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Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 14 de Novembro de 2023 às 15:26

Docente da Ufopa recebe menção honrosa em evento nacional de saúde coletiva


A professora Dra. Annelyse Rosenthal Figueiredo, do Instituto de Saúde Coletiva (Isco) da Ufopa, teve seu trabalho premiado com menção honrosa no 9º Congresso de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, realizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva de 30 de outubro a 3 de novembro de 2023 em Recife (PE).

O trabalho “Vigilância popular em saúde como ferramenta de proteção e fortalecimento de populações afetadas pelo agronegócio de grãos no Oeste do Pará – Amazônia”, que concorreu com outros 1.415 trabalhos apresentados, é fruto da tese de doutorado, defendida em 2022, em que a pesquisadora estudou e pesquisou os impactos causados pelo monocultivo de soja e milho na população de Belterra, município localizado na região Oeste do Pará.

Os estudos mostram que a Amazônia se tornou a mais recente fronteira do agronegócio de soja e milho, movimentando milhões em dinheiro na região. Esses cultivos avançam cada vez mais para o interior desse bioma, ignorando os modos de vida tradicionais dos povos do campo, da floresta e das águas. A soja é sabidamente químico-dependente, ou seja, necessita de grandes quantidades de agrotóxicos para ser viável, e a comercialização de 1,41 milhões de litros de herbicidas, 350 mil litros de fungicidas e 309 mil litros de inseticidas, conforme dados levantados por pesquisadores em 2019 na região do Planalto Santareno (região que compreende Belterra, Mojuí dos Campos e Santarém), é reflexo dessa dependência química. Dessa forma, não são de estranhar os impactos da intensa utilização de agrotóxicos na saúde das populações que convivem com esse cultivo, apesar de que, ao longo de quase 20 anos desde a chegada do monocultivo de soja à região, Belterra tenha registrado apenas sete casos de intoxicações agudas por agrotóxicos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo a Profa. Annelyse Figueiredo, as intoxicações por agrotóxicos são apenas a expressão mais visível dos danos causados pelo agronegócio de soja e milho na saúde das populações amazônicas. Para além da dimensão biológica do adoecimento, em Belterra foram identificados ainda impactos ambientais, sociais, econômicos, culturais e políticos afetando negativamente a saúde dos moradores. As populações da Amazônia são especialmente mais afetadas por esse modelo de produção, pois têm sido negligenciadas e invisibilizadas desde a colonização a partir de um discurso de "vazio demográfico", que ainda hoje orienta as políticas de ocupação e desenvolvimento na região.

Ainda segundo a autora, foi observado que os atuais sistemas de vigilância em saúde têm falhado em sua missão de vigiar e proteger a saúde das populações, pois além de ignorarem as outras dimensões do processo saúde-adoecimento, sofrem com interferências dos diversos atores envolvidos nos processos de tomada de decisão. A pesquisadora defende que a academia, os gestores, os profissionais de saúde e principalmente as populações afetadas trabalhem em conjunto para compreender todas as dimensões do processo saúde-doença, e não só a biológica. Para tanto, propõe o desenvolvimento de mecanismos de vigilância popular em saúde como ferramentas de proteção e fortalecimento das populações do campo, floresta e águas, considerando seus conhecimentos como fundamentais para discussões ampliadas e mais próximas da realidade.

A Profa. Dra. Annelyse Rosenthal Figueiredo é bióloga sanitarista, com doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e estuda os processos de determinação social do processo saúde-doença e mecanismos de vigilância popular em saúde na Amazônia.

Comunicação/Ufopa, com informações do Isco
13/11/2023

 

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Profa. Annelyse R. Figueiredo, novembro/2023.
Foto: Acervo particular.

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