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Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 23 de Fevereiro de 2022 às 17:27

José Seixas Lourenço - Ufopa e o desenvolvimento regional (dezembro 2010)

UFOPA E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL
(Revista da Sudam, dezembro de 2010)

 

Prof. Dr. José Seixas Lourenço
Reitor da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA

A criação de uma universidade pública no Oeste do Estado do Pará atende à demanda de uma região com economia e cultura peculiares. Tendo-se iniciado sua ocupação já no século XVII, as dificuldades de transporte e abastecimento e as grandes distâncias fizeram muito lento seu desenvolvimento até o século XX, apesar de alguns fluxos migratórios e das tentativas de colonização, que procuraram dar novo impulso à região. Na década de 1970, intensificam-se os projetos governamentais e a ação da iniciativa privada; as obras de infraestrutura, como a BR-163 e a hidroelétrica do Curuá-Una, abrem novas perspectivas para o Baixo Amazonas.

A criação da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA significa mais que um novo impulso para essa modernização: resgata, nessa região, historicamente marcada pelo extrativismo vegetal e mineral e com índice de desenvolvimento humano abaixo da expectativa, todo um rico acervo de tradições culturais e bens patrimoniais.

A UFOPA é a primeira universidade pública com sede no interior da Amazônia. Suas atividades desenvolvem-se numa vasta área de mais de 500 mil quilômetros quadrados, que envolve 20 municípios das regiões do Baixo Amazonas e Sudoeste Paraense. A UFOPA já nasce como uma universidade de porte médio, formada das instalações e recursos humanos e materiais da UFPA e UFRA em Santarém, além dos núcleos da UFPA em Oriximiná, Óbidos e Itaituba e das antigas instalações da SUDAM em Santarém. Seu formato multicampi, com polos em Santarém (sede), Alenquer, Itaituba, Juruti, Monte Alegre, Óbidos e Oriximiná, tem por objetivo a universalização das oportunidades de formação qualificada à maioria dos municípios, com fixação de competências em vários locais, como forma de reduzir as assimetrias regionais. Este modelo institucional permitirá o desenvolvimento socioambiental de cada subespaço da região Oeste do Pará, servindo, ao mesmo tempo, de polo integrador desses subterritórios entre si e com as demais áreas da Amazônia.

A expansão da rede de ensino superior pública e a consequente ampliação do investimento em ciência e tecnologia promoverão a inclusão social e terão um significativo impacto no processo de desenvolvimento social, o que inclui a educação básica. Exemplo disso é o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR, já em plena execução pela UFOPA em vários municípios da região, com os professores leigos de escolas municipais e estaduais recebendo formação em suas respectivas áreas de ensino.

A interação mais efetiva com o setor empresarial dar-se-á por meio do Parque Tecnológico do Tapajós, criado pelo Governo do Estado do Pará, e que será instalado junto à UFOPA, e do emergente Distrito Industrial de Santarém. Será fundamental também desenvolver mecanismos inovadores para a atração e fixação, na região, de pesquisadores e técnicos de outros locais do Brasil, e mesmo do exterior, tais como o Programa de Bolsas de Desenvolvimento Científico Regional, do CNPq, e o recém-criado Programa de Professor Visitante Sênior, da CAPES, ambos com a parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará – FAPESPA.

Por outro lado, devem ser exploradas, ao máximo, as oportunidades de cooperação científica e tecnológica, nacional e internacional. São muito bem-vindas iniciativas como as da SUDAM, da EMBRAPA Amazônia Oriental, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, do Instituto Butantan, do Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG, e de outras instituições públicas e privadas (como o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM e a Conservation Internacional), com atividades no Baixo Amazonas, articulando-se com as instituições locais, entre elas a UFOPA.

Dada a sua localização privilegiada, no coração da Amazônia continental, a UFOPA tem a clara vocação para tornar-se uma Universidade da Integração Amazônica, aberta aos demais estados da região, bem como aos países pan-amazônicos. A cooperação internacional transfronteiriça, com a construção de vínculos institucionais duradouros em atividades de pesquisa, formação de profissionais e extensão, em temas de interesse comum entre os parceiros, formando uma rede multi-institucional com a participação dos estados brasileiros amazônicos e dos países-membros da Organização do Tratado da Cooperação Amazônica, também faz parte dos objetivos e missões da UFOPA. A Amazônia passa então a ser vista como o lugar privilegiado de uma experiência pioneira e criativa, cabendo ao Governo Federal a responsabilidade de lidar com esse imenso patrimônio como uma questão regional, nacional e global.

A UFOPA nasce acompanhada de outra inovação: a adoção do Exame Nacional de Ensino Médio – ENEM como via exclusiva de acesso à universidade. Além disso, a concepção curricular da UFOPA é cumulativa e flexível e também atende a seu projeto pan-amazônico, integrando seus conteúdos numa concepção modular que possibilita o máximo aproveitamento da produção acadêmica por todos os alunos.

Dada essa flexibilidade curricular, o aluno pode candidatar-se a cursar gradativamente as diferentes habilitações que os cursos propiciarão, dispondo de três ciclos de estudos:

1.º Ciclo: Formação graduada geral – habilita a um primeiro diploma universitário e abrange seis semestres;

2.º Ciclo: Formação graduada específica – habilita a um segundo diploma universitário e compreende dois semestres;

3.º Ciclo: Pós-graduação stricto e lato sensu – cursos de especialização, mestrado profissional, mestrado acadêmico e doutorado.

Essa grade curricular é diversificada também quanto a horários, tipos e meios de acesso aos diferentes campi e modalidades de educação com variados graus de presencialidade, especialmente possibilitados pela mediação tecnológica que integra o processo formativo acadêmico regular. Além disso, grande parte de sua produção acadêmico-científica estará permanentemente disponível em diversas mídias e acessível continuamente aos alunos.

Grande é o desafio de transformar o capital natural da região em ganhos econômicos e sociais, de maneira necessariamente inovadora. Nesta região ainda é possível a concepção de um novo modelo de produção e consumo sustentável dos recursos naturais, que permita não somente o desenvolvimento socioeconômico, mas também a conservação da natureza e da cultura dos povos que nela habitam.

A região amazônica apresenta um mosaico de culturas, etnias e valores que precisam ser preservados e que, em consonância com as discussões acerca da diversidade, têm tomado espaço significativo nos debates e políticas públicas, e não podem deixar de ter destaque em qualquer discussão sobre alternativas de desenvolvimento para o futuro da Amazônia.

 

LOURENÇO, José Seixas. Ufopa e o desenvolvimento regional. Revista da Sudam, Belém, ano 1, n. 1, p. 36, dez. 2010.