Criado em 21 de Maio de 2019 às 16:05
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assistência Estudantil (Fonaprace) apresentaram na última quinta-feira, 16 de maio, os resultados da V Pesquisa do Perfil dos Graduandos das Universidades Federais. Em coletiva de imprensa realizada em Brasília (DF), os dirigentes da associação ressaltaram que os dados constituem um importante instrumento para auxiliar na formulação de políticas públicas.
A pesquisa mostra um retrato bastante detalhado dos alunos de cursos de graduação das 63 universidades federais do País. Realizado em 2018, o trabalho envolveu, inicialmente, um levantamento de dados que vão desde o perfil básico, como gênero, raça e idade, até os caminhos percorridos pelos graduandos a partir da educação básica. Em uma segunda fase, os estudantes responderam a um questionário com mais de 80 questões. De um universo composto por mais de 1,2 milhões de estudantes que cursam o ensino superior nas universidades federais brasileiras, cerca de 35% participaram da pesquisa, um pouco mais de 420 mil alunos.
Coordenado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com a participação de especialistas de outras universidades, o relatório executivo da pesquisa destaca a significativa transformação ocorrida nas universidades nos últimos 15 anos, em função de políticas educacionais que garantiram uma democratização no acesso ao ensino superior federal público.
Segundo o relatório, a ampliação do número de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), cursos e vagas, da interiorização dos campi, da maior mobilidade territorial via Enem/Sisu e da reserva de vagas para estudantes com origem em escolas públicas, por meio de cotas (renda, PPI – pretos, pardos e indígenas – e pessoas com deficiência) modificaram radicalmente o perfil da recente geração de discentes dos cursos de graduação das universidades federais. A pesquisa mostra, por exemplo, que as mulheres são maioria dentre os graduandos. Elas correspondem a 54,6% dos estudantes das federais.
Outro ponto importante: pela primeira vez, foi constatada a presença majoritária de negros nas universidades. Atualmente, eles correspondem a 51,2% dos alunos das Ifes, percentual que se aproxima da realidade da população brasileira, composta em 60,6% por negros. Para o representante do Fonaprace, professor César Augusto Da Ros (UFRJ), “a lei de cotas vem contribuindo para a dívida histórica da sociedade brasileira com a população negra do País”.
A pesquisa também demonstra que a maioria dos estudantes frequentou escolas públicas no ensino médio. Integral ou parcialmente, 64,7% dos jovens provêm de escolas da rede pública. Além disso, o trabalho evidencia o crescimento anual do número de alunos que se encaixam no perfil de cobertura do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes).
Os resultados mostram que, em 2018, 70,2% dos estudantes se encaixam na faixa de vulnerabilidade, com renda familiar de até 1,5 salários mínimos por pessoa, constituindo-se, assim, em público-alvo do Pnaes. No estado do Pará, por exemplo, 88% dos graduandos tem renda familiar per capita de até um salário mínimo.
Apesar do crescimento no número de alunos com esse perfil, os recursos destinados à assistência estudantil, de forma a garantir a permanência dos alunos na universidade, não tem acompanhado a demanda. O Pnaes dedicou, até 2016, volumes crescentes para as políticas de permanência, saindo de R$ 125 milhões em 2008, para pouco mais de R$ 1 bilhão em 2016. Mas, a partir de 2016, os recursos vêm caindo. Em 2017, foram R$987 milhões e, em 2018, R$957 milhões.
Segundo o vice-presidente da Andifes, reitor João Carlos Salles (UFBA), já há demanda estudantil não atendida. Atualmente, dos 70,2% de alunos que se encaixam no perfil de vulnerabilidade, apenas 30% são atendidos. “Precisamos ter um olhar mais ampliado para a assistência estudantil, para além da assistência econômica. A permanência do aluno precisa ser pensada com multiplicidade de ações, combatendo a evasão”, analisou César Da Ros.
Outro sinalizador importante é a evolução das formas de ingresso nas universidades federais. Em 2005, quase 97% dos calouros ingressavam via ampla concorrência. A partir da implantação da lei de cotas, esse número foi caindo. Em 2018, está praticamente igualado em 50% o percentual de ingressantes pelo sistema de cotas e pela ampla concorrência. Na região Norte, detentora do maior percentual de cotistas do País, em 2017, 53,1% dos novos estudantes entraram nas universidades através do sistema de cotas.
A Ufopa foi uma das universidades que participaram da pesquisa. Quase 800 alunos da instituição responderam ao questionário em 2018. Até o momento, a Andifes divulgou apenas o relatório executivo da pesquisa. Em breve será publicado o relatório completo, incluindo os dados específicos de cada instituição de ensino.
Conheça aqui os resultados da V Pesquisa do Perfil dos Graduandos das Universidades Federais.
Renata Dantas - Comunicação/Ufopa
20/5/2019