Ultima atualização em 29 de Novembro de 2024 às 17:59
Carta enviada ao Ministério da Integração Racial foi decisiva para implementação do espaço.
A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e o Ministério da Igualdade Racial (MIR) inauguraram na quinta-feira, 28 de novembro, a Afroteca Curumim, localizada no Núcleo de Salas de Aula (NSA), na Unidade Tapajós da Ufopa, em Santarém. A solenidade de inauguração contou com a presença da equipe do MIR, liderada pela secretária de Promoção da Igualdade Racial, Márcia Lima. Os discursos emocionaram os expectadores que prestigiaram o evento, por mostrar uma história de luta.
“A idealização dessas afrotecas é da Ufopa e virou uma prioridade para o ministério. Ela também materializa outra das prioridades que temos para o ministério, o fortalecimento das universidades do Norte e Nordeste, que têm riqueza de diversidade étnica”, enfatizou a secretária.
A reitora da Ufopa, Aldenize Xavier, destacou o fato de o espaço abrigar muitos sonhos de mulheres, e como mãe ela sempre entendeu a importância de um projeto como a Afroteca Curumim. “A entrega da Afroteca é um dia de muita emoção. Algo que, pelo menos desde 2018, quando assumi como vice-reitora, eu entendi é que essa universidade precisava avançar para entender o que é o papel de uma mulher. A nossa universidade precisa desse entendimento. Naquele ano, quando comecei a gestão como vice, eu engravidei, e ouvi coisas que não gostaria que as nossas alunas ouvissem, colocando em xeque a capacidade de uma mulher por estar grávida. Dentre as missões que eu via para a Proges, uma era a de pensar um espaço e uma política que pudessem acolher as mães, as crianças”, assegura a reitora.
Durante sua fala, a reitora lembrou que a destinação do espaço para dar suporte a crianças surgiu de uma mulher, que também estava grávida quando assumiu um cargo na Proges, a professora Wânia Alexandrino, atual diretora de Ações Afirmativas na Ufopa. “Quero parabenizar a professora Wânia, que também enfrentou dificuldades, com críticas, para assumir o cargo, por estar grávida. Ela conseguiu, de forma inteligente, casar nossa demanda institucional com esse projeto brilhante do professor Luiz Fernando e dizer ao Ministério da Igualdade Racial, que veio como algo divino, na hora certa. Reunimos toda a energia positiva para chegar a esse momento. Na reunião para aprovar a ocupação do espaço não tivemos ninguém que discordasse. Agradecemos aos diretores dos institutos da Ufopa que abraçaram a causa, todos entenderam a importância”, finaliza.
O idealizador do projeto, professor Luiz França, lembrou do percurso para formular o projeto das afrotecas e reforçou a metodologia antirracista dos espaços. “Essa tecnologia foi desenvolvida por um método que passa pela pesquisa sobre relações raciais. A partir desse diagnóstico, pensamos como serão os espaços em cada local, cerca de 160 mães e 100 pesquisadores participaram desse processo. Isso não é criar o mecanismo de ruptura, de enfrentamento”, explicou.
Estima-se que a Afroteca Curumim tenha capacidade para atender, em média, a 300 mães por mês. Na Unidade Tapajós, onde ela está localizada, cerca de 80% das mães matriculadas na Ufopa são negras, quilombolas ou indígenas, fazendo com que esse seja o público majoritariamente atendido.
A diretora de Ações Afirmativas da Ufopa, Wania Alexandrino, também compartilhou com o público que o ponto de partida para a inauguração do espaço na Unidade Tapajós foi uma carta escrita por um coletivo de mulheres locais, indígenas, quilombolas, PCDs, extrativistas, ribeirinhas. “A partir daí, percebi que não podia voltar atrás, só podia continuar. Esse é o projeto intelectual que queremos para a nossa universidade”, disse emocionada após a leitura da carta.
Ainda como parte da solenidade de inauguração da afroteca, houve a apresentação de crianças do Centro Municipal de Educação Infantil Antônia Correa, que frequentam a afroteca Sankofa, e do grupo de capoeira Angolarte. Esse é o quinto espaço inaugurado dos dez totais previstos. Seis deles têm investimento do Ministério da Igualdade Racial. A parceria com a Ufopa prevê quase R$700 mil de investimentos em tecnologia educativa antirracista voltada para crianças.
Após a inauguração do espaço, a reitora Aldenize Xavier e a secretária Márcia Lima receberam brindes da afroteca.
Afrotecas – Tecnologia educacional inovadora, a proposta desses espaços foi desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Literatura, História e Cultura Africana, Afro-brasileira, Afro-Amazônica e Quilombola (Afroliq), vinculado ao curso de Licenciatura em Letras do Instituto de Ciências da Educação (Iced) da Ufopa.
As afrotecas promovem formas afirmativas de ver e valorizar a identidade das nossas raízes negras, bem como propõem a criação de formas de brincar a partir de uma perspectiva antirracista. Elas também são oportunidade de valorização dos materiais didáticos que envolvam a representatividade racial e estejam de acordo com a Lei nº 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira".
Ascom Ufopa e Ascom MIR
29/11/2024
Fotos: Vanessa Escher e Albanira Coelho