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Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 23 de Fevereiro de 2022 às 17:29

José Seixas Lourenço - entrevista (Diário do Pará, julho 2012)

“SOMOS UMA UNIVERSIDADE QUE ASSOCIA PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO”
REITOR DA UFOPA FALA DOS DESAFIOS DA UNIVERSIDADE

(entrevista ao Diário do Pará, julho de 2012)

 

José Seixas Lourenço, reitor da Ufopa

Criada em 2009, quando se tornou a primeira universidade pública federal com sede no interior da Amazônia, a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) completa três anos em novembro e segue promovendo avanços na região, agora com a implantação do Parque de Ciência e Tecnologia do Tapajós, que começa a ganhar espaço. A instituição oferece atualmente 33 cursos de graduação, dois mestrados e um doutorado e mantém o foco na expansão do conhecimento científico sem perder de vista a função social.

À frente da instituição desde a criação, o atual reitor, José Seixas Lourenço, que já comandou o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Universidade Federal do Pará (UFPA), fala sobre o dia a dia da produção de conhecimento científico no interior da Amazônia e dos novos desafios da instituição. Em relação às denúncias de irregularidades na administração, Seixas diz que não há fundamento.

A criação da UFOPA foi muito comemorada e representou uma grande conquista para o Estado. Como se deu o processo de implantação da universidade?

A UFOPA é a primeira universidade pública federal que tem sede estabelecida no interior da Amazônia, isso é realmente um fato auspicioso. A origem da universidade remonta a uma decisão de pelo menos 25 anos atrás, da Universidade Federal do Pará, em buscar a interiorização. Não foi uma decisão fácil, sofremos certa resistência, inclusive de segmentos dentro da própria universidade no sentido de considerar que se a universidade não estava consolidada nem mesmo em Belém e, que por isso, não poderia marcar presença no interior do Estado, mas nós encaramos o desafio e naquela ocasião criamos oito campi incluindo o de Santarém. Essa foi uma estratégia fundamental porque 25 anos depois a gente vê criada, onde antes funcionava o campus de Santarém, a Universidade Federal do Oeste do Pará. E o processo deve se repetir agora no Sul do Pará, onde haverá a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, com sede em Marabá, aproveitando o campus da Federal (UFPA) local.

Naquele momento havia também a preocupação em alavancar a pesquisa científica, ainda tão deficiente em nossa região?

Uma série de fatores se uniram para implantação da nova universidade. Um deles veio por ocasião do cinquentenário da UFPA, quando houve a reunião nacional da Sociedade Brasileira do Progresso e da Ciência (SBPC). Nessa ocasião, a SBPC também abraçou a ideia da necessidade de criação de novas universidades federais na Amazônia e a Academia Brasileira de Ciências publicou um documento intitulado “Amazônia, desafio brasileiro do século XXI - a necessidade de uma revolução científica tecnológica”, em que é mencionada a necessidade de voltar as atenções para a Amazônia como uma área estratégica para o país. Há 25 anos, o investimento em pesquisa e pós-graduação na região não representava 2% de todo o país. Depois de décadas nós avançamos. Estamos com 4% do número total de doutores do Brasil, o que ainda é um número pouco significativo, considerando que somente na Universidade de São Paulo (USP) há o total de toda a região norte. Essa realidade nos faz cobrar do governo federal uma atitude mais firme de investimentos que possam vir de forma induzida, não apenas através de editais. O país tem que realmente considerar a Amazônia um grande desafio e, portanto, criar mecanismos de atração, principalmente de pesquisadores. Não adianta a gente pensar em pesquisas sofisticadas para transformar nossa biodiversidade em fármacos e fitoterápicos se não houver pessoas na área para fechar a cadeia do conhecimento. A Ufopa surge para isso, resolvemos adotar um modelo novo que busca a visão interdisciplinar. A ideia é colocar os profissionais para trabalhar juntos com alguns programas estruturantes e focados de modo a não deixar que o conhecimento produzido fique nas prateleiras.

Desde a criação, o que houve de avanços?

A nossa universidade, das novas instituições criadas, foi a que mais avançou. Não é opinião minha, é a avaliação que tanto o Ministério da Educação quanto o Ministério da Ciência e Tecnologia fazem sobre o nosso trabalho. Para se ter ideia, nós tínhamos no ato da criação, em novembro de 2009, apenas 70 professores e hoje estamos com 240 professores, dos quais 100 doutores e os demais praticamente todos com mestrado, quadro que deve ser ampliado agora com abertura de concurso público para mais 100 vagas. A expectativa é que já no segundo semestre possamos ultrapassar a marca dos 300 professores. Em menos de três anos nós atingimos o patamar que apenas 60% das instituições de ensino superior públicas do país têm. Isso mostra como estamos nos consolidando, não só em nível de graduação, mas como instituição que gera conhecimento. Não somos uma escola de 3º grau, somos uma universidade que associa pesquisa, ensino e extensão. Temos preocupação com a relevância socioeconômica, por isso buscamos levar o conhecimento da academia para o setor produtivo.

E em relação aos alunos. Qual a demanda?

A universidade é resultado da fusão de duas unidades já existentes na sede em Santarém, a unidade centralizada da Universidade Federal Rural da Amazônia, ofertando o curso de engenharia florestal e a Federal do Pará, que já tinha 8 cursos de licenciaturas, direito e sistema de informação. Com os cursos todos somados tínhamos cerca de 1800 alunos, mas efetivamente matriculados apenas a metade passaram a incorporar o nosso atual quadro. Podemos por assim dizer que herdamos cerca de 900 alunos dos cursos que já existiam. Hoje, estamos com 3 mil alunos regulares em Santarém e 3.200 no interior. Somos uma universidade multicâmpi. Desde a origem a instituição foi pensada dessa forma. Afora a sede principal em Santarém, com atuação em Oriximiná, estabelecemos polos nos municípios de Itaituba, Juruti, Óbidos, Alenquer e Monte Alegre. São mais de seis mil alunos só em nível de graduação, acrescenta-se aí o número de alunos de pós-graduação, que chega a quase 900. Somos a única das novas universidades criadas nos últimos quatros anos que já tem três mestrados e um doutorado.

As aulas do doutorado já estão ocorrendo?

O nosso doutorado foi aprovado no primeiro semestre. É um doutorado interdisciplinar em “Sociedade, Natureza e Desenvolvimento”. Serão abertas agora as 15 primeiras vagas. Apesar da grande demanda, não dá para oferecer mais que esse número de vagas pelo compromisso com a formação dos profissionais. Outra novidade diz respeito à aprovação de um outro doutorado feito em parceria com a Unicamp que vai ofertar ao longo dos próximos quatro anos o doutorado interinstitucional. Ao invés dos nossos professores se deslocarem para a Unicamp, a Unicamp virá ministrar essas disciplinas em formato de módulo. Trata-se de um processo muito criativo que vai permitir, à nossa universidade, formar praticamente todos os mestres nesse processo de parceria que se inicia já a partir de agosto. Também estamos em conversa com a Universidade de São Paulo para a oferta de doutorado na área de engenharia especialmente na área de computação, controle e automação e energia. E também estamos em entendimento com a Universidade do Rio de Janeiro para fazer algo semelhante na área das Geociências. A expectativa é que os nossos atuais 140 mestres tornem-se doutores nos próximos anos.

Outro investimento da UFOPA é a implantação do Parque de Ciência e Tecnologia do Tapajós. Como anda o projeto?

O parque está em plena fase de estruturação dentro do próprio campus. Temos uma área de cerca de 8 hectares destinada a essas atividades e o poder público local também participa. Ao longo de dois anos nós temos nos reunido com a Prefeitura Municipal de Santarém, que tem uma área de 300 a 600 hectares que será reservada para o distrito industrial de Santarém. Estamos apostando que esse parque possa gerar impactos significativos de desenvolvimento econômico e social. O parque será um espaço para quem quiser transformar conhecimento em produto. Vamos atingir não apenas empresas de grande e médio porte, como também melhorar a capacitação tecnológica dos pequenos produtores, como os pescadores artesanais, por exemplo, que poderão agregar mais valor aos seus produtos. Já estamos implantando um núcleo tecnológico de aquicultura com dinheiro liberado pela Sudam no final do ano passado. São R$ 2 milhões para implantação do núcleo, que tem como objetivo estudar todos os nossos peixes. Também estamos em vias de implantar um núcleo de desenvolvimento em bioativos. A expectativa é que, na medida em que a gente tenha teses com possibilidade de gerar patentes, haja atração de empresas respeitadas, em nível nacional, para dentro do parque.

 

Entrevista ao Diário do Pará, Belém, 8 de julho de 2012.
Reproduzida em: Jornal da Ufopa, Santarém (PA), ano II, n. 8, p. 12, agosto 2012.