Criado em 6 de Fevereiro de 2025 às 19:31
Os resultados revelaram que a exposição a sinais químicos de predadores fez com que os girinos reduzissem sua atividade e passassem mais tempo escondidos, independentemente da temperatura, sugerindo que o risco de predação influencia diretamente seu comportamento.
O aumento das temperaturas globais e as mudanças nos ecossistemas estão afetando diversas espécies, e os anfíbios são um dos grupos mais sensíveis a essas mudanças. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Campus Oriximiná, fruto de um trabalho de conclusão de curso, revelou que os girinos da espécie Boana geographica, conhecida como perereca-geográfica, alteram seu comportamento quando expostos à presença de predadores e variações de temperatura.
A pesquisa avaliou como esses girinos respondem aos sinais químicos de predadores em diferentes faixas de temperatura. Os girinos foram inseridos em aquários em dois grupos, o controle, onde não havia o predador e outro onde havia um peixe predador, a traíra (Hoplias malabaricus). No segundo grupo, o tratamento, o predador foi isolado em um recipiente perfurado e imerso na água, permitindo a troca de água entre os ambientes, mas impedindo o contato visual com os girinos. Para os dois grupos, foram inseridos abrigos nos aquários para proporcionar refúgio aos girinos.
Desenho amostral do experimento
Os resultados revelaram que a exposição a sinais químicos de predadores fez com que os girinos reduzissem sua atividade e passassem mais tempo escondidos, independentemente da temperatura, sugerindo que o risco de predação influencia diretamente seu comportamento. À medida que a temperatura aumentava, os girinos passavam a buscar mais abrigo, um comportamento que pode ser interpretado como uma estratégia para reduzir o risco de predação. Em temperaturas mais altas, o metabolismo dos organismos aquáticos dos girinos se intensifica, aumentando a demanda por energia e, consequentemente, a necessidade de alimentação. Contudo, a presença de predadores representa um risco maior do que os benefícios de se alimentar ativamente. Por isso, os animais tendem a priorizar a sua segurança, buscando refúgios para evitar se tornarem presas.
Esses achados mostram a complexidade das interações entre os organismos e o seu ambiente. As mudanças climáticas, ao alterarem a temperatura da água, podem influenciar no comportamento dos girinos. A habilidade dos girinos de detectar sinais químicos de predadores e ajustar seu comportamento em resposta a essas ameaças demonstra uma notável adaptabilidade.
Figura : Girinos da perereca-geográfica (Boana geographica) em seu ambiente natural. Créditos: Marcos Dubeux.
(Escrito pelas biólogas Alessandra Albuquerque e Diuliane Marinho)
Referência:
Albuquerque A, Marinho D, Narciso CS, Pinheiro JV, Castro DP, Giglio VJ (2025) Temperature and predator cues shape antipredator behavior in Amazonia tadpoles. Ethology, Ecology & Evolution. DOI 10.1080/03949370.2024.2444268 (o artigo pode ser acessado gratuitamente através desse link)