Desculpe, o seu navegador não suporta JavaScript!

Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 23 de Fevereiro de 2022 às 17:28

José Seixas Lourenço - entrevista (Beira do Rio, março 2011)

UM NOVO MODELO ACADÊMICO PARA A AMAZÔNIA
(entrevista ao Beira do Rio, março 2011)

 

José Seixas Lourenço, reitor pro tempore da Ufopa

Criada pela Lei nº 12.085, de 5 de novembro de 2009, por desmembramento das unidades da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) tem o objetivo de ministrar ensino superior, desenvolver pesquisa nas diversas áreas do conhecimento e promover a extensão universitária nesta vasta região da Amazônia.

Em plena construção, a Universidade recebeu em março 1.200 alunos, a primeira turma selecionada por processo seletivo que adotou integralmente as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ingressando em estrutura acadêmica inovadora.

Em entrevista ao Beira do Rio, o reitor pro tempore da UFOPA, Prof. José Seixas Lourenço, ex-reitor da UFPA, ex-diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), fala sobre o desafio de implantar a primeira universidade federal no interior da Amazônia.

BR – Como surgiu a proposta de criação da UFOPA?

José Seixas Lourenço: O projeto inicial de implantação da UFOPA, com atuação multicâmpi e sede em Santarém (PA), foi entregue ao ministro da Educação, Fernando Haddad, por ocasião da solenidade de celebração dos 50 anos da UFPA, em julho de 2007. A proposta recebeu, de imediato, a adesão da comunidade científica nacional.

Outro fator que contribuiu para a sua criação foi a disposição do governo federal em expandir a rede de ensino superior e ampliar os investimentos em Ciência e Tecnologia. A criação da UFOPA, com desmembramento da UFPA e da UFRA, atende a esses propósitos e também às demandas de uma região com economia e cultura peculiares.

BR – O que a sociedade pode esperar dessa Universidade? Qual o seu diferencial?

José Seixas Lourenço: O objetivo maior da criação da UFOPA é a construção da cidadania por meio de produção de conhecimento, inovação tecnológica, soluções sociais inovadoras (fomento de ideias) e formação de recursos humanos qualificados, ou seja, quadros profissionais competentes a serviço da sociedade. A UFOPA tem por princípio a relevância social traduzida, por um lado, em formar e pesquisar por meio do engajamento social do trabalho acadêmico. A formação de nível superior, para estar comprometida, de fato, com o desenvolvimento regional, não pode ficar confinada às salas de aula, aos laboratórios, nem aos muros dos campi. O contato orientado do aluno com a realidade circundante é a verdadeira pedagogia, o que tem inspirado o conteúdo curricular dos cursos e das demais atividades acadêmicas da nova universidade.

BR – Quais foram as prioridades do primeiro ano da Universidade?

José Seixas Lourenço: Em primeiro lugar, a criação do Conselho Consultivo da UFOPA, com representantes de diferentes segmentos da sociedade, em respeito ao princípio da gestão democrática do ensino público. Em seguida, a consolidação da nova estrutura acadêmica, que vinha sendo elaborada desde 2008 pela Comissão de Implantação da Universidade, criada pelo MEC e presidida por mim. Alvo de muitas discussões abertas à comunidade, o modelo acadêmico da UFOPA estrutura-se nos princípios da inovação, interdisciplinaridade, flexibilidade curricular e formação em ciclos, visando à educação continuada. Entre as conquistas, está o primeiro processo seletivo, utilizando exclusivamente o ENEM, com 17.585 inscritos.

Isto comprova a aceitação do novo modelo acadêmico. Outro ponto fundamental foi a fixação de profissionais qualificados. Com a realização de concursos, triplicamos, em apenas um ano, o efetivo de docentes e de técnicos. A estruturação dos nossos campi em Santarém foi outra prioridade. Conseguimos a incorporação da área da SUDAM ao Campus Tapajós, que agora conta com 16 hectares, e estamos investindo mais de R$ 10 milhões em obras, como a construção de dois grandes prédios que abrigarão laboratórios e salas de aula.

BR – Na década de 80, quando era reitor da UFPA, o senhor deu início ao processo de interiorização da Universidade no Estado, na época, uma experiência inovadora. A criação da UFOPA está ligada a esse processo ou é algo independente?

José Seixas Lourenço: Sim, entendo que a UFOPA está ligada à necessidade de ampliação da oferta de vagas no interior da Amazônia. Em 1985, assumi a Reitoria da UFPA e, já no ano seguinte, demos início ao ousado projeto de interiorização com a criação de oito campi em cidades do interior. Naquela época, não tínhamos apoio federal e fomos muito criticados por diversos setores da Instituição.

Os cursos de licenciatura receberam muitos alunos que já atuavam como professores, o que resultou numa significativa melhoria na qualidade da educação. Enfim, considero que a UFOPA é, sem dúvida, o fruto que amadureceu mais rapidamente com o processo de interiorização da UFPA.

BR – Uma das propostas da Universidade é o investimento em pós-graduação. Como estão as perspectivas nesta área para 2011?

José Seixas Lourenço: Consideramos a pós-graduação absolutamente essencial. Em março de 2009, antes da criação oficial da UFOPA, a Universidade já tinha um Mestrado em Recursos Naturais da Amazônia, que, hoje conta com 30 alunos. Recentemente, a CAPES aprovou o Mestrado em Matemática, que já conta com mais de 300 candidatos inscritos para 15 vagas. A aula inaugural está marcada para o dia 2 de abril próximo. Estimulados pela CAPES, já encaminhamos novas propostas de criação de mestrados nas áreas de Águas e Florestas, além de uma proposta de doutorado interinstitucional em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento. Temos, também, pelo menos cinco cursos de especialização implantados ou em fase de implantação.

BR – Mesmo estando em pleno funcionamento, a UFOPA ainda está em construção. Quais as perspectivas em termos de infraestrutura?

José Seixas Lourenço: Primeiro, completar os investimentos iniciados em 2010, como as construções do prédio que abrigará o Instituto de Ciências da Educação no Campus Rondon, e do Centro de Formação Interdisciplinar, no Campus Tapajós. Estão previstos para 2011 mais de 36 milhões em investimentos, cujas prioridades serão a construção do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) e a Biblioteca Central, ambos no Campus Tapajós.

BR – O que o senhor tem a dizer sobre as críticas que o modelo acadêmico da UFOPA recebe?

José Seixas Lourenço: O novo modelo acadêmico visa atender aos interesses maiores da sociedade e seu futuro, e não aos corporativismos internos ou às receitas ideológicas ultrapassadas. Isto exige muito mais criatividade dos professores, pois se trata de conceber o “novo”, mais que a transposição dos modelos de formação já vigentes, muitas vezes inadequados à realidade social regional. Deveríamos nos inspirar nos versos de Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo. E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.”

Portanto, mudança é travessia e, no contexto da nossa nova universidade, exige, além da ousadia, um percuciente olhar rumo às novas gerações numa perspectiva amazônica.

 

Entrevista publicada em março de 2011 no Beira do Rio, jornal da UFPA.
Reproduzida em: Jornal da Ufopa, Santarém (PA), ano I, n. 3, p. 8, maio de 2011.