Ultima atualização em 25 de Março de 2019 às 14:54
A semana de recepção aos calouros do Processo Seletivo Regular 2019 da Ufopa teve um dia voltado para os 27 novos alunos da educação especial. Na última sexta-feira (22), o Núcleo de Acessibilidade, vinculado à Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (Proen), preparou uma programação no Patifão, na Unidade Rondon, com o objetivo de apresentar a Universidade aos recém-chegados e promover a integração com os veteranos.
A manhã começou descontraída, com bate-papo e atividades culturais. O estudante do curso de História Rodrigo Pantoja fez uma apresentação musical e os alunos Anderson Araújo e Felipe Nogueira fizeram uma demonstração de jiu-jítsu. À tarde, a programação foi de cursos de Braille, Libras, soroban e orientações de mobilidade.
A coordenadora do Núcleo, Kassya Oliveira, disse que o evento também foi aproveitado para refletir sobre as vivências das Pessoas com Deficiência (PcDs) na Universidade. A equipe já havia feito um primeiro contato com os alunos no dia 13, para conhecer as particularidades de cada um e passar as orientações iniciais. “O nosso primeiro encontro era para saber qual o comprometimento que eles têm em função da deficiência e se eles precisam de algum auxílio para que a equipe possa pensar em estratégias de acompanhamento mais eficazes”, explica.
A Universidade tem pouco mais de 80 alunos identificados como PcDs, sendo a maioria surdos, cegos e com deficiência física. Para auxiliá-los, o Núcleo tem desenvolvido ações de monitoria, materiais didáticos e cursos voltados tanto para os PcDs como os interessados na temática.
Fábio Rafaete, calouro de Ciências da Computação, é cego e avalia positivamente os primeiros dias na Ufopa: “Desde o momento que eu passei no processo seletivo, eu já fui logo conhecer o Núcleo e fui bem recebido, fui tratado com bastante carinho pela equipe”. Ainda assim, ele tem ciência dos desafios do ensino superior, da área profissional que pretende seguir e da lida diária no espaço universitário: “Eu sei que não vai ser fácil todo o processo de adaptação, mas é uma área que eu gosto muito, que eu sempre sonhei pra mim, ser um grande programador”.
Desafios – “A pessoa com deficiência é deixada de lado. Já passou o tempo disso. O aluno [PcD] tem que receber o mesmo direito que os demais. [...] Eu espero que a Universidade consiga dialogar com os professores para que eles tenham essa consciência e também a consciência sobre a acessibilidade física dentro da Universidade, que já fui me deparando, principalmente a do Tapajós”, ressaltou o calouro.
Fábio já integra o recém-criado Diretório Acadêmico dos PcDs e afirma que “a união dos deficientes pela luta dos seus direitos é necessária para conseguir a acessibilidade”. O discurso foi reforçado na roda de conversa “Experiências de ensino superior dos veteranos aos calouros”, que tratou, sobretudo, dos desafios enfrentados no dia a dia.
Anderson, aluno surdo, está prestes a concluir o curso de História, mas ainda percebe a necessidade em estimular a comunicação entre surdos e os ouvintes, dentro e fora da Universidade. “As informações são muito precárias para os alunos surdos e eles acabam perdendo oportunidades. Nós precisamos estimular o acesso a informações dentro da Universidade e fornecer material visual para aqueles não são universitários para que eles possam também saber como ingressar”, comentou.
A coordenadora ressaltou que é preciso “provocar a Universidade para que se promovam mudanças”. “É uma luta que é de todos nós. Uma simples atitude de perceber o outro, de perguntar se ele quer ajuda, começa a ser uma relação de empatia para que a gente comece a incluir, mas ainda há outras questões – arquitetônicas, atitudinais, que precisam ser pensadas para saber como que eles estão inseridos dentro dessa estrutura”.
O diretor de Assistência Estudantil da Pró-Reitoria de Gestão Estudantil, Jonnes Pedroso, participou do evento e reforçou que também é fundamental estreitar os laços entre as pró-reitorias para que os próximos ingressantes encontrem condições mais favoráveis: “É de vital importância que haja um trabalho conjunto da Proges como um todo junto à Proen e ao Núcleo de Acessibilidade, para que se elaborem políticas de ações afirmativas voltadas para esse público, envolvendo questões além do acesso regulamentado nos processos seletivos, como estrutura física e projetos voltados a esse público”.
Daiane Carreiro iniciou a jornada na Ufopa no curso de Ciências Atmosféricas, mas acabou se submetendo a uma nova seleção para Direito, que cursa atualmente. Ela, que tem baixa visão, só ingressou como cotista PcD no segundo processo seletivo que fez. Para os calouros, a estudante deixou seu recado: “Que eles possam, independentemente do tipo e do grau de deficiência que tenham, ultrapassar essas barreiras e mostrar que também conseguem por humanos que são, por pessoas capazes que são e, acima de tudo, porque têm garra e força de vontade”.
Comunicação/Ufopa
25/3/2019