Ultima atualização em 5 de Abril de 2023 às 15:26
Aula inaugural e formatura. Início e fim da trajetória na graduação. No dia 24 de março de 2023, o Campus Oriximiná da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) vivenciou estes dois momentos marcantes da vida acadêmica: a aula inaugural do curso de Licenciatura em Geografia, ofertado pela primeira vez no município no âmbito do Forma Pará; e a colação de grau da Turma “Professor Domingos Luiz Wanderley Picanço”, do Bacharelado em Ciências Biológicas.
Presidida pela vice-reitora Solange Ximenes, a solenidade contou com a participação da diretora do Campus Oriximiná, Dávia Marciana Talgatti; do coordenador do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Vinicius José Giglio Fernandes; e da paraninfa da turma, professora Eldra Carvalho da Silva. “Hoje temos mais uma formatura do curso de Ciências Biológicas. Essa formatura não é de uma turma fechada, mas de alunos remanescentes das turmas de 2015 e 2017 que ainda estavam cursando algumas disciplinas. Temos representantes importantíssimos de comunidades tradicionais. Temos muito orgulho de estarmos contribuindo com a formação dessas pessoas”, afirma a diretora do campus, Dávia Talgatti.
“Uma profissão essencial para a nossa sociedade. Vocês se formam em um momento importante para a Biologia, quando a ciência tem um papel fundamental no enfrentamento de desafios que o mundo apresenta, como as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, as pandemias e o negacionismo científico. O conhecimento adquirido por vocês será fundamental para garantir um futuro melhor para as próximas gerações”, afirmou Vinícius Giglio durante seu discurso, ressaltando ainda que a formação acadêmica é apenas o primeiro passo na formação profissional. “Vocês precisam estar preparados para enfrentar desafios que virão durante a carreira profissional. Sejam perseverantes, tenham confiança em si mesmos e nunca deixem de buscar conhecimento e aprimoramento”.
Em seu discurso, Vinícius Giglio também fez um destaque especial aos formandos indígenas e quilombolas, povos que historicamente têm enfrentado muitas barreiras e dificuldades para acessar a educação superior. “Sua presença aqui hoje não é apenas uma conquista pessoal, mas também uma vitória para toda a sociedade brasileira, que historicamente tem marginalizado esses povos. Esse momento é apenas uma minúscula parte dessa reparação. Vocês são exemplo de perseverança, resiliência e determinação. Sua conquista é motivo de orgulho e inspiração para todos nós. Que vocês continuem a lutar por seus sonhos e inspirar outras pessoas a seguir esse caminho”.
“A emoção é muito grande. Estou muito feliz por ter me formado pela primeira vez, usar beca. Sem palavras”, afirmou, emocionado, Erinaldo Erinawtu de Souza Wai Wai, de 29 anos, que ingressou no curso em 2015 pelo Processo Seletivo Especial Indígena (PSEI). “Tinha quase desistido, mas graças a Deus, a professora Eldra nos ajudou muito. Pude voltar para o curso e ela me orientou bem”.
Para Erinaldo, valeu a pena estudar na Ufopa, mesmo com todas as dificuldades e falando pouco português. “Às vezes eu não conseguia falar e pedia ajuda aos meus colegas. Eles explicavam de outra maneira, mais fácil para mim. Quando não entendia, retornava de novo com eles”, conta o biólogo recém-formado, oriundo da aldeia Mapuera. “Lá na aldeia a gente não fala português, só a nossa língua materna”.
“É um momento único, muito significativo, por ser quilombola, por ter toda uma bagagem histórica sobre nós. Ingressar na Universidade e estar hoje realizando esse sonho não foi fácil. Mas com a nossa força e determinação, ajuda dos nossos familiares, colegas e da própria Universidade, através de seus professores, nós conseguimos”, comemora Rosivalda Jesus dos Santos, de 42 anos, oradora da turma.
Oriunda da comunidade Último Quilombo, Rosivalda Santos ingressou na Ufopa por meio do Processo Seletivo Especial Quilombola (PSEQ). “A nossa é a primeira turma através do processo seletivo especial. Esperamos que a Universidade possa se adequar, se apropriar, para que possa receber esse povo, esses alunos que vêm com tamanha diversidade, porque quem não senta para ouvir não pode levantar para ensinar”.
Rosivalda conta que seus pais a trouxeram muito cedo à cidade para estudar, mas que nunca perdeu o vínculo com a sua comunidade. “Trago com muito orgulho a minha identidade, de autoafirmação, que isso possa servir de inspiração para outros quilombolas, que estão ingressando ou que possam vir a ingressar na Universidade, porque a educação é a base de tudo”. Mas o sonho não para por aqui. “A tendência é só a progressão, com o mestrado e o doutorado, na área da educação ambiental”, revela.
Natural de Oriximiná, a ribeirinha Jaqueline Gato Bezerra, de 33 anos, também pretende seguir na área acadêmica. “Foi muito esforço, o tempo todo, durante toda a graduação. Tive que abrir mão de várias coisas para estudar e para conseguir me destacar, porque sabia que de outra forma não daria certo”, afirma a bióloga recém-formada, que obteve o maior índice de rendimento acadêmico da turma de 2017 e já está começando o mestrado.
Turma “Professor Domingos Luiz Wanderley Picanço”
Paraninfa: Professora Eldra Carvalho da Silva
Formados: Angélico Nonato Serrão Aciole; Eli Gualberto Teixeira; Erinaldo Erinawtu de Souza Wai Wai; Gabriela Cardoso Almeida; Humberto Almeida Alves; Jaqueline Gato Bezerra; João Marcos Santana Teixeira; Jonison Vieira Pinheiro; Paulo Victor Franco Macedo; Rosivalda Jesus dos Santos.
Forma Pará – Antes da formatura do curso de Ciências Biológicas, foi realizada no auditório do Campus Oriximiná a aula inaugural do curso de Licenciatura em Geografia, ofertado pela Ufopa através do Programa de Educação e Formação Superior do Estado do Pará (Forma Pará). A primeira turma do Forma Pará em Oriximiná é composta por 40 alunos que estão tendo a oportunidade de cursar uma licenciatura em seu próprio município. “Temos uma demanda bem grande, reprimida, de cerca de 700 jovens concluintes do ensino médio por ano que, no geral, buscam uma universidade. Alguns têm condições de sair da cidade, mas muitos não. É para essas pessoas, cidadãos de Oriximiná, que a gente quer oportunizar”, afirma a diretora do campus, Dávia Talgatti.
É o caso, por exemplo, do jovem Guilherme Oliveira, de 20 anos, que não teria condições financeiras de cursar uma graduação em outra cidade. “Já gostava de Geografia desde o ensino fundamental, mas não estava com a intenção de fazer esse curso. Mas aí surgiu a oportunidade através do Forma Pará. Fiz minha inscrição, a prova e fui privilegiado em passar”, conta. “A minha expectativa é que possa, através do conjunto dos colegas, aprender com os professores doutores que virão passar as aulas para a gente. Vamos fazer de tudo para concluir esse curso”.
Para Talgatti, a oferta da licenciatura em Geografia também é uma excelente oportunidade de formar professores, outra grande demanda reprimida da região. “Na Ufopa não temos cursos regulares de licenciatura em nenhum campus fora da sede, pois as licenciaturas são ofertadas somente em Santarém. Então o curso de Geografia é fundamental nesse processo”, explica. “Para o nosso campus, a importância está no fato de podermos ofertar mais uma possibilidade de ingresso. Temos essa intenção de buscarmos, junto ao governo federal ou ao governo estadual, parcerias para aumentarmos o número de cursos ofertados aqui em Oriximiná.”
Criado pela Lei Estadual nº 9.324, de 7 de outubro de 2021, o Programa de Educação e Formação Superior no âmbito do Estado do Pará, denominado “Forma Pará”, é coordenado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Educação Superior, Profissional e Tecnológica (SECTET), com o auxílio da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (FAPESPA), com a finalidade de fomentar a expansão da oferta de cursos superiores nos municípios paraenses, através de parcerias com prefeituras e instituições de ensino superior.
Mais informações sobre o Forma Pará AQUI.
Visite o site do Campus Oriximiná da Ufopa: http://www.ufopa.edu.br/oriximina/
Texto e fotos: Maria Lúcia Morais – Comunicação/Ufopa
04/04/2023, atualizada em 05/04/2023
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