Ultima atualização em 8 de Janeiro de 2019 às 12:11
Entrevista com Cássia Maciel, pró-reitora da UFBA
A programação da VII Semana da Consciência Negra na Universidade Federal do Oeste do Pará continua até a próxima sexta-feira, 23 de novembro.
Nesta quarta, 21, começam as oficinas e os minicursos que destacam diversos temas ligados aos discursos da identidade negra, literatura, histórias, economia, saúde, entre outros, todos ligados à cultura negra. Entre os convidados para a programação, participam o líder negro Antônio bispo dos Santos (ativista político e militante negro reconhecido pelo seu trabalho no movimento, incluindo as obras poéticas e atuação como formador em atividades universitárias) e a pró-reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da Universidade Federal da Bahia, professora Cássia Maciel.
A programação é organizada de forma coletiva, reunindo a universidade e organizações: Pró-Reitoria de Gestão Estudantil (Proges), por meio da Diretoria de Ações Afirmativas; Projeto de Africanidades; Coletivo Quilombola (CEQ); Coletivo de Estudantes Negros da Ufopa Alessandra Caripuna; Projeto Cursinho Quilombola. O evento conta com apoio da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém; Pró-Reitoria da Comunidade, Cultura e Extensão (Procce); Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Tecnológica (Proppit) e Instituto de Ciências da Educação (Iced).
Na terça-feira, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a programação começou com a participação da Escola Afro-Amazônida da comunidade Murumuru, com a Banda Afro, seguida da palestra da professora Cássia Maciel: “Ações Afirmativas e antirracismo: negritude e resistência na Universidade”.
Em entrevista à Comunicação da Ufopa, a professora Cássia Maciel falou sobre a presença do racismo na sociedade e o papel da universidade nas ações de resistência.
Comunica Ufopa: Nesse momento em que celebramos o Dia da Consciência Negra, como se poderia refletir sobre o que é o racismo?
Profa. Cássia: Podemos conceber o racismo a partir de duas perspectivas que não são únicas. O racismo como um fenômeno estrutural, o que significa que ele está presente em dimensões constituintes da vida social, exemplo: da política, da economia e do acesso a direitos. E o racismo também com atitude intergrupal, individual e coletiva. Em ambas as situações, ele precisa ser combatido e combater o racismo, pelo menos na perspectiva da universidade, é buscar uma produção de conhecimento antirracista que desvele os mecanismos de naturalização da situação de hierarquização de pessoas negras aqui no Brasil, o que tem a ver com o acesso a status e colocações em espaços sociais de direito.
Comunica Ufopa: A senhora pode nos falar exemplos de como essa cultura racista está impregnada na cultura brasileira?
Profa. Cássia: Para nós é visível esse racismo estruturante. Se pensarmos, por exemplo, indicadores das políticas públicas na área de saúde, indicadores na área de educação, a própria composição do corpo docente das universidades, acesso ao mercado de trabalho, os números relativos à violência, que abrangem coletividades cada vez maiores, as situações de pessoas negras são extremamente precárias na nossa sociedade. Então, é isso que nós chamamos de racismo estruturante.
Comunica Ufopa: Na sua fala, durante a palestra, a senhora enfatizou que as diferenças sociais não são naturais. Como se podem desenvolver ações de resistência contra as diferenças sociais?
Profa. Cássia: O papel da universidade é fundamental a partir da reflexão sobre currículos, sobre projetos políticos pedagógicos, no sentido de formar profissionais cidadãos que tenham essa consciência de que a postura antirracista é uma atitude necessária a todos, independente da cor da pele, independente de origens sociais. O problema do racismo estruturante no Brasil é um desrespeito a negros e brancos, é desrespeito a toda a sociedade, não apenas a pessoas negras. Então, essa formação universitária mais voltada para uma certa reflexão sobre a estruturação da cultura racial, reflexão de como essa hierarquização e discriminação se manifestam, é muito importante em todas as áreas de conhecimento.
Comunica Ufopa: Professora, deixe uma mensagem para a comunidade acadêmica da Ufopa nessa VII Semana da Consciência Negra, que tem como lema "Negros e negras, ocupem seus espaços".
Profa. Cássia: É uma mensagem primeiro de agradecimento pelo convite para estar aqui e destacar esse papel da Universidade Federal do Oeste do Pará de uma formação continuada de um debate continuado. Já estamos na sétima semana, que venham outras semanas, que outras estratégicas para discutir esse tema possam ser desenvolvidas. Creio que esse é o caminho da universidade, que está comprometida em ser uma universidade antirracista: reconhecer que o racismo existe, reconhecer que ele pode ser combatido e que a universidade tem o papel estratégico nesse assunto.
Confira aqui a programação completa da Semana da Consciência Negra.
Comunicação/Ufopa
21/11/2018, atualizada em 8/1/2019.