Ultima atualização em 9 de Fevereiro de 2022 às 00:16
Criado por meio da Portaria nº 10/2022, o grupo de trabalho (GT) “Águas do Tapajós” é composto por 33 pesquisadores e será presidido pela Profa. Dra. Iracenir Andrade dos Santos, do Centro de Formação Interdisciplinar (CFI), e terá duração de 6 meses, podendo ser prorrogado, se for necessário. Em reunião on-line ocorrida na sexta-feira, 25, foram definidas as ações do GT. Inicialmente, os pesquisadores reunirão suas publicações acerca de pesquisas já feitas no rio Tapajós, e esses dados serão apresentados às entidades que têm solicitado informações científicas à universidade.
De acordo com o artigo 3 da portaria, são atribuições do GT: a) avaliar os parâmetros físico-químicos que já foram coletados ou que ainda serão coletados das águas e solo do rio Tapajós; 2) emitir, no final das atividades, relatório ou laudo sobre as condições das águas do rio Tapajós.
O professor Ricardo Bezerra, do Instituto de Ciências da Educação (Iced), defendeu um “monitoramento contínuo do rio Tapajós” e também sugeriu a criação de um “plano permanente” de ação para realizar um estudo coordenado não só do rio, mas também da “fauna e da flora da região”.
A Profa. Iracenir reconheceu que o que ocorre em Alter do Chão “é um problema complexo” e completou: “Precisamos mesmo de um trabalho coordenado, com a participação de vários pesquisadores, para enfrentar esse problema; precisamos unir forças”, afirmou. Ela citou o projeto "Águas do Tapajós", que já atua no rio Tapajós realizando pesquisa científica. “Precisamos trabalhar em toda a cadeia produtiva, inclusive das pessoas, para realizar o trabalho com cuidado e segurança”, ideia partilhada pela Profa. Luciana Carvalho, do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS).
“A poluição causada pelo aumento da turbidez chama a atenção, mas a poluição invisível resultante de outras atividades precisa ser investigada e monitorada”, alertou a Profa. Dra. Rose Meira, do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA).
Parceira com Governo do Estado – Para o secretário Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), José Mauro de Lima Ó de Almeida, “a integração com a Ufopa consistirá em reunir e compartilhar informações para que possamos elencar quais as medidas de atuação e de fiscalização necessárias para a região. Nossa ideia é também reunir representantes da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e de todas as instituições que tenham pesquisas sobre o tema e estruturas necessárias, como laboratórios, para aprofundarmos os conhecimentos”.
Integrante do Laboratório de Biologia Ambiental da Ufopa, a Profa. Yngléa Goch pesquisa o tema desde seus estudos de graduação. “Essa é uma oportunidade de iniciarmos um monitoramento permanente da bacia do Tapajós”, diz ela, que vem acompanhando de perto essa questão desde 2018: “É importante também estudarmos os aspectos sociais e educacionais relativos à essa questão são necessários”.
Solicitação de informações – Seis agentes externos enviaram à Ufopa pedidos de esclarecimentos sobre a turbidez das águas. “Além da solicitação do Governo do Estado, nós recebemos pedidos de outros órgãos, como Ministério Público Estadual (MPE), Ministério Público Federal (MPF), solicitando informação sobre a mudança na cor das águas do rio Tapajós, IBAMA, ICMBIO e Polícia Federal”, informou o Prof. Bruno Batista, diretor de Pesquisa, que presidiu a reunião do GT.
O Prof. José Mauro Sousa de Moura sugeriu que seja feito um levantamento das publicações dos professores e discentes sobre o rio Tapajós. “Em seguida, já elencamos os projetos que estão realizando medidas (principais aspectos da qualidade da água) no canal principal do rio e seus afluentes”.
“O nosso papel como universidade pode ser decisivo para uma transformação dessa realidade do Tapajós”, concluiu o Prof. Luiz Reginaldo Ribeiro Rodrigues (Iced).
Próximos passos – No próximo dia 1º de fevereiro (terça-feira), às 14h, será realizada uma reunião on-line com representantes das seis entidades externas que solicitaram informações acerca das alterações na cor das águas do rioTapajós, principalmente na vila de Alter do Chão.
Integrantes do GT sugerem ações no contexto da bacia do Tapajós – Na última terça-feira, 1º de fevereiro, integrantes do Grupo de Trabalho da Bacia do Tapajós (GT) do Ministério Público do Pará (MPPA), formado por promotores de justiça da região Oeste e pela equipe do Centro de Apoio Operacional Ambiental (CAO Ambiental) do MPPA, conduziram uma reunião interinstitucional da qual participaram representantes de entidades governamentais e da sociedade civil da região Oeste do Pará. A promotora de justiça Lilian Braga, o promotor Túlio Novaes, a promotora Albely Miranda Lobato e o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará, Luiz Reginaldo Ó de Almeida, estavam entre os presentes.
A presidente do GT, Profa. Dra. Iracenir Andrade dos Santos, falou pela universidade. Ela disse que os pesquisadores já estão elaborando “um levantamento das pesquisas já realizadas e de novas pesquisas para identificar as causas da alteração das águas do rio Tapajós”.
Ela apresentou também os três eixos de trabalho do grupo: Eixo das Ciências Naturais, que reúne pesquisadores ligados à biodiversidade, análises ambientais, análises biológicas e análises geológicas; Eixo da Saúde, que realizará a descrição da situação da saúde, estudos epidemiológicos, avaliação dos efeitos da exposição ao mercúrio para a saúde humana e levantamento das doenças de veiculação hídrica; Eixo Comunidades, que estudará os impactos econômicos, os impactos sociais, o turismo e a pesca no rio Tapajós.
A professora destacou ainda a necessidade de construir uma matriz de dados e elaborar um levantamento das lacunas atuais: “Precisamos elaborar essa matriz de dados já publicados, por meio da reunião do que já foi feito, para então identificar o que ainda precisa ser feito a curto, médio e longo prazo para construir um programa de monitoramento na bacia do Tapajós. Este é um momento muito importante para que possamos nos unir e construir uma estrutura para que possamos dar contar dessa situação. A soma de esforços é fundamental para determinar a origem e o impacto do que está ocorrendo no rio Tapajós”.
Ela citou o projeto “Águas do Tapajós”, cuja primeira etapa está sendo encerrada neste primeiro semestre (2020-2022). Disse que o projeto já vem realizando pesquisas no Tapajós, há pelo menos dois anos, com sete pesquisadores da Ufopa de diversas áreas do conhecimento. “Fazemos coletas no perímetro Santarém-Itaituba, também fazemos análises físico-químicas das águas, analisamos a fauna e a flora de ictiofauna e dos ictioplânctons".
Terminou a sua apresentação com os seguintes questionamentos: Quais fenômenos estão contribuindo para alterar a cor da água? Qual o impacto disso na economia local, no turismo? Como isso afeta os pescadores? Como afeta a biodiversidade? Como o Hg [mercúrio] afeta as mulheres e crianças da área ribeirinha e indígena? Ela sugeriu também a criação de uma rede permanente de monitoramento da Bacia do Tapajós.
A Profa. Dra. Heloísa Nascimento, do Instituto de Saúde Coletiva (Isco) e do Projeto Águas do Tapajós, cujo foco da pesquisa está no estudo do índice de contaminação de mercúrio nas populações ribeirinhas, ressaltou a necessidade de se olhar para este tópico, no que se refere às populações urbanas da região amazônica. “Gostaria de reforçar a importância de estudar também a área urbana, pois nossos resultados já demonstraram que todos aqueles que consomem peixe frequentemente estão sob risco de desenvolver problemas de saúde decorrentes desta exposição. Então, neste sentido, moradores da área urbana também estão expostos, ou seja, o problema do mercúrio não afeta apenas comunidades ribeirinhas ou indígenas, mas todos aqueles que têm o hábito de consumir peixe frequentemente”. Ela acrescentou ainda: “Temos que ter uma preocupação também com mulheres, crianças e com os pescadores, pois, quando se fala de Hg [mercúrio], se fala de peixe, e sabemos que os peixes têm uma importância enorme do ponto de vista econômico, por serem fonte de renda e a principal fonte de proteína de uma grande parte da população que vive às margens do rio Tapajós”.
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Lenne Santos — Comunicação/Ufopa
31/01/2022, atualizada em 03/02/2022