheres da comunidade. Ela mencionou que a venda desses produtos ajuda a complementar a renda das mulheres, representando um importante auxílio para elas e suas famílias.
Os servidores participaram de uma oficina de grafismo conduzida por Darcio Cardoso Godinho e Cristian Renato Fonseca da Silva, ambos alunos da UFOPA. Durante a oficina, os ministrantes explicaram que cada povo indígena tem seus próprios desenhos, que representam e expressam significados culturais profundos e a identidade de cada grupo. Como exemplo, mencionaram a Aldeia Açaizal, cuja representação é a formiga de fogo, simbolizando a força que emerge da união e do trabalho colaborativo, valores fundamentais para a comunidade.
Essa foi a primeira visita promovida pela atual direção do Instituto a uma comunidade indígena, com o objetivo de proporcionar formação aos servidores. No próximo semestre, está prevista uma visita a uma comunidade quilombola, seguindo o exemplo do início deste ano.
A iniciativa da direção de promover formação continuada para docentes e técnicos, a partir dessas visitas, é um passo significativo para aprimorar a atuação da universidade em relação aos alunos oriundos de comunidades indígenas. Reconhecer e compreender a diversidade das realidades desses alunos é essencial para garantir um atendimento mais inclusivo e eficaz. Essa formação visa equipar os servidores com reflexões e conhecimentos que lhes permitam entender melhor as experiências e desafios enfrentados por esses estudantes.
Ao incorporar uma perspectiva mais ampla e respeitosa, a universidade pode promover um ambiente mais acolhedor e adaptado às necessidades específicas dos alunos. Isso não apenas facilita o acesso e a permanência desses estudantes, mas também enriquece a formação oferecida, integrando e valorizando o conhecimento proveniente de outras realidades. Essa abordagem contribui para uma educação mais inclusiva e equitativa, refletindo o compromisso da universidade com a diversidade e o respeito às diferentes culturas.