Ultima atualização em 6 de Junho de 2018 às 17:55
Você já parou para pensar na qualidade do ar que respira? Considerando que o ar é composto por uma diversidade de substâncias químicas, além da poluição atmosférica, você pode estar respirando componentes biológicos, ou seja, fungos e bactérias. Isso mesmo, a presença de fungos e bactérias no ar é mais comum do que podemos imaginar. É o que tem sido detectado por biólogas da Universidade federal do Oeste do Pará (Ufopa) através do projeto “Microbiota do ar de áreas urbanas de Santarém".
O projeto “Microbiota do ar de áreas urbanas de Santarém”, desenvolvido pelas biólogas Graciene Fernandes e Eveleise Canto, ambas lotadas no Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA), está estudando a diversidade microbiana (fungos e bactérias) presente no ar de áreas urbanas do centro de Santarém. Estudos preliminares detectaram a presença de fungos e bactérias em algumas áreas nas quais é feita a coleta. “Partimos da hipótese de que a diversidade microbiana aérea sofre interferência da movimentação de pessoas, de carros e da presença de animais no espaço. Com todas essas variáveis, aliadas a questões climáticas e atmosféricas, a diversidade de microrganismo do ar pode ser alterada”, alertou a Profa. Graciene Fernandes.
A presença de garças em áreas urbanas do município pode piorar, ainda mais, o ar que estamos respirando, principalmente nas áreas centrais, onde os estudos estão sendo realizados. Outros animais também podem ter o mesmo papel. A afirmação é da bióloga Eveleise Canto: “Nos períodos do ano em que as garças são mais incidentes, é possível perceber que o ar fica muito carregado. Portanto, há necessidade de estudos relacionados a isso”. A bióloga informou também que, além da diversidade, também é possível observar a produção de micotoxinas (toxinas produzidas por fungos): “Também podemos verificar a presença de patógenos fúngicos como o Cryptococcos, o qual é causador da doença criptococose, que pode ser ocasionada pela inalação de propágulos ressecados do fungo presente nas fezes das aves”.
As coletas são realizadas em dois períodos: na época de seca e na estação das chuvas, com intervalo de três meses entre cada uma delas. As pesquisadoras esclareceram que a metodologia de coleta é baseada no processo de sedimentação: “Expomos as placas em duplicata por um período de 15 a 25 minutos nessas áreas selecionadas no centro da cidade (veja abaixo a lista das áreas de coleta), sendo utilizado meio de cultura para bactérias e para fungos; com isso esperamos obter a maior parte da diversidade microbiana cultivável”.
Posteriormente, as placas são submetidas à metodologia de cultivo em estufa, no caso das bactérias, e em atmosfera ambiental, no caso dos fungos. “Esse tempo de cultivo varia. No caso das bactérias, em 24 horas fazemos a contagem, identificamos os morfotipos e fazemos os isolados, e em seguida a identificação bioquímica. Assim teremos o resultado final da diversidade de micro-organismos cultiváveis. A partir dos isolados obtidos faremos o estudo funcional dos fungos, bactérias e leveduras”, disse Fernandes.
A professora informou ainda que todos os micro-organismos têm capacidade de produção de “metabólicos secundários”. De acordo com ela, esses metabólicos podem ser utilizados em “benefício da humanidade”: “Esses metabólicos podem ser aplicados na produção de antibióticos, degradação de compostos orgânicos e inorgânicos; muitas substâncias têm sido exploradas pelas muitas áreas da indústria, o que tem minimizado alguns problemas mundiais, pois os micro-organismos são os maiores decompositores de matéria orgânica no planeta. Os ecossistemas só conseguem sobreviver e manter-se íntegros graças à presença deles”.
Resultados preliminares – A professora Graciene Fernandes apresenta os primeiros resultados: “Os resultados preliminares demonstraram que os gêneros bacterianos mais frequentes são de Gram positivos, com 82,5% para bastonetes, cocos com 30%, seguido dos bastonetes (7,5%) e cocos Gram negativos (5%). Entre os fungos, os gêneros de filamentosos mais abundantes, destacam-se Aspergillus, Cladosporium e Penicillium e foram identificados quatro morfotipos de leveduras, ainda em processo de identificação bioquímica. Todos estes isolados ainda estão em análise de acordo com os objetivos propostos no projeto e nos planos de trabalho dos alunos envolvidos, que são até agora cinco, do ICTA e do IBEF”.
Sobre os resultados: “O que mapeamos nesses pontos serve como parâmetro. Não significa que em toda a cidade vai ter essa diversidade. Cada ambiente oferece condições específicas e essa diversidade ambiental é que seleciona quais são as bactérias e os fungos que estão presentes naquele local específico”.
Sobre o excesso de poeira em virtude das ruas não asfaltadas da cidade, a professora afirma que: “Todo material em suspensão vai se sedimentar em algum lugar. A esse sedimento vai ser incorporada uma microbiota que, por sua vez, vai fazer proveito dos substratos nutritivos que vão permitir com que o micro-organismo prolifere”.
Planos de trabalho desenvolvidos por alunos – Cursando o décimo semestre de Biologia (ICTA), Ridel Fernandes está desenvolvendo trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado “Monitoramento da microbiota do ar de área urbana de Santarém, PA”, cujo objetivo é “fazer o levantamento da diversidade, a identificação de possíveis micro-organismos patogênicos e o potencial funcional da comunidade microbiana”. Ele é um dos responsáveis pela coleta das amostras do ar. “Escolhemos esses locais para coletar por causa do fluxo de pessoas, de carros e por serem pontos que estão sujeitos à poluição constante”.
Nathan Silva é estudante do quarto semestre do curso de Biotecnologia (Ibef). Quando iniciou o estágio no Laboratório de Ensino Multidisciplinar de Biologia Aplicada, deparou com as pesquisas sobre microbiota do ar e se interessou, elaborou um plano para TCC sobre o tema. “Percebi, pelas aulas no laboratório, que com os resultados preliminares obtidos na taxionomia feita pelo Ridel poderíamos elaborar muitas outras pesquisas, daí pensei em aplicar os conceitos da biotecnologia nesses resultados. O projeto tem como objetivo a caracterização do gênero Aspergillus e avaliação da produção de microtoxinas.
De acordo com as pesquisadoras, até o final do primeiro semestre de 2018 serão divulgados os primeiros resultados das pesquisas.
Confira os pontos de coleta:
Texto e foto: Lenne Santos - Comunicação/Ufopa
20/3/2018