Ultima atualização em 28 de Março de 2023 às 17:43
23 de março de 2023. Data histórica para Juruti (PA), que celebrou a colação de grau superior dos primeiros discentes formados pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) no município, localizado na região do Baixo Amazonas, na divisa com o estado do Amazonas, no norte do país. São 17 recém-formados em Agronomia e 12 em Engenharia de Minas, cursos de graduação (bacharelados) ofertados presencialmente no Campus Universitário de Juruti (CJUR).
Com cerca de 60 mil habitantes, Juruti é famosa pela exploração do minério de bauxita pela multinacional Alcoa. Também é conhecida pelo Festival das Tribos de Juruti (Festribal), evento realizado anualmente que resgata a cultura indígena por meio da disputa, em forma de espetáculo, das tribos Muirapinima e Munduruku. Agora, também começa a ser referência em ensino superior público, gratuito e de qualidade, com a formação dos primeiros profissionais graduados pela Ufopa, por meio de cursos presenciais ofertados regularmente.
“Sou de Óbidos e vim para Juruti para fazer o curso de Agronomia. Vim muito nova, com apenas 16 anos, tinha acabado de concluir o ensino médio. Sempre fui uma aluna esforçada e isso fez com que eu tivesse um bom desenvolvimento no curso, além do apoio dos colegas com quem sempre tive uma boa convivência. Esses fatores favoreceram para que eu tivesse a graça de me destacar na turma. E hoje estou representando, com muito orgulho, todos os meus colegas”, conta Andreysse Castro Vieira, de 22 anos, que obteve o maior índice de rendimento acadêmico da primeira turma de Agronomia do CJUR.
“Como Juruti é uma cidade mineradora, a gente tem bastante contato com a mineração. Antes da Universidade vir para cá, estudei no Senai, numa parceria com a mineradora local, e fiz cursos relacionados a mineração. Foi aí que eu descobri que queria trabalhar com isso. E quando surgiu a oportunidade de cursar Engenharia de Minas em Juruti, foi a primeira coisa que veio na minha cabeça. Eu já estava nessa linha de raciocínio, nessa possibilidade de profissão, e não me arrependo da minha escolha”, revela Cristiana Carla Santarém de Carvalho, que também obteve maior rendimento acadêmico da sua turma.
Para a engenheira recém-formada, o principal diferencial do Bacharelado em Engenharia de Minas da Ufopa é a sua localização geográfica, ou seja, estar situado no estado mais minerador do país. “O diferencial é ele estar localizado na região Oeste do Pará, no estado mais minerador do Brasil, que é o Pará, que está em ascensão, ultrapassando Minas Gerais”, afirma. “É um curso que tem uma excelente capacitação e tem muita demanda para trabalho”.
Força feminina – Outro diferencial é a representatividade feminina dentro do curso. “Diferente das dificuldades que as mulheres têm de entrar para a mineração, de trabalhar, por ser um ramo muito masculinizado desde sempre, sinto que em Juruti houve uma representatividade boa, feminina, e me sinto confortável nessa nova profissão que estou seguindo agora”, revela Cristiana de Carvalho. “O curso de Agronomia também tem uma mulher com o maior índice acadêmico da turma e eu acho muito importante essa representatividade”.
“E por falar em força feminina, preciso registrar que hoje estão sendo formadas 15 mulheres engenheiras de minas e agrônomas. Por vocês eu quebro o protocolo dessa cerimônia e para vocês eu faço uma fala específica. Minhas queridas, não será fácil. Vocês atuarão em áreas predominantemente masculinas em que as decisões e a autoridade de vocês serão questionadas a todo o momento. Mantenham o foco, tenham força, se ajudem e colaborem com outras mulheres. O mundo não está pronto para mulheres como vocês e ao entrar no universo corporativo acrescentem às suas atribuições a missão de ajudar a transformar essa realidade”, afirmou em seu discurso a vice-reitora Solange Ximenes, que presidiu a cerimônia.
“Quero ressaltar a força, a determinação, a luta de cada uma de vocês e a importante vitória nas suas carreiras profissionais que a conclusão dessa graduação representa. Não é pouca coisa e não foi simples chegar até aqui. Não foram só vocês. Cada diploma tem a trajetória de uma mulher que antecedeu vocês, uma mulher que ficou em casa, uma mulher que trabalhou dobrado em um ou mais empregos, que deu o suporte, que ajudou a cimentar esse sonho. O diploma é da mãe, da irmã, da avó, da tia. Ele é também dos homens que entenderam que ao apoiar os sonhos de vocês estavam contribuindo para uma mudança radical na nossa sociedade e nas áreas da Agronomia e da Engenharia de Minas”, declarou a vice-reitora.
Solange Ximenes também destacou em seu discurso o papel da Ufopa na formação de recursos humanos qualificados no interior da Amazônia, visando a fomentar o desenvolvimento sustentável na região. “Esse desenvolvimento passa, necessariamente, pela formação de recursos humanos de alta qualidade. E essa formação só é possível na universidade pública brasileira. O recrudescimento das estruturas de governo nos últimos anos fez com que a instituição universitária fosse tão atacada, mas a universidade resiste porque entende que parte do seu compromisso social é contribuir para diminuir as assimetrias regionais, ampliar as oportunidades de acesso à educação superior e ajudar a melhorar a vida das populações mais vulneráveis. Essa é a universidade pública que vocês estão ajudando a construir nos rincões desta gigantesca Amazônia”.
Só as mães são felizes – Com apenas dois anos de idade, o pequeno Miguel viveu um momento único: foi o paraninfo da mãe, Luciane dos Santos Palmeira, de 37 anos. Paulista, Luciane veio para Juruti há dez anos para trabalhar na mineradora local, mais especificamente no setor de embarque portuário de minério, e viu no curso de Engenharia de Minas da Ufopa uma oportunidade de crescimento profissional. “Valeu muito a pena o conhecimento e a experiência passados pelos nossos professores. Mas a emoção principal é ter conseguido finalizar esse curso dentro da primeira turma. Isso tem uma importância muito grande para mim, porque durante todo o curso eu tive muitos percalços”, lembra.
“Ninguém fala que teve dificuldades nas disciplinas básicas, mas eu tive. Depois veio o Miguel. A faculdade é de cinco anos, o Miguel tem dois anos, e isso dificultou bastante, para mim, a rotina de ser mãe, de trabalhar, de ser universitária. Então, é uma vitória hoje estar me formando”, comemora. “Para quem tem interesse no curso, digo que faça, porque é um excelente curso e você vai descobrir um mundo gigantesco de trabalhos e de atividades no Brasil”.
Natural de Juruti, Nilzete Marques Moreira, de 51 anos, mãe de cinco filhos, comemorou a formatura de dois deles: Frances e Edilcinete Marques Moreira, ambos recém-formados em Agronomia. “É uma emoção tão grande. Estou muito feliz e agradeço muito a Deus pelos meus filhos terem tido essa oportunidade de fazer um curso superior aqui”, comemora. “Eles perguntaram se a gente aceitaria, concordava, e dissemos que sim, que era para eles procurarem e ver como era o curso de Agronomia, que a gente iria dar todo o apoio, ajudar no que fosse preciso”, lembra.
“É uma emoção muito grande. A gente sempre teve o sonho de se formar e eu nunca teria coragem de sair da minha cidade em busca de uma universidade em outro local. Sou uma pessoa muito tímida e tive que enfrentar isso. Quando a Ufopa chegou aqui foi um sonho realizado. Estou muito feliz que eu e o meu irmão conseguimos, porque os nossos pais trabalham na agricultura e sempre foi o sonho deles que a gente se envolvesse nessa área também”, conta Edilcinete Marques Moreira, de 32 anos. “Primeiramente, vamos começar a trabalhar na terra do meu pai, que é o sonho dele. Então, vamos ajudá-lo na agricultura”.
Formatura – Compuseram a mesa de autoridades da solenidade a vice-reitora Solange Ximenes, que presidiu a cerimônia; a diretora do Campus Juruti, Celeste Rossi; o vice-coordenador do curso de Agronomia, Michelly Rios Arévalo; e o coordenador do curso de Engenharia de Minas, Matheus Diniz Pinto de Morais. Também participaram da cerimônia a paraninfa da turma de Agronomia, professora Dayse Drielly Souza Santana Vieira; e o paraninfo da turma de Engenharia de Minas, professor Adriano Olímpio da Silva.
Bacharelado em Agronomia – Turma 2017
Paraninfa: Profa. Dra. Dayse Drielly Souza Santana Vieira
Formados: Andreysse Castro Vieira; Camila Goudinho Bentes; Edilcinete Marques Moreira; Elber Neto Lima Diniz (orador); Fabiola Ribeiro da Silva e Silva; Frances Marques Moreira; Iago Alan da Silva Ferreira; João Marcos Batista de Souza; Jonathan Correa Vieira; Leidiane Andrade Vieira; Leonardo Viana da Silva; Luciane Lasle Cordeiro da Silva; Marcus Vinícius Alves dos Santos; Tatiana Santos Didier; Valdeiza da Silva Azevedo Carvalho; Valéria Lopes Amorim; Yves Caroline Andrade dos Santos.
Bacharelado em Engenharia de Minas – Turma 2017
Turma Prof. Dr. Francisco Arthur Pinheiro Alves Junior
Paraninfo: Prof. Dr. Adriano Olímpio da Silva
Formados: Ana Lídia Picanço Moreira; Cristiana Carla Santarém de Carvalho; Euller da Conceição Tavares; Feliph de Sousa Rocha; Frank Alano Gomes de Carvalho; Luciane dos Santos Palmeira; Luciano da Silva Leitão; Mairon Rodrigues Marques; Paulo Vitor Batista Galúcio; Raissa Farias da Silva; Sóstenes de Souza Moreira; Suelen Amoedo Mouzinho (oradora).
Texto e fotos: Maria Lúcia Morais – Comunicação/Ufopa
28/03/2023
Matérias relacionadas: