Ultima atualização em 30 de Novembro de 2022 às 10:38
A criação do projeto ABARÉ se deu em 2006, quando a ONG holandesa Terre Des Hommes (TDH), proprietária de um navio hospital batizado de Abaré (“amigo cuidador”, na língua Tupi) fez sua primeira incursão pelo rio Tapajós com objetivo de prestar assistência médico-hospitalar às comunidades ribeirinhas do oeste do Pará.
Com objetivo de construir novas possibilidades de acesso aos serviços públicos, a ONG Terre Des Hommes firmou parceria com o Projeto Saúde Alegria (PSA), ONG brasileira especialista na condução de processos de melhoria da qualidade de vida de comunidades, e também contou com apoio das prefeituras dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro, no Pará. As viagens do navio-hospital ocorreram até meados de 2015 em que a iniciativa gerou aproximadamente 15 mil atendimentos de ribeirinhos por ano, situados em 72 comunidades de áreas rurais, permitindo a cobertura dos serviços básicos de saúde.
A proposta da Ufopa é dar continuidade às atividades regulares do Navio Hospital Escola ABARÉ, retomadas desde 2019, e aprimorar as ações acadêmicas que serão nele desenvolvidas. O projeto busca consolidar um modelo de ensino, pesquisa, inovação e extensão a bordo de um navio que visitará inúmeras comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas, inicialmente de Aveiro, Belterra e Santarém, sendo possível expandir para comunidades vizinhas como as dos rios Arapiuns e Cuparí e/ou até municípios da Microrregião de Óbidos.
Coordenado pela Rede Integrada do Desensolvimento Humano - RIDH, responsavel pela gestão do Navio Hospital Escola Abaré, o papel da Ufopa vai além da gestão de uma estrutura física, pois objetiva construir um modelo de assistência médico-hospitalar e ensino de excelência na Amazônia, orientado pelo compromisso com o desenvolvimento regional, com a construção de uma sociedade justa, plural, democrática e participativa.
A universidade é responsável por todo o processo de reorganização das atividades do Navio Hospital Escola Abaré, mobilizando profissionais e pesquisadores que integram o corpo técnico multidisciplinar da instituição para colocar a embarcação em perfeito funcionamento junto às comunidades.
O desafio que se impõe à Ufopa, atual gestora do Abaré, é garantir a continuidade da assistência primária de saúde com qualidade e atendimento adaptado para mais de 70 comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas; consolidar o ideal de torná-lo um centro de referência em educação, pesquisa e ações extensionistas na Amazônia; além de custear uma tripulação qualificada, manutenção e revisões regulares de componentes e sistemas do navio.
Nesse contexto é importante destacar o cenário limitador dos gastos públicos nas áreas sociais pelos próximos 20 anos, devido a aprovação da Emenda Constitucional 95, que impacta diretamente os recursos destinados à educação, incluindo as universidades públicas federais que têm sofrido com os constantes cortes orçamentários[1].
Atualmente, os valores dos incentivos financeiros para as Equipes de Saúde da Família Fluviais são garantidos com aporte de recursos federais do Bloco de Financiamento de Atenção Básica aos municípios, efetuados em conta aberta especificamente para este fim, de acordo com a normatização geral de transferências de recursos fundo a fundo do Ministério da Saúde[2].
Com uma tripulação multiprofissional formada por médicos, odontólogos, enfermeiros e técnicos de diversas áreas, a equipe desenvolve durante as expedições do Navio Hospital dinâmicas lúdicas e pedagógicas com foco nas boas práticas de higiene, saúde das crianças, medidas práticas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e direitos do cidadão. Neste sentido, o Navio Hospital Escola ABARÉ representa não só uma ação inovadora de atendimento médico, mas principalmente a garantia de acesso à saúde, direito fundamental de qualquer cidadão brasileiro, seja ele morador das cidades, seja ele indígena, quilombola ou ribeirinho que reside a quilômetros dos centros urbanos e às margens dos rios da Amazônia.
Texto: Neylaine Santana e Flavia Rebello / Comunicação RIDH
[1] Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica/ Série E. Legislação em Saúde. Brasília – DF 2012.10
[2] https://educacaointegral.org.br/reportagens/o-impacto-do-teto-de-gastos-sobre-as-politicasde-educacao/